Cardeal Sergio da Rocha: Francisco, peregrino da Paz
Cardeal Dom Sergio da Rocha - Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
A corajosa iniciativa do Papa Francisco de realizar a visita ao Iraque reveste-se de extraordinário significado, servindo de sinal e apelo para um mundo que parece não acreditar mais em vida nova e na possibilidade da paz. “Venho como peregrino da paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz”, afirmou ele em seu primeiro pronunciamento no Iraque, pedindo “perdão ao Céu e aos irmãos por tanta destruição e crueldade”.
“Existe uma ‘arquitetura’ da paz, na qual intervêm as várias instituições da sociedade, cada uma dentro de sua competência, mas há também um ‘artesanato’ da paz, que envolve a todos”. Assim se expressa o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, ressaltando o papel fundamental de cada um para na construção da paz. Há conflitos que para serem superados necessitam de negociações de paz. Há processos de paz que exigem diálogo paciente e perseverante entre as partes. Entretanto, “os processos efetivos de uma paz duradoura são, antes de tudo, transformações artesanais realizadas pelos povos, onde cada pessoa pode ser um fermento eficaz com o seu estilo de vida diário” (n. 231).
A valiosa encíclica social se conclui com um apelo à paz e à fraternidade, num mundo marcado por tanta violência e divisões, que a todos, de algum modo, faz sofrer, mas que atinge especialmente os mais pobres e vulneráveis. Como artesão da paz, Francisco se opõe energicamente às guerras. “Nunca mais guerra”, proclama o Papa (n. 258). Como “peregrino da paz”, no Iraque, Francisco faz um apelo veemente pelo fim da violência: “Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte”.
As religiões desempenham papel fundamental na construção da paz. O último capítulo da Fratelli Tutti adota o sugestivo título “As religiões a serviço da fraternidade no mundo”, opondo-se ao “ódio, hostilidade, extremismo, violência e derramamento de sangue” (n. 285). A histórica viagem do Papa Francisco ao Iraque serve de sinal de que é possível colaborar para a construção da paz, através da fraternidade e do diálogo. Ao invés da vingança e do ódio, é preciso promover a reconciliação, a solidariedade e a paz no mundo de hoje.
Francisco tem ensinado não somente quando fala ou escreve, mas pelo seu modo de agir, através de gestos concretos de grande significado, como ocorre com sua viagem ao Iraque. Diante das resistências para trilhar o caminho da paz, não podemos esmorecer, nem ter medo. Não há lugar para o medo no coração de quem busca promover a reconciliação, o perdão e a paz. Ao contrário, segundo a palavra de Jesus, “os que promovem a paz”, são felizes, “bem-aventurados”, “chamados filhos de Deus” (Lc 5,9). A construção da paz social é uma tarefa permanente, que exige o empenho decidido dos governantes e o compromisso de todos. O testemunho de Francisco, peregrino incansável da paz, nos motive a percorrer sempre o caminho da fraternidade e da paz.
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