Crianças na Paraíba ganham máscaras como gesto simbólico para prevenir a Covid-19
Luiz Felipe Bolis - Pascom Massaranduba
Um sol de raios tímidos desponta no céu de Massaranduba, cidade da região metropolitana de Campina Grande, como mais um presente de julho. Diferente do dia anterior, bastante nublado, neste as chuvas de inverno ainda não molharam o solo da cidade paraibana de aproximadamente 14 mil habitantes.
Socorro Brito, 58, por um instante analisa o cenário de fora pelas brechas do portão. Logo vê um 17 de julho ensolarado e de temperaturas amenas numa perfeita ocasião para, enquanto líder da Pastoral da Criança, ir ao encontro do público infantil da comunidade - e com todas as precauções possíveis - para concretizar um gesto simbólico: distribuir máscaras às crianças entre 2 e 6 anos de idade, o público-alvo da Pastoral, que também atende os bebês em seus primeiros anos de vida. Mas que, segundo as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não apoia que esses façam uso do equipamento de proteção devido aos riscos de falta de ar e sufocamento para menores de 2 anos.
O mutirão na produção das máscaras
Em tempos de coronavírus, Socorro e os demais membros da Pastoral da Criança no município se mobilizaram para a confecção de oitenta máscaras que foram entregues em datas alternadas nas quatro comunidades de atuação do grupo. “Ser da Pastoral da Criança é viver essa ação bonita com as famílias, com as crianças, passar essa evangelização junto com todos. A gente vai aprendendo muitas coisas dentro dessa caminhada pastoral, que eu amo muito”, diz ela.
Socorro aguarda alguns instantes pela chegada do outro líder. Juntos, rezam uma Ave Maria e consagram à Mãe de Deus a missão daquela manhã. Acima de tudo, desejam semear pelo caminho frutos de amor e de esperança no solo fértil dos corações das crianças e de suas respectivas famílias, gerando fé em meio aos desafios atuais. Seguem, então, guiados pelo lema da Pastoral da Criança e pelas palavras de um Cristo feito homem “para que todos tenham vida e a tenham em plenitude” (João 10, 10).
A reação das crianças
Ao serem recepcionados nas casas, os rostos das crianças brilham de alegria em meio a um semblante acanhado pela surpresa que lhes espera. Os pequenos passam álcool em gel nas mãos e observam, com um olhar hipnotizante, o vai vem dos dedos. Quando questionados sobre a finalidade do composto químico nas mãos, dizem uníssonos: “pra matar o coronavírus”. Pegam a máscara condizente com os seus tamanhos e experimentam: “está de bom tamanho!”. Não se intimidam em usar o acessório.
Diferente de muitos adultos e idosos, os pequeninos visitados demonstram maturidade ao apontarem a importância do uso da máscara como barreira de proteção e ao compreenderem a necessidade de seguir as normas vigentes, mediante a pandemia que eclodiu no mundo inteiro, deixando rastros visíveis nos âmbitos sociais, religiosos, econômicos, educacionais e em todos os campos como um todo. Mesmo assim, elas transmitem uma edificadora lição à medida que lidam com otimismo o momento presente, com um sorriso no rosto e com a pureza de criança que lhes é própria.
“Eu achei muito bonito e muito importante esse trabalho, que tem tudo a ver com o que a gente está passando. É muito importante a gente usar a máscara e passar o que deve se fazer para as outras pessoas. Com meus filhos, eu coloco a máscara, eu uso álcool em gel. Quando chego da rua, tiro a máscara pra lavar, lavo as mãos deles, dou banho neles, tiro a roupa pra lavar, coloco roupas limpas. Sempre tem higiene com eles, na casa, com a roupa, com tudo”, afirma Débora Costa, 36, mãe de duas crianças e dois adolescentes. O pequeno Jhonatan, de 3 anos e 9 meses, parece ter ficado satisfeito com a singela lembrança.
Como surgiu a ideia
“Nós, que fazemos a Pastoral da Criança da Paróquia Santa Teresinha, vendo a expansão da pandemia em nossa cidade, tivemos a ideia de distribuir máscaras para nossas crianças. Através das redes sociais combinamos, e logo um dos líderes se empenhou em encontrar uma voluntária para a confecção das mesmas”, pontua Célia Lima, 60, coordenadora do serviço pastoral em Massaranduba. Através de recursos repassados pelo setor diocesano da Pastoral da Criança, foi possível adquirir os materiais necessários: quatro metros de tecidos se transformaram em oitenta máscaras de tamanho pequeno, direcionadas às crianças acompanhadas pelos grupos da Pastoral na cidade.
Rosinha Potyra, 54, é a costureira responsável pela produção das máscaras, de forma voluntária. Ela, que desde o início da pandemia já doou centenas delas para os carentes e necessitados do município, incluindo as que costurou para o gesto realizado pela Pastoral, sublinha que ajudar os outros sempre foi uma das maiores alegrias da sua vida. “Eu me sinto muito feliz quando eu posso ajudar uma pessoa. Se eu pudesse fazer muito mais, eu fazia”, enfatiza a amazonense de Santa Isabel do Rio Negro, nos limites entre Brasil e Venezuela. Rosinha serviu por longos anos à Pastoral da Criança em suas terras natais, levando consigo esse carisma ao se mudar com a família para a Paraíba.
Aos poucos, cada uma das máscaras veste o rosto das oitenta crianças beneficiadas. Por ora, as famílias, os membros e os que compõem a rede de laços da Pastoral da Criança em Massaranduba ressoam um só desejo: que a pandemia se extinga o quanto antes dos meios sociais para que tão logo a segurança e as ações evangelizadoras sejam restabelecidas.
Sobre a Pastoral da Criança
Criada em 1983, no Paraná, pela médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, a Pastoral da Criança é um organismo de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Pastoral da Criança trabalha com eixos como saúde, nutrição, educação e bem estar da criança, do ventre materno aos 6 anos de idade completos. O líder é o principal agente da organização, uma vez que lida diretamente com o público-alvo enquanto representante da Igreja Católica nas visitas e “celebrações da vida”, que são encontros mensais nas comunidades para o público infantil, gestantes e famílias acompanhadas. Hoje, a Pastoral da Criança está presente em todo o Brasil e em mais de dez países, levando a luz da fé a muitos corações e buscando promover uma conscientização geral quanto às questões de saúde que permeiam, sobretudo, o universo da criança.
Colaboração: Diocese de Campina Grande
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