Dom Pizzaballa: como os discípulos no Cenáculo, não devemos voltar à vida de antes
Vatican News
“Devemos aceitar a ideia de um retorno muito gradual e não uniforme (...) Provavelmente devemos também perguntar-nos que tipo de normalidade teremos no futuro. Realmente, ainda será tudo como antes?”
É a reflexão do administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, dom Pierbattista Pizzaballa, O.F.M., que este domingo (31/05) celebrou a solenidade de Pentecostes na Basílica da Dormição da cidade santa.
Não queremos ser a Igreja da lamentação, mas da alegria
Em sua homilia, o prelado ressaltou que será preciso muita paciência para compreender o que fazer e como fazer, recordando que, séculos atrás, também os discípulos estavam assustados, trancados no Cenáculo, mas que o Espírito Santo os transformou.
Dirigindo-se aos cristãos da Terra Santa, o arcebispo foi incisivo: “Somos chamados a testemunhar, de todos os modos possíveis, com as obras e com palavras francas e livres, para além de todo medo, o amor pela vida nesta nossa terra onde, muitas vezes, a vida tem pouco valor e se morre por pouco. Somos convidados a ser alegres, sem lamentar-nos continuamente de tudo. Não queremos ser a Igreja da lamentação, mas da alegria. E a alegria é também a nossa missão”.
Sem desejo sincero de paz não seremos Igreja de Jerusalém
Em seguida, dom Pizzaballa acrescentou: “Enquanto nossas comunidades continuarem se dividindo sobre cada coisa, enquanto não soubermos perder um pouco de nós mesmos para acolher o outro com suas diferenças e também com seus limites, enquanto não nos comprometermos sinceramente em todos os contextos com a unidade – que é o cumprimento da glória de Cristo –, não seremos totalmente críveis quando falarmos de diálogo, encontro, paz e reconciliação. E não seremos Igreja de Jerusalém se não tivermos no coração um desejo sincero de paz”.
O administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém considerou que “durante várias semanas também nós estivemos trancados em nossas casas, em nossos cenáculos. E o medo caracterizou nossa vida durante muito tempo, e talvez não tenhamos saído disso totalmente”.
Igreja de Jerusalém: entrar numa nova perspectiva
E observou que muitas atividades ainda estão paralisadas, “a desorientação pelo ocorrido caracteriza ainda nosso falar” e “as frágeis perspectivas econômicas e sociais do futuro próximo nos preocupam sempre mais”.
Mas assim como o encontro dos discípulos com o Ressuscitado “não os reconduziu à vida precedente que eles tinham, mas “os fez passar a uma perspectiva completamente nova”, do mesmo modo hoje o Espírito pede à Igreja de Jerusalém “para entrar numa nova perspectiva. Não para procurar voltar à mesma vida de antes”.
Escrutar nossos corações e ler os sinais dos tempos
Segundo dom Pizzaballa é preciso deixar-se conquistar pela novidade que o Espírito doa continuamente, por isso exortou:
“Somos convidados a escrutar nossos corações para compreender onde ele nos quer guiar, a ler os sinais dos tempos, a colocar-nos à escuta das instâncias que surgem das nossas várias realidades de vida, a avaliá-las com a oração e à luz da Palavra de Deus.”
Vencer todo medo, toda solidão, repletos de alegria
E prosseguiu precisando que se trata de atravessar a dramática realidade que estamos vivendo “com o ânimo de quem tem confiança no poder da ressurreição de Cristo e por isso está disposto a entrar em ação novamente a fim de colaborar para construir o Reino, vencendo todo medo, toda solidão, repletos de alegria”.
O arcebispo italiano da Ordem dos Frades Menores ressaltou que o Evangelho nos diz de que coisa e como partir novamente: vida, alegria, missão, perdão, e paz.
Viver no espírito do Ressuscitado e testemunhá-lo sem medo
“O fiel (...) não evita a cruz, que sempre existirá, mas é também conquistado pelo perdão do qual fez experiência”, observou. “Nestes meses fizemos a experiência de que se pode viver também sem muitas das atividades pastorais e sociais que acreditávamos indispensáveis.”
“Talvez agora, ao retomar as atividades, entendemos melhor o que, ao invés, é realmente indispensável: viver no espírito do Ressuscitado e testemunhá-lo sem medo”, concluiu dom Pizzaballa.
Vatican News - TC/RL
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