Metropolita de Calcedônia: nossos tempos se assemelham aos dos primeiros cristãos
ANDREA TORNIELLI
"Temo que estejamos pensando mais na sobrevivência do cristianismo do que em compartilhar as boas novas de Cristo ressuscitado". O Metropolita Emmanuel deixou a França há alguns meses para assumir o título da Igreja de Calcedônia, tornando-se o número dois na hierarquia do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Ele é o enviado do Patriarca Bartolomeu para a celebração dos Santos Pedro e Paulo. Nesta entrevista com a mídia do Vaticano, ele faz um balanço sobre o caminho ecumênico, reflete sobre as últimas encíclicas do Papa Francisco e sobre o tema da evangelização recorda: "O problema não é a globalização, mas nossa relação com o mundo".
Eminência, em diferentes partes do mundo as Igrejas encontram dificuldades para proclamar o Evangelho e transmitir a fé. Que respostas devem ser dadas aos desafios do mundo globalizado?
Anunciar o Evangelho no mundo não é uma questão de estratégia. Temo que estejamos pensando mais na sobrevivência do cristianismo do que em compartilhar as boas novas de Cristo ressuscitado. Na verdade, vemos como a pós-modernidade desafia sistematicamente todas as formas de instituição. Nossas Igrejas não são imunes a esta dimensão de secularização contemporânea. Este fenômeno de desencanto é real e toca o coração de nossa missão como cristãos, como Cristo nos convida a fazer: "Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quando vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,18-20). Esta conclusão do Evangelho segundo o Santo Apóstolo Mateus mostra claramente como transmitir a fé em Cristo aos que estão em dúvida. Cristo é o alfa e o ômega de nossa missão. Ele está presente ao mesmo tempo no caminho pelo qual a fé é transmitida, e no final deste caminho espiritual. Portanto, não há outra resposta senão revestir-se de Cristo (Rm 13, 14), isto é, viver no íntimo do coração o mistério da morte e ressurreição do Senhor antes de oferecê-lo e consagrá-lo para a vida do mundo. Sim, em algumas partes do mundo, os cristãos são perseguidos por sua fé. Sim, em algumas partes do mundo, a secularização está marginalizando o cristianismo. Mas nada do que estamos vivendo hoje é significativamente diferente do que acontecia nas primeiras comunidades cristãs durante os trezentos anos de perseguição ativa. Rever a literatura daquela época é de grande importância para nós hoje. O problema não é a globalização, mas nossa relação com o mundo. "Estar no mundo, sem ser do mundo", como nos convida a fazer o texto da Carta a Diogneto.
Dois recentes documentos magisteriais do Bispo de Roma abriram possibilidades de encontro e confronto com as outras religiões e com os não-crentes sobre questões importantes para o nosso futuro. Como as encíclicas Laudato si' e Fratelli tutti podem ajudar os cristãos a preparar um futuro melhor?
Vejo nos dois documentos que o senhor cita uma grande oportunidade para o diálogo e a aproximação. Mas gostaria de salientar aqui a importância de Sua Santidade o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, tanto em termos de proteção ambiental quanto em termos daquele ethos de solidariedade que nos anima a todos como cristãos. De fato, durante seus 30 anos de pontificado como chefe do Patriarcado Ecumênico, o Patriarca destacou repetidamente a interdependência entre a conservação da natureza e o cuidado dos outros. Esta leitura espiritual do mundo desmantela nossas certezas e nos torna conscientes da responsabilidade dos cristãos de acolher com gratidão o mundo, sua criação e os que o compõem. Devemos a ele esta síntese quase sacramental. Toda a criação se torna um sacramento, um mistério no qual se revela a presença salvífica de Deus, que só pode ser realizada num gesto sacrificial, oferecendo a Deus o que Deus nos ofereceu. O Patriarca Ecumênico Bartolomeu declarou a este respeito: "O respeito e o cuidado com a criação são parte integrante de nossa fé, a base de nossa vida na Igreja e como Igreja". Vejo, portanto, nestes dois textos do Papa Francisco uma oportunidade para o diálogo, mas sobretudo para a cooperação ecumênica. A unidade cristã é a proteção do meio ambiente e o cuidado com os outros.
O senhor tem considerável experiência no diálogo inter-religioso, particularmente entre cristãos e muçulmanos. Que medidas devem ser tomadas para uma maior compreensão recíproca diante do fundamentalismo e do uso indevido da religião para justificar o ódio e a violência?
