Grito da terra e dos pobres na Amazônia chega ao limite, denuncia Pe. Dario Bossi
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
“Escrevemos ao Papa Francisco porque queremos apoiá-lo, agradecê-lo pela iluminação do Espírito com que escreveu a Laudato si’. E, também, pela mesma iluminação com que convocou o Sínodo para a Amazônia, que é filho dessa Encíclica. A CNBB enviou ao Papa uma carta de gratidão e solidariedade e, a nossa Comissão pela Ecologia Integral e a Mineração acrescentou um documento de aprofundamento, que destaca a atualidade da Laudato si’ nos tempos de hoje. Esse texto, inclusive, já foi traduzido e está circulando no Brasil e no exterior e é mais uma contribuição ao debate e ao compromisso.”
O Pe. Dario Bossi, em missão no Brasil há 15 anos, conhece a realidade vivida na Amazônia, sofre por ela e canalizou esse sentimento em sua defesa. O religioso faz parte da Comissão pela Ecologia Integral e a Mineração da CNBB e é fundador da Rede Igrejas e Mineração, um espaço ecumênico formado por cerca de 70 entidades da América Latina reunidas para trabalhar sobre os impactos culturais, religiosos e socioambientais da mineração nas comunidades.
Uma história recente e inspiradora
A Laudato si’, então, há 5 anos vem inspirando e conduzindo a buscar novas alternativas e formas de vidas para uma urgente conversão ecológica, em defesa e pelo cuidado da Casa Comum.
“A Laudato si’ foi escrita em 2015 quando se precisava despertar à missão do cuidado da Casa Comum nos cristãos e em todas as pessoas de boa vontade num momento bem delicado para a vida do planeta. Frente à emergência ambiental, as nações precisam e precisavam tomar decisões corajosas na COP21, lembremos, lá em Paris. Uma passagem decisiva para a tomada de decisões sobre a economia, sobre a política. E a Encíclica incidiu bastante nesse debate internacional.”
A mesma tempestade, barcos diferentes
Hoje, em 2020, depois de 5 anos da Laudato si’, acrescenta Pe. Dario, “vivemos um outro momento decisivo para o planeta no coração da pandemia de coronavirus que explicitou doenças graves que a Mãe Terra já sofria há muito tempo por causa da ação humana”. A agricultura sustentável, por exemplo, é mais importante que a mineração; torna-se urgente fortalecer a saúde pública, a educação pública e a cultura das comunidades, principalmente das mais vulneráveis neste período de crises.
“Nós entendemos que, nesta pandemia, todos estamos na mesma tempestade. Mesmo se, em barcos muito diferentes: alguns muito mais frágeis, outros muito mais fortes. Mais uma vez, os mais pobres estão sendo as maiores vítimas de um mundo desajustado que traiu o sonho de Deus. No Brasil, em particular, sentimos urgente concretizar essa Encíclica no contexto da Amazônia. O grito da terra e dos pobres na Amazônia chegou ao seu limite. Estamos bem próximos do ponto de não retorno, à beira da desertificação desse bioma. Todos os bispos brasileiros da Amazônia publicaram uma nota, em defesa da Amazônia, que foi traduzida em diversas línguas, até em “tucano”. A Repam também fez uma síntese da situação de todos os países da Pan-Amazônia e mostrou quanto nesse contexto os povos indígenas estão entre os grupos humanos mais ameaçados."
Semana Laudato si’
O cuidado e a proteção da Casa Comum têm sido motivados pela Semana Laudato si’ em toda a América Latina, com ciclos de conferências e a participação de especialistas de diversos campos, inclusive de representantes de outras igrejas cristãs, para compartilhar ideias e buscar respostas, sobretudo, à pergunta feita na Encíclica pelo Papa Francisco sobre qual mundo queremos deixar para as futuras gerações. No Brasil, os artistas também estão entrando no debate para pensar um outro mundo possível e de relação com a natureza. Segundo Pe. Dario Bossi, eles também são muito importantes nessa reflexão porque “a beleza e a arte são hoje, mais do que nunca, o antídoto às nuvens da morte e uma resistência à irresponsabilidade de vários dos nossos governantes”:
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