Reflexão para o 10º Domingo do tempo comum
Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News
A primeira leitura (Gênesis 3, 9-15) nos fala do primeiro pecado, o de nossos pais Adão e Eva e, da misericórdia de Deus em não só perdoar, mas dar a toda a Humanidade um Salvador.
Vemos na reação de Adão e de Eva, aquilo que fazemos sempre quando a consciência nos pesa, nos escondemos da autoridade ou fugimos de sua presença porque nos sentimos nus, descobertos e nossa fragilidade é exposta, não temos mais a proteção de algo, mesmo que seja uma roupa rala, ou uma mentira com pernas curtíssimas. Por outro lado, não assumimos nossas culpas, nossas responsabilidades e até procuramos dividi-la com alguém, no caso de nossa perícope, Adão procura dividi-la com o próprio Deus (a mulher que tu me deste por companheira); Adão joga a culpa na mulher que lhe foi dada como companheira pelo próprio Deus, não foi uma boa companheira, pois o levou a transgredir a proibição de não comer o fruto da árvore.
Por outro lado, deixemos de lado a ação humana e vejamos a beleza, a bondade e o amor do Senhor que, imediatamente nos promete um Salvador. As descendências da mulher e da serpente serão inimigas porque o Mal, simbolizado pela serpente, fez o que podia para impedir o bom relacionamento entre Deus e o ser humano, o MAL meteu sua colher torta, como dizemos, mas Deus, todo Amor e Poder, no ato, anuncia a reintegração do ser humano em seu ninho de Amor. E a descendência da mulher – Cristo – lhe ferirá a cabeça, destruirá o mal, o pecado, a morte eterna e a descendência da serpente, o Mal ferirá o calcanhar da descendência da mulher, ou seja, fará o Cristo sofrer a paixão e morrer na cruz. Mas vitória será do Ressuscitado, sem dúvida e seu triunfo será eterno, por todos os séculos dos séculos.
Portanto, nossa vitória já está assegurada, basta darmos sempre o sim resposta ao sim proposta de Deus. No batismo é dado o Sim radical, confirmado por cada sim dito através de nossa vida, seja curta ou longa e coroado pelo Sim definitivo dado na hora da passagem desta vida para a outra.
A segunda leitura, tirada de 2 Coríntios 4, 13-5,1, fala no versículo 16: “...Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando dia a dia.” Não deveremos nos preocupar ou nos amedrontar com os sinais de velhice e de morte que a idade e doenças trazem ao nosso corpo, mas com aquilo que é eterno, de Deus, o interior, a alma, a psique, o espírito. Jesus mandou dar a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus, (Marcos 12, 13-17) ora todo o nosso ser, corpo e espírito pertence a Deus e um corpo, mesmo marcado pela doença e velhice, é vivificado pela alma que está plena de sabedoria e sempre jovem, madura, sem sinais de caduquice, tendo superado as vicissitudes do dia a dia.
No Evangelho, Marcos 3, 20-35, vemos os parentes de Jesus, sua mãe e familiares, vindo para socorre-lo porque corria a notícia de que ele estava fora de si, na verdade, era tanto trabalho que nem sobrava tempo para se alimentar e fazia coisas muito extraordinárias e diferentes, na visão da multidão. Também nós, não entendemos como alguém como nós consegue superar a fome e o cansaço e trabalha sem parar fazendo coisas extraordinárias. Atribuímos a essa pessoa poderes adquiridos de modo ilícito ou, no mínimo, o uso de drogas. Não aceitamos sua capacidade e seu modo de ser superior ao comum dos mortais. Ele é um dos nossos e precisamos de descanso e de comida. Como ele fica sem comer e sem descansar e faz coisas insuperáveis? Não pode ser, “aí tem!”, costuma-se dizer de coisas inexplicáveis, mas que duvidamos.
Nos versículos 28 e 29, especialmente neste último, as palavras de Jesus nos deixam claro o que ele pensa da má vontade para entender o óbvio. As ações boas realizadas por pessoas boas, são credíveis e sua autoria vem do Bem, de Deus; o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus e, mais tarde, alguns foram batizados e receberam o Espírito Santo. Se comumente falamos que “filho de peixe, peixinho é”, ser filho do Altíssimo, do Bem, do Amor, só poderá realizar o bem e suas boas ações não podem ser creditadas ao Mal. E dentre todas essas ações se destacam aquelas realizadas pelo desejo de libertar algum irmão do jugo do poder das trevas. Aí o Senhor fala da incoerência de um Reino dividido contra si mesmo. Deus, o Sumo Bem não faz pacto com o Mal. Pensar o contrário é insultar o próprio Deus. Finalmente, o Senhor mostra a sua nova família, não são os que o querem retirar da prática das boas ações, mas aqueles que “estão sentados ao seu redor”, isto é, aqueles que comungam com ele no ato de fazer o bem, de fazer a vontade do Pai e, nisso, Maria se destaca grandemente. Ela disse na Anunciação (Lc 1, 38), “eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra.” E a boa nova de Gênesis 3,15 se realiza!
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