A questão do fundamentalismo religioso e do extremismo não é recente, muito menos limitada a uma só religião. Muitos estudos tendem a desvendar as raízes da violência em seu contexto religioso. Temo que a religião tenha se tornado um culpado ideal que oferece uma certa legitimidade ao ódio pelo outro. Permitam-me citar uma expressão da Declaração de Berna de 1992, que o Patriarca Ecumênico tem repetidamente articulado em suas várias mensagens: "Um crime em nome da religião é um crime contra a religião". Por trás desta expressão se revela uma concepção muito particular da religião, livre dos que a desejam desviar para ganhos políticos. Meus anos de experiência no campo do diálogo inter-religioso me mostraram que a ênfase não é tanto sobre religião, mas sobre a necessidade de diálogo entre religiões. O diálogo é a única arma capaz de desarmar os abusos do fundamentalismo e do extremismo. A Encíclica do Santo e Grande Concílio da Igreja Ortodoxa reunida em Creta em junho de 2016 abunda neste sentido: "Um franco diálogo inter-religioso contribui para o desenvolvimento da confiança recíproca na promoção da paz e da reconciliação. A Igreja luta para tornar a "paz do alto" mais tangível na Terra. A verdadeira paz não é alcançada pela força das armas, mas somente com o amor que "não busca seu próprio interesse" (1 Cor 13, 5). O bálsamo da fé deve ser usado para amarrar e curar as velhas feridas dos outros, não para reacender novos focos de ódio" (par. 17).
A Igreja Católica está empreendendo um caminho sinodal dedicado precisamente à sinodalidade, com novas formas de envolvimento e participação das Igrejas locais. O documento de Ravena falava sobre a sinodalidade e a forma de entender o primado: em sua opinião, em que ponto está o caminho ecumênico sobre estas questões?
O caminho sinodal da Igreja Católica, que se deve à influência direta de Sua Santidade o Papa Francisco, fala com força à Igreja Ortodoxa. Neste sentido, aguardamos com expectativa as conclusões do próximo Sínodo dos Bispos de 2023, que se concentrará no tema: "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão". Ouso ver na escolha deste tema um dos frutos de nossas relações ecumênicas. De fato, certamente não é uma coincidência que os documentos mais recentes da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa tenham tratado, desde Chieti em 2016, da articulação entre sinodalidade e primado. Deixo para o próprio documento a tarefa de esclarecer sobre isto: "Ao longo do primeiro milênio", diz-nos o documento Chieti, "a Igreja no Oriente e no Ocidente estava unida na preservação da fé apostólica, na continuidade da sucessão apostólica dos bispos, no desenvolvimento de estruturas de sinodalidade inseparavelmente ligadas ao primado, e na compreensão da autoridade como um serviço (diakonia) de amor". Embora a unidade entre Oriente e Ocidente fosse às vezes perturbada, os bispos do Oriente e do Ocidente estavam cientes de que pertenciam à única Igreja" (par. 20).
Em 2025, serão celebrados os 1700 anos do Concílio de Niceia, e no mesmo ano coincidirão as datas da Páscoa para os cristãos. Como devemos nos preparar para este aniversário?
Como o senhor sabe, foi no Concílio de Niceia que foi estabelecida a fórmula para o cálculo da data da Páscoa. A data da Páscoa ainda é calculada de acordo com este método, embora seja baseada em dois calendários diferentes: o calendário gregoriano para a Igreja Católica e o calendário juliano para a Igreja Ortodoxa. E as datas podem coincidir ou diferir em até cinco semanas. A questão da celebração comum da Páscoa se impõe gradualmente como uma questão ecumênica da primeira ordem. De fato, como podemos dar testemunho da verdade do mistério que está no cerne do testemunho do cristianismo, se permanecemos divididos sobre esta questão? Acredito que o Jubileu que está próximo deve nos convidar a refletir sobre nossas práticas litúrgicas com respeito à integridade do Corpo de Cristo. Para a Igreja Ortodoxa, as questões do calendário permanecem espinhosas e a história nos mostrou que elas podem levar ao cisma. Mesmo o contexto pré-conciliar pan-ortodoxo foi incapaz de enfrentar sem gerar fenômenos de polarização menos teológicos e mais baseados na identidade. Celebrar a Páscoa no mesmo domingo em todo o mundo cristão sobre esta base histórica conciliar seria uma poderosa mensagem de testemunho e reconciliação.
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