Festa do padroeiro da Cidade de Campos tem programação adaptada ao tempo de pandemia
Ricardo Gomes – Diocese de Campos
A pandemia não prejudicou a realização da tradicional Festa do Santíssimo Salvador, Padroeiro da Cidade e da Diocese de Campos. A 368ª edição da festa terá adaptações com as missas do novenário realizadas com restrição de fiéis e o dia 6 de agosto a procissão que reúne milhares de devotos de toda a região será adaptada a uma carreata que parte da Catedral Basílica Menor do Santíssimo Salvador às 19h logo após o Bispo de Campos, Dom Roberto Francisco Ferreria Paz abençoará os quatro cantos da cidade, uma tradição que acontecia na acolhida dos fiéis que percorriam as ruas acompanhando o Padroeiro em preces ao Santíssimo Salvador.
As missas do Padroeiro acontecem em vários horários. Para devotos o importante é realizar a festa e este ano com um pedido muito especial: o fim desta pandemia. Esta será uma festa diferente, mas a mesma fé e devoção da comunidade campista. O bispo de Campos, dom Roberto Francisco Ferreria Paz lança um apelo a todos a se unirem em orações e suplicas para que Cristo possa ser a luz a iluminar este tempo de medos e incertezas.
"Nós queremos que nesta pandemia brilhe para nós essa luz e que Jesus possa tocar a cada coração, cada família e a alma da cidade para banhá-la com essa vida plena e nos dar esperança da vitória sobre a doença e sobre o vírus e possamos renascer e ser essa cidade formosa e iluminada pelo Santíssimo Salvador" – pontua dom Roberto Francisco.
Esta tradição religiosa completa 368 anos de história de fé e de devoção. A festa resgata e preserva o legado da presença da igreja católica e a Catedral Basílica Menor do Santíssimo Salvador, cartão postal da cidade acompanhou as transformações do espaço urbano. O Jornalista e Assessor Diocesano Antônio Filho destaca a tradição e a história da devoção no Santíssimo Salvador.
"Trata-se de um evento que revela muito sobre a identidade religiosa do povo campista. A celebração começou na Freguesia de São Salvador, mais tarde transformada na Vila de São Salvador de Campos e, desde 1835, na cidade de Campos dos Goytacazes. Em todo esse tempo, a comunidade sempre expôs, com orgulho, a fé pelo Cristo Salvador. O novenário abre a festa que, no dia 6 de agosto, através da procissão, mostra a beleza da manifestação do amor de um povo por seu padroeiro, com uma multidão pelas ruas da cidade, junto da imagem do Santíssimo Salvador" – destaca Antônio Filho.
Fiéis relatam das experiências de vivencia da fé neste tempo de Pandemia e de isolamento social. E as tradições da Festa do Santíssimo Salvador foram adaptadas, mas o mais importante é manter as celebrações das missas. Rosana de Jesus de Souza fala que este ano teve de acompanhar as missas do novenário de casa.
"A pandemia que assola o mundo tem diariamente nos apresentado circunstâncias há pouco inimagináveis, e uma delas e a forma de mantermos e recriar a nossa fé e as tradicionais festas religiosas. Há alguns meses jamais imaginaria poder participará da 368ª festa do Santíssimo Salvador através de canais virtuais, mas se assim o momento exige, assim mantenho meus joelhos no chão, e diretamente do meu lar agradeço as infinitas bênçãos já recebidas e rogo ao Santíssimo Salvador que instrua todos os cientistas para que desenvolvam com eficácia a cura para este vírus. Rogo também por toda a humanidade, para que reveja seus valores, conceitos e fortaleça sua fé. Mesmo de forma extraordinária, temos a oportunidade de manter a tradição dessa festa secular e continuar nos alimentando dos ensinamentos do Pai", revela Rosana.
Para o Museólogo Carlos Freitas a festa do Santíssimo Salvador é de muitas formas, importante, pois além de seu significado religioso, carrega consigo tradicionais manifestações e nos remete aos primeiros colonizadores da região. É a manifestação religiosa mais antiga e a que se pode chamar de testemunha da criação da cidade/município.
Tradição portuguesa a Festa do Santíssimo Salvador traz em seu memorial a presença do fundador da Vila que deu origem a cidade de Campos dos Goytacazes foi o empreendedor português Salvador Corrêa de Sá e Benevides relata a Historiadora Sylvia Paes. A festa setecentista se iniciava com missa às quatro horas da manhã, seguida da ladainha - Te Deum e das cerimônias religiosas, culminadas pela procissão. A parte profana encerrava as festividades com retretas das Bandas Lira de Apolo, Guarany, Operários Campistas e queima de fogos.
"O Jornal Monitor Campista também nos lembra das Procissões seguidas das apresentações das Bandas de Música, hoje centenárias, nas famosas retretas, com competições entre elas para ver quem tocava mais e melhor. O público se deleitava com tudo isso durante os passeios, onde o sagrado e o profano se harmonizavam. O cenário de toda festa é, e sempre foi, a praça principal com a Catedral Diocesana a fundo, ladeada por edificações centenárias, o que nos garante o poder temporal. Somos quem somos, por habitarmos uma cidade com histórias consolidadas, escritas desde os primeiros anos da era moderna", relata Sylvia.
Tradição e fé: aspectos culturais da festa do Santíssimo Salvador
A festa do Santíssimo Salvador é, tradicionalmente, um marco na cultura campista. Celebração de fé, mas também da história que caracteriza a formação dos Campos dos Goytacazes desde os seus primeiros anos, a festa é, ainda hoje, a representação no presente das continuidades que a história permite, mesmo diante de tantas transformações – aceleradas pela globalização. Dessa forma, revivemos e damos continuidades a uma tradição iniciada ainda no período colonial, quando a vila de São Salvador era o centro da capitania da Paraíba do Sul.
Erguida em plena Praça Quatro Jornadas no ano de 1745, a igreja que hoje vemos foi levantada depois que a primeira - construída onde atualmente está a Igreja de São Francisco -, já não apresentava mais condições de abrigar a matriz. Essa primeira construção, uma rústica igrejinha formada por paredes de entulho e teto de palha, passou à condição de Matriz com a criação da Vila de São Salvador pelo segundo Visconde de Asseca, em 29 de maio de 1677, mas já aparece mencionada nos documentos da Câmara Municipal desde 1652, ano em que foram eleitos os vereadores para a primeira Câmara local.
Desde a criação da igreja em homenagem a São Salvador, à criação da Praça no século XIX, a festa segue como símbolo que caracteriza, historicamente, a fé e a cultura presentes na sociedade campista. Elemento passível de preservação, posto o seu caráter de registro da cultura imaterial e das tradições locais, a festa do Santíssimo Salvador é um dos elementos basilares que caracteriza o ser campista. – destaca Rafaela Machado - diretora do Arquivo Público Waldir Pinto de Carvalho.
Foto: Antônio Filho
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