Seminário do Rio dá destaque à comunicação da Santa Sé durante a pandemia
Arquidiocese do Rio de Janeiro
Num período em que todos precisaram fechar as portas de casa devido à necessidade de isolamento social, as mídias sociais, certamente, foram janelas que se abriram para uma conexão com o mundo ao redor. Dessa forma, visando refletir sobre as experiências desse momento, a partir do tema “Mídia e religião: as novas concepções de relação com o sagrado”, a Arquidiocese do Rio de Janeiro, por meio do Vicariato para a Comunicação Social, promoveu a 7ª edição do Seminário de Comunicação, que aconteceu entre os dias 22, 23 e 24 de outubro e, pela primeira vez, num ambiente totalmente virtual.
Outra novidade é que o evento não se resumiu apenas aos três dias de formação. Assim, todos os inscritos participarão de um curso anual, que só findará em outubro do próximo ano, com formações mensais acerca do tema comunicação social.
A importância da mídia social
Na abertura do evento, o cardeal Orani João Tempesta destacou que o encontro é uma oportunidade para avaliar a experiência por meio das mídias sociais. “O seminário tem sido um momento de serviço à Igreja, levando as pessoas a pensarem a comunicação dentro das várias realidades atuais. O tema reflete o momento da história em que vivemos: nunca tivemos tanto trabalho com a mídia social como agora. Sempre falamos da importância dela, de como utilizá-la para chegar às pessoas, e vejo que esta é uma oportunidade para que façamos uma avaliação e vejamos quais são as contribuições e experiências com relação a esse momento”, disse.
Para Padre Arnaldo Rodrigues, vigário episcopal do Vicariato para a Comunicação Social, há uma mudança na maneira de se relacionar, impulsionada pela pandemia. “É com muita alegria que acolhemos a todos. Esse ano é bem diferente, mas não podíamos deixar que o seminário passasse. Já vivemos a realidade do tema proposto para este ano. Mesmo virtual, estamos juntos, refletindo junto com grandes profissionais da área. No Brasil e no mundo, vimos uma mudança no modo de se relacionar com Deus, com o mundo, consigo mesmo, com o próximo. Isso tem refletido muito, não somente nas mídias, mas também no nosso encontro com os demais”, argumentou.
'Uma nova expressão de eclesialidade'
A primeira palestra do seminário foi ministrada pelo jornalista, tradutor e consultor em comunicação para diversas entidades civis e religiosas Moisés Sbardelotto, que discorreu sobre o tema “Religião e rede: a comunicação da fé na pós-pandemia”. Segundo ele, “a ideia de falar sobre a comunicação e a fé na pós-pandemia são partir um pouco da realidade em que todos nós estamos vivendo como pessoas, mas também como Igreja, sendo essa uma nova forma de presença, graças ao digital. Assim, também podemos pensar numa nova expressão de eclesialidade. Mesmo com o fechamento das nossas casas, com os confinamentos, conseguimos e, de algum modo, fomos chamados a ‘sair para fora’ por meio digital. Mantivemos, de alguma maneira, nossas relações pessoais, mas também como irmãos e irmãs de fé. Assim, tem-se uma perspectiva da religião em/como rede”, afirmou.
A segunda conferência abordou a temática do “Monitoramento de redes sociais, análise de redes e ferramentas para pesquisa”, ministrada pelo pesquisador e analista de monitoramento de redes sociais Edson Andrade. O conferencista alertou sobre o cuidado necessário para com os dados pessoais nas mídias. “Temos o costume de participar de jogos de perguntas e respostas nas mídias sociais. Em tudo isso, geramos dados. Dessa forma, damos gratuitamente nossas informações pessoais e, assim, as plataformas os vendem e enriquecem. Nossos dados são armazenados nos servidores e, a partir disso, as publicidades são vendidas. Sempre geramos dados. Devemos pensar bem, antes de preencher cadastros, para onde irão esses dados. Com eles é possível fazer muita coisa”, salientou.
