A Igreja na Hungria
Vatican News
O Papa Francisco iniciará a 34ª Viagem Apostólica de seu Pontificado pela Hungria, onde em Budapeste concluirá com uma Celebração Eucarística o 52º Congresso Eucarístico Eucarístico Internacional.
As origens no século XI
A história da Igreja na Hungria está intimamente ligada àquela do Estado húngaro. Seu nascimento se deve, de fato, a Santo Estêvão I( István) da Hungria (969 c.a - 1038), da dinastia magiar dos Arpadi, evangelizador e padroeiro do país, bem como fundador do Estado húngaro. Consagrado em 25 de dezembro do ano 1000 com o título de "Rei Apostólico", ele organizou não somente a vida política de seu povo, reunindo os 39 condados em um único reino, mas também a religiosa, lançando as bases de uma sólida cultura cristã nacional. Sob seu reinado, foram construídas igrejas e mosteiros, incluindo a famosa Abadia beneditina de São Martinho de Pannonhalma e criou dez dioceses, incluindo Strigonio (Esztergom), sede do Arcebispo e Primaz da Hungria.
Com a morte de Estêvão I, canonizado em 1083, o país foi envolvido na "Guerra das Investiduras" entre o Império e o Papado, tomando o partido deste último. Neste período consolidaram-se o Estado e a Igreja e sob o reinado de Luís, o Grande, no século XIV foram acrescentadas outras novas dioceses: Nagyvárad, Nitra (na atual Eslováquia) Csanád e Nagyszeben (hoje Sibiu, Romênia).
No período da Reforma Protestante, a maioir parte dos magiares abandonou o catolicismo, ao qual muitos retornaram após a anexação da Hungria pelo Império Habsburgo no século XVII, graças à ação de missionários nos territórios adquiridos pelos Habsburgo. Protagonista da Contra-Reforma no país foi o cardeal jesuíta Péter Pázmány (1570-1637), arcebispo de Strigonio e fundador da primeira universidade Católica húngara, a Universidade de Nagyszombat (hoje Trnava, Eslováquia). No século XVIII a imperatriz Maria Teresa e seu filho José II de Habsburgo expulsaram dos territórios do Império austríaco, incluindo assim a Hungria, várias Ordens religiosas.
Relações entre Igreja e Estado na Hungria independente entre as duas guerras 1920-1945
Dois anos após a dissolução do Império Austro-Húngaro, em 1920 a Santa Sé e a Hungria independente, liderada pelo regente Miklós Horthy, estabeleceram relações diplomáticas que duraram até a ocupação soviética, em 1945. Entre os dois Estados não foi assinada uma Concordata, mas apenas um "Entendimento Simples" (1927) para regulamentar os procedimentos de nomeação dos bispos e do ordinário militar.
Os anos do regime comunista
A ocupação soviética no final da Segunda Guerra Mundial também marcou ali o início das perseguições contra a Igreja. Numerosos expoentes religiosos católicos foram presos ou mortos (diversos dos quais foram elevados às honras dos altares após 1989), a Igreja foi expropriada, suas escolas nacionalizadas (1948), as Ordens religiosas dissolvidas (1950) e em 1957 uma disposição tornou impossível para a Santa Sé proceder ao governo das dioceses (medida posteriormente revogada pelo acordo firmado em 15 de setembro de 1964 em Budapeste, que reconheceu à Santa Apostólica o direito de nomear os bispos, mas reservando-se ao governo o direito de recusar o próprio consentimento.
Uma figura importante na resistência ao regime comunista foi o cardeal József Mindszenty (1892-1975), declarado Venerável pelo Papa Francisco em 2019. Arcebispo de Esztergom e Primaz da Hungria desde 1945, criado cardeal em 1946 por Pio XII, em 1948 Mindszenty foi preso, torturado e condenado, após um julgamento simulado, por "alta traição, espionagem e tráfico de moeda".
Liberado durante a revolta de 1956, após oito anos de prisão, encontrou asilo político na Embaixada dos Estados Unidos em Budapeste e por muitos anos recusou o convite para encontrar abrigo no Vaticano onde chegou apenas em 1971, estabelecendo-se depois em Viena, onde faleceu em 1975. Em 1991, seus restos mortais foram transferidos de Mariazell, Áustria, para Esztergom, para ser sepultado na cripta da Basílica. Por ocasião da visita ao seu túmulo em 1991, João Paulo II o definiu como “um precioso testemunho de fidelidade a Cristo e à Igreja e de amor à Pátria”. Em 12 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco reconheceu as virtudes heroicas do cardeal Mindszenty, declarando-o Venerável.
