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Arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta Arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta  

Dom Orani, Budapeste: “Deus, despojando-se de sua majestade, se fez um de nós”

Nesta segunda-feira, dia 6, o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta fez uma catequese online para o Congresso Eucarístico Internacional, que se realiza em Budapeste, Hungria.

Vatican News

À espera do Papa Francisco que chegará no domingo, dia 12, teve início em Budapeste, Húngria, o Congresso Eucarístico Internacional inaugurado no domingo, dia 05, com a Santa Missa presidida pelo presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, cardeal Angelo Bagnasco.  Ele abriu o evento que convida toda a Igreja a refletir sobre o tema: “Todas as minhas fontes estão em Ti”. “A Eucaristia”, disse Bagnasco, “vai além de toda solidão, toda distância e toda indiferença”.

Já o cardeal Péter Erdő, primaz da Hungria, no início da missa de abertura do 52º Congresso Eucarístico Internacional disse “que o Senhor Deus nos conceda poder sentir, nestes dias, que Cristo está conosco na Eucaristia. Ele não deixa a Igreja, os povos e a humanidade sozinhos."

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Nesta segunda-feira, dia 6, o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta fez uma catequese online para o Congresso Eucarístico Internacional. O cardeal dividiu a sua catequese em três partes. A primeira parte esteve centrada na “correspondência entre o desejo do coração humano por Deus e a gratuidade do desejo de Deus pelo homem que, despojando-se de sua majestade, se fez um de nós”.

A segunda parte “mostra a necessidade que o mundo tem de transformação e a consequente chamada a todos os batizados para que, como resultado da sua pertença a Cristo, sejam fermento”.

Na terceira parte, o cardeal identificou “Maria, a mãe da Igreja, como síntese perfeita do amor eucarístico em ação. Sua perfeita comunhão com Cristo se manifesta no drama da vida cotidiana, sua identificação com a misericórdia divina”.

O cardeal chamou a atenção sobre o fato de que “são muitos os que vivem em situação de necessidade. Carências materiais, morais e espirituais caracterizam a imensa pobreza em que nos encontramos e que somos chamados a enfrentar, respondendo ao chamado do Senhor que nos pede: ´dai-lhes vós mesmos de comer`”.

Também lamentou que “o homem moderno ache que a sede e a fome que levam dentro de si podem ser saciadas com o consumismo”. “Pessoas e coisas são, por isso, consumidas como objetos de um individualismo exagerado que, em vez de saciar, aumentam mais a angústia, provocando desordens e desequilíbrios no mundo”, explicou.

Dom Orani citou duas ocasiões nas quais Jesus expressa “sua sede pelo coração humano”. A primeira, junto ao poço, quando pediu à samaritana que lhe desse de beber; a segunda, na cruz, quando disse: “tenho sede”.

Em contrapartida, ele afirmou que “o Senhor manifesta seu protagonismo na relação com o ser humano. No encontro da sua sede, expressão da misericórdia do seu coração, com a sede do coração humano, feito para Deus, brota uma transformação emanada da correspondência original que transborda em testemunho: muitos samaritanos daquela cidade creram em Jesus pela força do testemunho daquela mulher”.

No entanto, a “mentalidade mundana e funcionalista dos tempos atuais termina penetrando a expressão religiosa”. Como consequência, “busca-se a fé de maneira imediata, com o único interesse de obter resultados pessoais”.

Dom Orani recordou a advertência feita frequentemente pelo Papa Francisco contra a tentação do pelagianismo, adaptado aos tempos atuais, que busca adaptar a graça divina às estruturas humanas. O resultado é um gnosticismo “que prefere um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja e uma Igreja sem fiéis”.

Tudo isso, “termina reduzindo a vida da Igreja a uma peça de museu ou a algo próprio de alguns povos, que não é atrativa por não ser capaz de satisfazer os desejos dos corações humanos”.

Cristo Redentor

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro - recordou dom Orani - tem a felicidade de ostentar, num dos pontos mais altos da cidade, a imagem do Cristo Redentor de braços abertos. Este sinal, já incorporado à paisagem carioca, é um chamado de atenção para nós. Tanto para o chamado da nossa missão, quanto para a tentação da nossa indiferença. De fato, quantas vezes caminhamos pela cidade sem nos darmos conta deste abraço que nos alcança e que busca alcançar a todos aqueles que mais precisam. É fácil demais deixarmo-nos levar pelo indiferentismo, numa espécie de rotina diante da realidade. Parece que tudo vira paisagem e o chamado do Senhor vai-se tornando distante, enquanto o maravilhamento pela realidade vai-se esmaecendo. Mas o Senhor é fiel e não nos abandona nas nossas próprias fragilidades. Pelo sopro do seu Espírito traz sempre uma novidade que rompe as barreiras e traduz o Seu chamado num vigor atualizado. Assim, "não tememos se a terra estremece e se os montes se abalam" (cf. Sl 46). De fato, "somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou" (Rm 8, 37). 

Eu sou o pão da vida  (Jo 5,35)

O desejo de infinito do coração humano, portanto, descobre a sua perfeita correspondência neste encontro com Jesus. A “sabedoria eterna – o Logos – tornou-Se verdadeiramente alimento para nós. A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos na dinâmica da sua doação” (cf. DCE 13).

É expressiva a alocução de S. João Crisóstomo a este respeito:

Com efeito, o que é o pão? É o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De fato, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo”.

A Misericórdia de Jesus nos encontra, portanto, hoje como há dois mil anos, e nos convida concretamente a viver o mandamento da unidade do amor a Deus e ao próximo:

A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através de uma lembrança cheia de fé, mas também com um contato atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado. Deste modo, a Eucaristia aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida de uma vez para sempre por Cristo para humanidade de todos os tempos. (EE 12).

Atendendo à missão designada pelo Mestre, que a envia – “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21) – a Igreja transforma-se, ela mesma, naquilo que anuncia. Santo Agostinho já explicava que a Eucaristia “nos une ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros a fim de que nos transformemos naquilo que recebemos”.

Ela tem, por isso mesmo, a sagrada tarefa de ser pão para todos aqueles que têm fome. A todos que pedem “Senhor, dá-nos sempre desse pão!”, a Igreja se oferece.

Chega aos confins do universo a sua voz (Sl 18, 5)

Esse extraordinário encontro pessoal com o Senhor, que responde aqui e agora às exigências profundas do coração humano, leva necessariamente a anunciá-lo. Ao amor que nos alcança correspondemos com uma vida transformada e que transborda em anúncio: “A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais” (EG 264).

Percebemos, como os discípulos de Emaús, este ímpeto de colocar-nos em movimento – “Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém” (Lc 24, 33). Não é mais possível permanecer centrado em si, mas é necessário ir em direção do outro e compartilhar o acontecimento do encontro: “encontraram reunidos os onze e os outros discípulos” (Lc 24, 33).

Assim é para nós hoje o encontro com o Senhor na Eucaristia. Ela “sempre esteve no centro da vida da Igreja. Por ela Cristo torna presente, no curso do tempo, o seu mistério de morte e ressurreição” (MN 3) e manifesta-se como luz do mundo. De fato, “em cada Missa, a liturgia da Palavra de Deus precede a liturgia Eucarística, na unidade das duas “mesas” — a da Palavra e a do Pão” (MN 12).

Com informações da ACI DIGITAL

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07 setembro 2021, 10:53