Guatemala, bispos: ilegal demitir promotor anticorrupção
Alina Tufani – Vatican News
A Conferência Episcopal da Guatemala (CEG) condenou com veemência a demissão do chefe da Promotoria Especial contra a Impunidade (FECI), Juan Francisco Sandoval, garante da justiça e da democracia, e se uniu ao clamor e à indignação dos que protestavam contra uma decisão que definem como "ilegal e arbitrária". Numa nota, os bispos alertam que “nada é mais perigoso para a institucionalidade do país do que as máfias enraizadas” nas instituições estatais.
O regime de impunidade está consolidado
“Aqueles que se alegraram com a destituição se sentem seguros e cômodos quando o regime de impunidade se consolida”, denuncia o documento assinado pelo presidente do episcopado guatemalteco, dom Gonzalo de Villa y Vásquez, arcebispo de Cidade da Guatemala, e pelo secretário-geral, dom Antonio Calderón Cruz, bispo de Jutiapa.
A demissão do procurador Sandoval pela procuradora-chefe, Consuelo Porras, na última sexta-feira (23/07), levou o ex-procurador anticorrupção a deixar o país por motivos de segurança, pois teme-se perseguição judicial por suas investigações. De fato, horas antes de sua partida, numa coletiva de imprensa, Sandoval denunciou o fato de a procuradora-geral Porras ter suspendido várias investigações envolvendo membros do governo do presidente, Alejandro Giammattei.
Deficiências graves no sistema judiciário
O Episcopado recorda na sua nota que o Procuradoria é o órgão do Estado responsável pela investigação e julgamento de crimes cometidos e que só uma justiça rápida e imparcial pode garantir a liberdade e a democracia.
“Todos sabem que o processo de administração da justiça na Guatemala apresenta graves deficiências”, afirma o comunicado dos bispos. Todavia, reconhecem que nos últimos anos foi capaz de investigar atos que antes gozavam de total impunidade, "gerando esperança" entre os cidadãos.
Danos irreparáveis ao país
“De acordo com famosos homens e mulheres da lei, a repentina demissão do promotor Sandoval foi ilegal e arbitrária. Abraçamos o clamor dos cidadãos ao perceber que este fato significa um claro retrocesso na luta por um combate eficaz contra a corrupção e a impunidade, que tanto prejudicam o desenvolvimento integral do país”, sublinha o comunicado.
Os bispos guatemaltecos ressaltam que a "demissão abrupta do promotor Juan Francisco Sandoval causou danos irreparáveis ao país", não só porque bloqueia a resolução de importantes casos de corrupção ainda em andamento, mas também porque a credibilidade da Procuradoria foi perdida mais uma vez.
A indignação e os protestos aumentarão
"A indignação dos cidadãos aumentará, os protestos sociais e o nível de conflito vão aumentar, a má gestão da pandemia e o tortuoso processo de vacinação serão ainda mais complicados", prevê a declaração da CEG.
Diante deste panorama, o episcopado exorta os que trabalham no campo da justiça a se comprometerem com a busca da justiça, com a construção da paz como bem superior, a terem coragem para reconhecer seus erros e a não perderem de vista o bem comum como a expressão última do sentido do Estado guatemalteco.
Condenação da Comunidade internacional
Desde a demissão do procurador anticorrupção, os guatemaltecos saíram às ruas em protesto e exigiram uma greve nacional. Várias organizações estão pedindo a demissão do presidente, Alejandro Giammattei, e da procuradora-geral, Consuelo Porras. Enquanto isso, várias organizações internacionais expressaram sua rejeição a uma decisão que enfraquece a luta contra a corrupção e incentiva a impunidade.
De acordo com informações do Escritório do Ombudsman de Direitos Humanos, o ex-procurador Sandoval cruzou a fronteira terrestre com El Salvador no sábado. O funcionário de 38 anos foi um baluarte na luta contra a corrupção na Guatemala, especialmente entre 2014 e 2019, junto com a ex-procuradora-Geral Thelma Aldana e o advogado Iván Velásquez, diretor da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG). As investigações destes três profissionais da justiça revelaram dezenas de casos de corrupção estatal, envolvendo até 200 pessoas, incluindo ministros, funcionários, empresários e políticos. Atualmente, Sandoval estava conduzindo investigações para descobrir casos de corrupção dentro do governo atual.
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