Redes sociais: um impulso na pandemia
Já no segundo dia, a terceira conferência do seminário abordou sobre o tema: “Twitter e melhores práticas”, ministrada pelo gerente de políticas públicas do Twitter no Brasil, Fernando Gallo. Sobre a plataforma, ele explicou que “cada vez mais, o debate público tem acontecido no Twitter. Esse é o lugar que tende a ser, no melhor dos sentidos, disputado. É como se ele fosse uma praça pública onde os debates acontecem cada vez mais. E o nosso propósito é servir a essa conversa pública. O Twitter é uma plataforma pública, no sentido de que todos podem ver tudo, inclusive, quem não tiver conta na plataforma também pode acessar aos conteúdos. Além disso, também é uma plataforma de conversas, uma vez que qualquer pessoa pode conversar com outra, sem necessariamente se seguirem”, esclareceu.
“5 Dicas sobre a Comunicação Digital no novo Normal” foi o tema da quinta conferência, ministrada pelo diretor do Workplace by Facebook na América Latina, Adriano Marcandali. De acordo com ele, alguns comportamentos adquiridos no isolamento tendem a permanecer num período pós-pandemia. “As pessoas passaram a usar as redes para aprender coisas novas e desenvolver habilidades, o que se tornou uma tendência, assim como o apoio da sociedade relacionado ao negócio local: o mercado do bairro, a floricultura da esquina. Essa solidariedade continua e o apoio é fundamental. Para isso é necessário que os microempreendimentos estejam no meio digital. Em determinados momentos, muitas pessoas tiveram medo de sair de casa. Assim, muitos serviços de entrega tiveram um aumento significativo. Para o período pós-pandemia, alguns comportamentos adquiridos no isolamento tendem a permanecer, como a compra on-line, os exercícios em casa, serviços de entrega de comida, pagamentos via celular, videoconferências e o trabalho em casa”, completou.
'Isolamento não implica distância'
O terceiro dia de seminário teve início com a quinta palestra, intitulada “Comunicação, Igreja e Sociedade”, ministrada pelo conferencista Filipe Montargil, professor da Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, em Portugal. Montargil utilizou o aplicativo Be my eyes para exemplificar a importância da comunidade diante das necessidades dos demais. Composto por pessoas com deficiência visual e visão limitada, em conjunto com voluntários sem deficiência, através do aplicativo, por meio de uma chamada de vídeo, os voluntários podem ajudar às pessoas com deficiência desde a combinação de cores até a checagem de luzes acesas ou preparo do jantar. “O desafio da comunicação está mais em comunicar às pessoas que precisam do que as que estão disponíveis para ajudar. Já temos uma comunidade disponível para contribuir, muito maior do que as necessidades que chegam até ela. Devemos pensar na filosofia do aplicativo e se ela pode ser utilizada para ajudar em outros problemas, como a necessidade dos demais”, destacou.
A comunicação da Santa Sé
A sexta e última conferência tratou sobre a “Comunicação da Santa Sé e do Papa durante a pandemia e o que será depois da pandemia”, conduzida pela vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé, Cristiane Murray.
De acordo com ela, “o Papa não nos deu uma resposta fixa acerca do que fazer, mas ele permitiu que o Espírito Santo gerasse em nós a criatividade para fazer o que fosse preciso. Assim, optamos pela transmissão das missas do Papa na Casa Santa Marta, transmitidas diariamente pelo 'Vatican News'. O Papa passou a entrar todos os dias na nossa casa. Aqui, na Itália, até o canal estatal transmitiu as celebrações. O isolamento não podia implicar em uma distância, o Papa queria estar próximo naquele momento. Essas missas acompanharam a solidão e nos deram muitos resultados inesperados: tivemos mais de 15 milhões de visualizações no YouTube, 8 milhões no site e outros milhões incalculáveis na televisão. A partir disso, percebemos que seria um tempo diferente, que a Semana Santa não seria a mesma. Mas já tínhamos respostas de pessoas que não praticavam a fé católica, mas que estavam conosco naquelas missas”, comentou.
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