Cardeal Sako: a última coisa a ser feita pelos cristãos daqui é colocar sua confiança nas políticas ocidentais
Vatican News
"Vimos tantas ‘missões’ políticas e militares ocidentais no Oriente Médio, vimos tantas promessas de ajuda, e no final tudo permanece no nível de palavras vazias, se não pior”.
Considerações do patriarca da Igreja Caldeia, Louis Raphael I Sako, após a conclusão da visita do presidente francês Emmanuel Macron ao Iraque, quando participou em Bagdá de uma cúpula internacional - “um evento importante, um forte sinal de apoio ao Iraque e seu caminho para recuperar a estabilidade” - e visitou Mosul, etapa da visita marcada “por gestos e palavras que para muitos iraquianos parecem inadequadas e podem alimentar mal-entendidos”. Em sua viagem de dois dias, o mandatário francês também visitou Erbil, no Curdistão iraquiano.
Na capital iraquiana, o presidente francês participou no sábado, 28, da cúpula regional organizada pelo governo iraquiano, e que contou com a participação, entre outros, de chanceleres - mas não chefes de Estado - da Arábia Saudita, Irã e Turquia. "O Iraque não pode ser palco de confrontos regionais!", afirmou na abertura do encontro o primeiro-ministro do Iraque, Mustafa al Kadhimi.
Baseado em fatos da história recente e da atualidade, o cardeal Sako recordou o que “aconteceu no Afeganistão”, as “muitas promessas feitas recentemente ao Líbano, que continua a se debater em uma crise muito séria”. “A realidade – afirmou o primaz da Igreja Caldeia - é que os países ocidentais nada podem fazer, sobretudo agora que estão todos ocupados resolvendo seus problemas econômicos e concentrando seus recursos na luta contra a pandemia”.
Em sua análise à Agência Fides da visita de Macron, o cardeal Sako considera enganoso o já obsoleto clichê das visitas de líderes ocidentais que vão a áreas de crise, apresentando-se como potenciais "solucionadores" de conflitos e situações degradantes de longo prazo. Também nesse sentido, a visita do presidente francês - na visão do Patriarca - foi “apressada e mal preparada".
O erro de esperar do Ocidente a salvação e a solução dos problemas do Oridente - destaca o Patriarca caldeu - teve efeitos devastadores, mesmo quando dizia respeito especificamente às comunidades cristãs do Oriente Médio.
“A do Ocidente que defende os cristãos em outras partes do mundo – declarou à Fides o Patriarca Sako - é uma lenda que provocou tantos danos. E alguns momentos da visita de Macron a Mosul pareceram mais um renascimento dessa lenda”.
Na cidade mártir, o mandatário francês visitou a Igreja latina conhecida como Nossa Senhora da Hora, tradicionalmente confiada aos Padres Dominicanos. “Naquela circunstância - nota o Patriarca - os interlocutores de Macron eram sobretudo europeus, e mesmo os bispos iraquianos presentes pareciam ser convidados. Havia uma atmosfera de cordial familiaridade entre os compatriotas europeus, em contraste com a atmosfera formal e fria criada quando o presidente francês visitou a Grande Mesquita de Al Nuri. Alguns imãs sunitas criticaram a visita de Macron enquanto ela ainda estava em andamento”.
“O que quero dizer – explica o Patriarca Caldeu - é que nosso primeiro desejo é aquele de ver os cristãos que fugiram daquelas terras retornarem e permanecerem nas próprias casas. É necessário promover a restauração de um tecido de convivência harmoniosa entre as diferentes comunidades étnicas e religiosas, o mesmo que caracterizou Mosul no passado.”
“A este respeito – pontuou o purpurado iraquiano - a visita de Macron não ajudou, foi uma oportunidade perdida e até mesmo gerou o risco de alimentar a desconfiança entre os concidadãos muçulmanos. A última coisa a ser feita pelos cristãos daqui é colocar sua confiança nas políticas ocidentais. Se a França abre um consulado em Mosul ou constrói um aeroporto lá, estes não são assuntos que dizem respeito aos bispos e às coisas que os bispos devem perdir às autoridades civis locais”.
*Com Agência Fides
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