Venezuela: Peregrinação virtual da Divina Pastora pelo fim da pandemia
Alina Tufani - Vatican News
Dos tempos da cólera aos tempos da Covid-19, passaram-se 165 anos, anos em que se realiza a peregrinação da Divina Pastora na Venezuela, a segunda maior da América Latina, e que teve sua origem na confiança e devoção de um povo a Maria, sua mãe, para interceder diante de Deus pelo fim de uma epidemia e pela saúde de todos. Nesta terça-feira, 5 de janeiro, véspera da Epifania, como todos os anos, com uma celebração eucarística, haverá a descida solene da imagem da Divina Pastora de seu retábulo para colocá-la em um trono a poucos passos da entrada de seu Santuário na cidade de Santa Rosa. Desta vez, não será ela quem fará a peregrinação à cidade de Barquisimeto, como todo dia 14 de janeiro, mas seus fiéis devotos que farão uma peregrinação virtual pela primeira vez para se prostrarem a seus pés.
Rota da Esperança
“Peregrinação da Misericórdia, esperança e consolo” é o lema da 165ª peregrinação que, de 6 a 14 de janeiro, inspirará a Novena de preparação, a “Rota da Esperança”, em que cada dia, apoiada pelas redes sociais e pelos meios de comunicação, aprofundará as litanias do Santo Rosário e se elevará diante de Deus, por intercessão da Divina Pastora, uma oração pelo fim da pandemia de coronavírus e uma autêntica promoção do desenvolvimento e libertação espiritual do povo de Deus.
“Iremos virtualmente a Santa Rosa, sem sairmos de nossas casas. Cada dia significará um passo mais próximo à nossa mãe que ansiosa nos espera. Faremos então uma oração comum à nossa mãe. (...) Faremos uma oração à nossa Divina Pastora para que cesse a pandemia da Covid-19, e diante de sua imagem prometemos que no momento oportuno, buscando o maior bem e segurança de todos, a levaremos a Barquisimeto para sua visita de número 165, como se fosse um tradicional 14 de janeiro e neste dia todos pagaremos a promessa à boa mãe, acompanhando-a em sua peregrinação”, lê-se na nota da Comissão Organizadora Central da Festividade Litúrgica da Divina Pastora.
Da Novena ao Festival em modo virtual
O tema desta peregrinação será aprofundado em comunhão com o Papa Francisco, que acrescentou três novas litanias (Mãe da misericórdia, Mãe da esperança e Consolo dos migrantes) às já conhecidas litanias do Santo Rosário. Portanto, a Peregrinação virtual propõe em sua “Rota da Esperança” aprofundar em cada estação os seguintes temas: Mãe da misericórdia, Mãe da esperança, Espelho de justiça, Causa de nossa alegria, Saúde dos enfermos, Consolo dos migrantes, Ajuda dos cristãos, Rainha da família e Rainha da paz.
A Comissão organizadora confirmou que as atividades que há anos acompanham esta peregrinação mariana serão realizadas virtualmente: o festival musical com as bandas e peças dos vencedores do concurso anual, o prêmio do Concurso de Desenho Infantil, a apresentação do novo Mosaico dos peregrinos realizado com as fotografias enviadas pelos fiéis das procissões anteriores, de suas famílias ou pessoais, a Expo-Carisma, de 7 a 9 de janeiro, que de forma virtual apresentará cada carisma através de um fórum e conferências virtuais, ao vivo, onde os jovens poderão interagir com perguntas e respostas, e a Orquestra Mavare da UCLA, também em modo virtual, oferecerá a tradicional Serenata à Divina Pastora e animará a liturgia da Eucaristia da Descida da Imagem.
Os momentos centrais serão a noite do dia 13, a Vigília de Oração que será um recital de oração e música, de diferentes cantores e autores, sacerdotes, religiosos e leigos que acompanharão a celebração, alguns presencialmente do Santuário e outros de suas casas, em diferentes lugares da Venezuela e do mundo. No dia 14, às 7 horas da manhã, será celebrada a Eucaristia, presidida por dom Victor Hugo Basabe, administrador apostólico de Barquisimeto, na qual, devido à pandemia, não haverá presença dos fiéis, exceto aqueles necessários para o serviço litúrgico.
A novidade desta edição será a homenagem dos migrantes. Na tarde do dia 14 de janeiro haverá um encontro dos migrantes com a Divina Pastora, unidos através das plataformas e redes sociais de diferentes partes do mundo. Mais de 5 milhões de venezuelanos emigraram da Venezuela somente nos últimos dois anos, uma multidão de fiéis que, em busca de uma melhor qualidade de vida, fugindo da crise humanitária, não deixam de encontrar na fé o seu melhor caminho.
A Divina Pastora e a epidemia de cólera
A veneração pela Divina Pastora remonta a 1736, quando o pároco de Santa Rosa encarregou um famoso escultor de fazer uma imagem da Imaculada Conceição. Inexplicavelmente, ele recebeu a imagem da Divina Pastora, que não poderia devolver porque também inexplicavelmente, ninguém podia levantar a caixa onde ela tinha sido colocada. A pequena população interpretou este estranho acontecimento como um sinal de que a Divina Pastora queria ficar entre eles. Algum tempo depois, houve o devastador terremoto de 1812. O templo havia desmoronado, deixando exposta e intacta a venerada imagem mariana. Outro sinal que reforçou a fé dos devotos de Santa Rosa.
Mas a fama da Divina Pastora como protetora e milagreira se espalhou em meados do século XIX, quando uma grave epidemia de cólera estourou na Venezuela. Quase um ano após o início da epidemia, em 1856, em desespero e como último recurso, os habitantes de Santa Rosa acompanhados de seu pároco, pe. Macário Yépez, decidiram levar a imagem da Divina Pastora em procissão pelas ruas de Barquisimeto, a capital do Estado de Lara, para implorar sua misericórdia, que foi concedida, já que a partir daquele mesmo dia, a epidemia cessou. Entretanto, foi o pe. José María Raldíriz, vigário forâneo de Barquisimeto, quem ordenou que a imagem da Divina Pastora visitasse a cidade de Barquisimeto todos os anos no dia 14 de janeiro, como “testemunho perene de gratidão à Mãe de Deus, pois segundo a tradição e crença geral, confirmada por muitos sobreviventes da epidemia de cólera, com a chegada da imagem mariana, no dia 14 de janeiro de 1856, a epidemia cessou.
A Divina Pastora voltará com o fim da pandemia
As peregrinações da Divina Pastora, em várias ocasiões, ultrapassaram dois milhões de fiéis. A Comissão organizadora explicou que embora esta tradição religiosa profundamente enraizada nunca tenha sido quebrada, a gravidade da pandemia da Covid-19 exige isso: “Pedimos a Deus que nós, como clero atual, sejamos lembrados não apenas por adiar a visita para um momento mais oportuno, mas também por ter impedido que uma celebração tão bela como a nossa procissão se tornasse uma fonte lamentável e incontrolável de contágio que traria ainda mais dor ao nosso povo”.
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