Irmã Ann Rose: Ajoelhei-me para salvar os jovens birmaneses
Antonella Palermo – Vatican News
Um livro que queima. Assim o definiu Andrea Monda, diretor do L'Osservatore Romano, na introdução do encontro que se realizou na manhã desta quinta-feira, 13, no Dicastério para a Comunicação, entre o jornalista Gerolamo Fazzini e a freira birmanesa Ann Rose Nu Tawng.
O livro “Uccidete me, non la gente"("Matem a mim, não o povo", em tradução livre) lançado no último dia 6 de maio, é uma forma de conhecer mais de perto um país onde - como o próprio Fazzini apontou - a Igreja está nos dando um testemunho de ser realmente “Igreja em saída”.
“Ficar de joelhos é um gesto 'antigo' e talvez esquecido”, disse Monda, recordando uma citação que o Papa Francisco fez certa vez do padre Oreste Benzi: “Para estar em pé é preciso estar de joelhos”. Um gesto que pode ser percebido como um sinal de fraqueza, mas ao invés disso, a fraqueza seria não ter capacidade de fazê-lo, como recorda Chesterton: o homem, se não pode ajoelhar-se, é como que amarrado em grilhões, acorrentado.
Eu me ajoelhei para salvar esse povo
Ela aparece na frente da tela vestida com um hábito branco. Um rosto doce, mas firme. Ela fala birmanês e a tradução na Sala Marconi do Palazzo Pio, no Vaticano, é confiada ao padre Peter Lwen. Irmã Ann Rose fala das duas vezes em que se ajoelhou diante dos militares birmaneses implorando para não usarem de violência contra as pessoas que se manifestavam nas ruas da cidade e que passavam ao lado da clínica onde ela trabalha como enfermeira.
Um gesto pensado ou um impulso? “Eu não tinha planejado nada - responde ela - diante do que me parecia ser desumano, me veio de defender, salvar aquela gente, esses jovens em perigo. Esse era meu único objetivo. Não pensei em salvar minha vida, sabia que estava me arriscando”. E prossegue, refletindo sobre a força da oração que a tem ajudado muito em sua vida: “Dela tirei essa força para ajudar as pessoas. Ajudou-me a servir ao povo sem fazer distinções”.
Fiquei surpresa por ainda estar viva
Irmã Ann Rose se recorda de ter se sentido impulsionada pela ação do Espírito Santo quando agiu daquela maneira. "Eu pensei que Deus estava me usando para salvar este povo."
Na segunda vez, em 8 de março, muitos feridos chegaram à clínica. “Para salvá-los, tivemos que levá-los a outro hospital. A máscara me protegeu. Os policiais pediam meus dados, faziam perguntas sobre minha identidade. Não sabia que a foto tinha dado a volta ao mundo e que eu tinha ficado 'famosa'”.
A narrativa prossegue com a referência às irmãs, orgulhosas dela e às pessoas que a encorajaram, enquanto outros lhe diziam, e ainda lhe dizem, para ter cuidado. “Quis defender a verdade, para salvar a justiça”, diz a religiosa, mesmo de forma pacata.
“Creio que minha vida ainda corre riscos” - reconhece - explicando que às vezes os militares vão à clínica, fazem perguntas a ela. “Mas até agora eles ainda não fizeram nada comigo. Os superiores me protegem um pouco. Uma vez que uma mulher teve que dar à luz, fui ajudá-la sem carregar uma lanterna para não dar alarme, para não chamar a atenção”.
Habituada a se envolver com os perseguidos
Sobre a reação dos policiais, a Irmã Ann Rose explica que “eles diziam que não queriam matar ninguém, só queriam assustar as pessoas. E que tinham que fazer para cumprir ordens”. Em seguida, ela faz menção à sua história pessoal e de sua família de origem: de etnia Kachin, infelizmente está acostumada a ser perseguida desde criança.
“Não recebemos nenhuma liberdade. Mesmo que alguém possuísse um diploma, o governo os impedia de trabalhar em cargos estatais”. O preço de ser minoria. “Temos sofrido muito”. E afirma que agora “as pessoas ficaram muito unidas. Desejam somente a democracia”.
O gesto de ajoelhar-se não é um gesto de fraqueza, mas sim de reconciliação. E lança também uma sugestão para quem não vive o estado religioso: “Também nas famílias haveria necessidade de fazer gestos semelhantes”.
Gostaria que o Papa se dirigisse aos chefes das nações
A religiosa expressa todos os seus agradecimentos pela disponibilidade de Francisco de celebrar a Missa pelo povo birmanês no próximo domingo no Vaticano. “Estou muito orgulhosa dele - diz a irmã - certamente o calibre internacional de sua figura faz com que suas palavras tenham um valor muito precioso. Gostaria que se dirigisse aos chefes das nações para salvar as gerações futuras do povo birmanês”. E depois insiste em pedir a todos para continuar a ajudar o povo a ter uma justiça e uma liberdade verdadeiras. “Ajudem-nos a ter democracia”.
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