A Mãe de Deus na arte. O desafio de traduzir em imagens um dogma
Vatican News
O desafio de traduzir em imagens o mistério da Virgem que dá à luz ao Salvador. A arte tem sido capaz de aceitar este desafio, cumprindo a função auxiliar de Biblia Pauperum desde o século VI, quando a iconografia da Theotokos, a Mãe de Deus, começou a se espalhar, representando o dogma proclamado no Concílio de Éfeso do ano de 431.
Oriente: Virgem do Sinal
O ícone prototípico é o chamado Platytera ou Balchernitissa, representado na Basílica de Constantinopla. É conhecida como a Virgem do Sinal: tem os braços abertos e carrega, no centro de sua figura, o Menino Abençoado. O iconógrafo padre Gianluca Busi, pároco e professor da Faculdade Teológica de Emilia Romagna, explica ao Vatican News que a Mãe do Sinal reúne dois modelos: o primeiro vem das Catacumbas de Priscilla e é o da chamada "mulher orante". Trata-se de uma figura vestida de púrpura com as mãos levantadas em forma de "U" em sinal de oração. O segundo modelo parece ser a vidente dos mistérios Eleusinos", os ritos religiosos de mistérios que eram celebrados todos os anos no santuário de Deméter, na antiga cidade grega de Elêusis. Enquanto a vidente pagã com as mãos estendidas para tocar as palmas da divindade era uma representação de êxtase, a Virgem também está conectada ao mistério de Deus, mas "esta conexão - continua padre Busi - é traduzida no sentido cristão através da geração do Filho de Deus". De fato, o Menino é colocado dentro de um disco dourado, ou clípeo". A iconografia da Virgem do Sinal permaneceu em uso na Igreja Ortodoxa mesmo após o cisma de 1054 e até os dias de hoje.
Ocidente: Nossa Senhora do Parto
Ao passo que no Ocidente, a representação da Mãe de Deus assume características diferentes. "A Queda de Constantinopla em 1204 provocou uma diáspora dos mestres bizantinos que chegaram à Itália, em contato com a teologia pré-escolástica, dando vida à chamada escola italiana". Assim nasceu o modelo de "Nossa Senhora do Parto", elaborado entre os séculos XII e XIII. Inicialmente estas imagens não muito difundidas", recorda o padre Gianluca Busi, "representam a Mãe de Deus grávida, sentada ou em pé, com uma barriga muito visível. Nossa Senhora tem em suas mãos um livro aberto sobre a profecia de Isaías: o próprio Senhor lhe dará um sinal. Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, a quem chamará Emmanuel (Is 7,14). Muitas vezes ao lado de Maria são pintados dois vasos contendo lírios, o símbolo de Jesus, assim como de virgindade".
Nossa Senhora grávida com os anjos
A mais famosa "Nossa Senhora do Parto" é o afresco pintado entre 1455 e 1465 por Piero della Francesca para o Cemitério de Monterchi”, na província de Siena. Na pintura, considerada uma das mais altas expressões da Renascença, a Virgem está grávida e, de pé, no centro de um baldaquino de brocado, enquanto acaricia e protege sua barriga com a mão direita. Ao seu lado estão dois anjos que abrem a cortina permitindo aos fiéis contemplar Maria. É significativo o lugar onde o artista pintou a obra: um cemitério. "Esta Nossa Senhora - observa padre Gianluca Busi - assim como gerou Jesus, hoje ela se regenera para uma segunda vida, para a eternidade, seus filhos adotivos, especificamente todos os que repousam no Cemitério de Monterchi".
São imagens que alcançam imediatamente o coração e o espírito dos que as contemplam ao longo dos séculos pois deram forma à Mãe de Deus. Obras capazes de se colocar ao serviço da liturgia e quebrar todo obstáculo entre os fiéis e o significado do dogma. "Desde o século VI o patrocínio teológico - conclui Busi - trabalhava em estreito contato com os artistas, fornecendo-lhes as chaves para compreender os textos sagrados e traduzi-los em imagens. Esta grande osmose tornou possível e fácil a tradução do texto em imagens. Algumas vezes aconteceu também o contrário: a imagem em sua eficácia ajudou a expressão da reflexão teológica".
Vatican News Service - PO
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