Mianmar: entre a repressão e a emergência sanitária, a ajuda da Igreja se intensifica

Vatican News

A corrida da variante Delta do Coronavírus em Mianmar continua sem parar, enquanto há uma dramática falta de vacinas e oxigênio em todo o país. As estatísticas oficiais falam de 330.000 contágios, com 11.776.000 mortes, mas, de acordo com fontes locais, os números reais são na verdade três vezes maiores, dado o número limitado de testes realizados e das internações.

Nesta dramática situação que está pondo de joelhos uma população já exausta pela repressão militar que se seguiu ao golpe de 1º de fevereiro e pelos confrontos com os movimentos de resistência armada locais, a Igreja permanece na linha de frente para levar ajuda à população. Desde o início de julho, numerosos seminários, salões paroquiais, centros pastorais e colégios católicos foram convertidos em instalações de saúde para ajudar os doentes. Na verdade, 80% dos pacientes da Covid-19 não vão aos hospitais, que são em grande parte privados de pessoal de saúde devido ao movimento de desobediência civil ao qual quase todos os médicos e enfermeiros se juntaram. A Conferência Episcopal birmanesa (BBCM) exortou as 16 dioceses do país a fornecerem alimentos e bens de primeira necessidade aos que ficaram sem meios de subsistência e a disponibilizar suas instalações.

Novo centro de ajuda

A última a ser convertida em centro de tratamento contra Covid é uma escola de catecismo na paróquia Sagrado Coração da Diocese de Lashio, no Estado de Shan, que foi equipada com cilindros e concentradores de oxigênio para acomodar cerca de 20 pacientes a partir da próxima semana. "O centro estará aberto a pessoas de todas as religiões e também fornecerá comida", disse o pároco padre George La Ring à agência de notícias Ucanews. Médicos e enfermeiros serão ajudados por uma equipe de freiras e jovens voluntários.  Na Diocese de Myitkyina, no Estado de Kachin, várias estruturas diocesanas já foram convertidas em centros de saúde. Neste 10 de agosto, outra será aberta para receber 20 pessoas doentes. A mesma diocese criou uma equipe médica especial para realizar testes às pessoas deslocadas em um campo de refugiados local.

Mianmar é agora um dos países mais atingidos pela variante do Delta. Entre as muitas vítimas se encontra também o bispo de Pathein, dom John Hsane Hgyi, que faleceu no dia 22 de julho. Ele foi lembrado na sexta-feira pelo cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon e presidente dos bispos birmaneses em uma missa de sufrágio na Catedral de Yangon para todos os sacerdotes, religiosos e católicos que morreram devido ao Coronavírus. Em sua homilia, o cardeal salientou que não se trata apenas de números, mas de pessoas que "fizeram parte de nossa existência" e que devem ser lembradas com "gratidão" por seu amor e apoio.

Transformar a perda em "gratidão e compaixão"

O Cardeal Bo também exortou os fiéis a não se deixarem dominar pela dor, mas a buscar alívio na fé e na esperança cristã e a transformar a perda em "gratidão e compaixão", lembrando a generosidade e a resiliência de tantas pessoas que, apesar da perda de seus entes queridos, continuam a ajudar e apoiar os outros. Embora este seja um momento de dor e lágrimas, ele disse: "não podemos fazer da morte o árbitro de nosso destino, porque nosso Deus não é um Deus de morte: ele é um Deus de vida" e "o amor é mais forte do que a morte".

Em 2 de agosto, a Conferência dos Bispos de Mianmar (CBDC) convidou todos os fiéis a duas semanas de oração para invocar a cura do país, renovando mais uma vez o chamado à unidade e à reconciliação: "A única guerra que temos que travar é aquela contra o vírus", escreveram os bispos.

Vatican News Service – LZ