Quaresma com São José - VI
Vatican News
O Papa Francisco, na carta Patris corde, recorda o Catecismo da Igreja Católica, n. 1014, que apresenta S. José como “patrono da boa morte”, invocado pelo povo de Deus em favor dos moribundos, e auxílio na preparação dos fiéis para aquele encontro definitivo com o Senhor.
A tradição de recorrer a S. José para obter uma morte santa, em graça de Deus, foi transmitida ao longo da vida da Igreja não por uma fonte textual bíblica, porém a história de como teria sido a morte de S. José aparece nos primeiros séculos da Igreja, como narra Isidoro de Isolanis, dizendo que nas igrejas orientais costumava-se ler, todo 19 de março uma narração solene da morte do pai adotivo de Jesus Cristo.
No escrito se dizia que tendo chegado a hora da morte do Santo Patriarca, um anjo lhe haveria anunciado que sua morte estaria próxima. Retornando a Nazaré e agravada a saúde, recolheu-se e, “entre Jesus e Maria, que o assistiam com carinho, expirou suavemente, abrasado no Divino Amor” e logo “Jesus e Maria fecharam os olhos de S. José”.
A narrativa relembra que Jesus chorou o amigo Lázaro e faz a analogia: “E como não havia de chorar Aquele mesmo Jesus que choraria sobre a sepultura de Lázaro? ‘Vede como ele o amava!’, disseram os judeus. S. José não era tão só um amigo, mas um pai querido e santíssimo para Jesus”.
Na Ladainha de S. José, alguns dos títulos com os quais recorremos à intercessão do esposo de Maria são: “alívio dos miseráveis”, “esperança dos doentes”, “patrono dos moribundos”, “terror dos demônios”. S. José, alívio e esperança, para que na doença possamos aprender a oferecer sacrifícios e dores pela nossa conversão e pela conversão do mundo inteiro. Para que “a esperança que não decepciona” (Rm 5,5) seja conforto e nos ajude na conformação com a Cruz de Jesus.
Santa Teresa (Vida VI,5-8) testemunha sobre S. José, ao escrever sobre seu estado de saúde, que a certo ponto começa a recorrer ao Santo e escreve: “Tomei então por meu advogado e patrono o glorioso S. José e a ele me confiei com fervor. Este meu pai e protetor me ajudou na necessidade em que me achava e em muitas outras mais graves, em que estava em jogo a minha honra e a salvação da minha alma (...). Não me lembro de ter jamais lhe rogado uma graça sem a ter imediatamente obtido”.
Como patrono dos moribundos, que estão em situação de risco de morte, S. José emerge como amigo e consolador. Em meio a uma pandemia em escala mundial, quantas pessoas queridas foram afetadas no corpo por esse vírus ou por outras enfermidades. Quantas pessoas foram e estão sendo afligidas na alma e no espírito, pelas mortes e enfermidades. Entre essas pessoas está um grande homem que tive a alegria de conhecer, D. Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE). Um dos irmãos de D. Henrique, Adriano, relatou que as últimas palavras do Bispo antes de ser entubado foi: “[estou] alquebrado no corpo, mas firme na fé”.
De Dom Henrique devemos aprender a pedir a S. José que nos ensine a morrer na companhia de Jesus e de Maria. Em momentos de incertezas e de imensa fragilidade humana e sanitária busquemos orientar a nossa vida para a salvação, pois por mais difícil que seja a morte é uma realidade para a qual devemos nos preparar. O santo de Assis louvava a Deus “pela ela Irmã Morte” pois “nenhum ser vivo escapa de sua perseguição”.
Como mais um gesto concreto quaresmal, na escola de São José, patrono da boa morte durante esses dias de Quaresma pratiquemos a obra de misericórdia espiritual de rezar pelos defuntos, especialmente aqueles faleceram vítimas da pandemia e por outras doenças, e encomendemos a celebração de Missas em sufrágios das almas desses nossos irmãos. Ainda outro gesto concreto pode ser o envio de alguma mensagem com uma pequena recordação ou mesmo alguma ajuda material para pessoas/famílias que estão enlutadas neste momento.
São José, providenciai!
Boa oração, abençoada meditação!
Roma, 24 de março de 2021
Quarta-feira, V Semana da Quaresma
Pe. Rafhael Silva Maciel
Missionário da Misericórdia
Mestre em Sagrada Liturgia
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