Reflexão para o 13º Domingo Comum
Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News
O tema deste domingo, Vida/Morte, é bastante atual e nos faz refletir sobre nossa postura frente à morte; muitas vezes de conformismo e não de aceitação e, pior, ignorando o instinto mais forte do ser humano que é o de sobrevivência.
A primeira leitura, Sabedoria 1, 13-15; 2, 23-24, nos fala de modo claríssimo que “Deus não fez a morte” e “fez o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza”; ora, Deus é VIDA e o ser humano não só foi criado pela Vida, mas foi criado à imagem da Vida. Por isso a morte não nos é natural, mas uma violência, algo que não estava no programa, nos planos de Deus, “foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo!”, diz o versículo 24, fomos criados para a imortalidade, diz o versículo 23.
Mesmo que a ciência diga que a morte é natural, que obedece ao ciclo; na visão judaico-cristã, não é; haja vista a ressurreição de Jesus Cristo (não revivificação e nem reencarnação, mas a retomada da vida deixada antes e agora sem os limites chamados humanos) e a promessa de vida eterna contida no bojo do Cristianismo.
Poderemos, para salvar a proposição da Ciência, dizer que ela se refere a uma visão estritamente material, física, onde existe a alma, mas mortal, sem a dimensão espiritual. Aí já entramos em outro plano que é, exatamente, o da vocação do ser humano, a vida eterna. Como explicar esse desejo de eternidade que existe em nós, esse inconformismo com os limites do tempo, do espaço, limites da vida? A própria Ciência nesse seu afã de procurar esticar ao máximo a vida do ser humano, deseja o quê? A declaração atribuída ao astronauta Yuri Gagarin, ao voltar da primeira viagem que o ser humano fez ao espaço, de que não encontrara Deus, tenha sido dita ou não por ele, traduz a ideia tida sobre Deus, não só daquelas pessoas de ciência, mas de quase todas as pessoas do mundo. Também os crentes fundamentalistas levaram ao pé da letra a ascensão de Jesus, no sentido de que literalmente subiu aos céus, mas ao céu abóbada celeste e não ao céu dimensão de felicidade eterna. Os Cruzados construíram no Monte das Oliveiras um templo octogonal, em 1200 transformado em mesquita, que na época não havia teto, exatamente para celebrar a subida de Jesus aos céus. Ora, tanto o grupo formado por cientistas, como o dos cruzados, não tinha presente a verdade de que Deus se encontra em outra dimensão. Nesta, em que vivemos agora, é encontrado de outro modo, na oração e em tudo que nos dizem as religiões.
Após terminar sua Criação, Deus viu que tudo era bom e deu ordem ao ser humano para crescer, se multiplicar e dominar o Criado. Podemos entender que Deus colocou um mundo novinho nas mãos humanas e deu aos humanos, criados à sua imagem e semelhança o poder de dominar, isto é, de transformar a criação, para isso deu a eles inteligência, dons e carismas. Aí encontramos, as artes, as ciências, tudo o que o homem se utiliza para fazer o bem, transformar o Criado e expulsar os limites e a “colher torta” impostos pelo Mal.
No Evangelho, Marcos 5, 21-43, Jesus é visto como a Vida, a fonte da Vida. Procurado por um pai que deseja a vida para sua filha, sendo tocado por uma mulher que deseja a vida, através da cura da doença de que é portadora, o Senhor confirma que ele é a Vida; ao revivificar a menina, Jesus lhe dá o retorno à vida e mostra que ele é senhor absoluto da vida e da morte; ao curar a hemorroissa, mostrou que também tem poder sobre os efeitos do Mal nas pessoas. Jesus é o verdadeiro homem, criado à imagem e semelhança do Pai, que realiza plenamente o mandato de dominar o Criado e aperfeiçoá-lo. Jesus é Humano, mas também é Divino. Nele se encontram o Céu (da dimensão transcendente) e a terra, toda a dimensão imanente.
Dentro dessa caminhada na obediência de transformar o mundo, continuar a obra do Senhor em colocar ordem ao caos, São Paulo nos diz em 1Coríntios 15, 26, que “O último inimigo a ser aniquilado será a Morte”. Portanto não aceitar a morte, lutar para vencê-la é um ato de religião, um ato cristão. E se formos aparentemente vencidos por ela, saibamos que ela dá a penúltima palavra, mas a última é dada por Jesus Cristo, o Senhor da Vida, vencedor da morte, do pecado, o grande artífice que concluirá a criação, aperfeiçoando-a e entregando-a ao Pai.
Jesus, não se incomoda em transgredir duas vezes a Lei; o que quer é fazer a vontade do Pai e esta não está na Lei que proíbe deixar-se tocar por quem tem doença incurável e tocar em um cadáver. Jesus não só consente no toque da hemorroíssa e a cura, como pega na mão da pequena defunta e a traz de novo para sua família. O Senhor sabe que fazer a vontade do Pai é destruir o Mal e seus sinais. Deus é Vida!
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