A Igreja Húngara após a queda do muro
O fim do regime comunista permitiu à Igreja retomar suas atividades sem as limitações, em função da nova legislação sobre liberdade religiosa aprovada em 1990. Em 9 de fevereiro do mesmo ano, o Governo restabeleceu as relações diplomáticas com a Santa Sé com a qual, nos anos seguintes, estipulou dois outros importantes acordos: um sobre a assistência religiosa às forças armadas e polícia de fronteiras (1994) e um sobre o financiamento de atividades de serviço público e daquelas claramente religiosas realizadas pela Igreja Católica e sobre algumas questões de natureza patrimonial (este último foi alterado em 2013 para adaptá-lo à nova Constituição de 2011). Em 1991, o Parlamento de Budapeste também aprovou a lei sobre a restituição de bens eclesiásticos confiscados após a guerra e no ano seguinte a proposta sobre financiamento estatal às Igrejas.
Neste novo contexto foram realizadas duas Viagens Apostólicas de São João Paulo II à Hungria: de 16 a 20 de agosto de 1991 e a de 6 a 7 de setembro de 1996. Além disso, em 9 de novembro de 1997, o Papa Wojtyła também celebrou a primeira beatificação de um húngaro após a queda do comunismo: Dom Vilmos Apor, bispo e mártir morto por soldados soviéticos na Sexta-feira Santa de 1945 (2 abril). Outros mártires do regime comunista foram beatificados nos anos seguintes.
Entre os eventos marcantes da Igreja Húngara nesta primeira década da era pós-comunista recordam-se também as celebrações do Milênio Húngaro, em 2000- 2001 para comemorar o Batismo da Hungria por Santo Estêvão, ocasião em que São João Paulo II enviou uma Carta Apostólica aos católicos húngaros (25 de julho de 2001).
Os desafios pastorais da Igreja húngara no novo milênio
O fim do regime comunista marcou, assim, um renascimento para a Igreja na Hungria que hoje tem pouco mais de seis milhões de batizados, o equivalente a cerca de 61% da população e que é muito atuante em vários campos, entre os quais se destaca o da educação. Nesses anos retornaram progressivamente os muitos Institutos religiosos: hoje existem mais de uma centena (dos quatro que haviam restado). Outro sinal positivo é a vitalidade dos movimentos leigos. Lá a Igreja também pode também contar com diversos meios de comunicação católicos, entre os quais a histórica agência "Magyar Kurir", o semanário "Új Ember" e as emissoras "Magyar Katolikus Rádió”, “Szent István Rádió ”de Eger e “Radio Maria”.
Entre os principais desafios à atenção do episcopado húngaro está o processo de secularização em curso no país para o qual Bento XVI chamou a atenção por ocasião da visita ad limina dos bispos em 2008. A primeira realidade a se ressentir disso é a família que, havia afirmado o Pontífice, “também na Hungria passa por uma séria crise". Isso é demonstrado pela diminuição do número de matrimônios, o aumento dos divórcios, o declínio dos nascimentos e a prática generalizada do aborto (legal desde 1956).
E é precisamente a defesa da família um dos principais focos pastorais da Igreja húngara, que lutou com força contra todas as iniciativas destinadas a mudar seu status jurídico no país, como a lei de 2009 que reconhece as uniões homossexuais.
Os bispos também intervieram em várias ocasiões, com declarações e documentos pastorais, em defesa das raízes cristãs da Europa e da identidade católica da Hungria ameaçada pelo "neopaganismo", pelo hedonismo e "por ideias liberais radicais" que procuram impor ao país "a ditadura do relativismo", como afirma em carta pastoral dos bispos de 2009. Temas sobre os quais o governo húngaro nos últimos anos mostrou maior sensibilidade. Em 2011, a maioria do governo aprovou uma nova Constituição cujo Preâmbulo reconhece explicitamente o lugar preeminente do cristianismo na história do país indicando-o como um “fator constituinte e unificador da nação húngara”. A Lei Fundamental compromete depois o Estado a proteger constitucionalmente a vida humana desde a concepção até a morte natural (mesmo que o aborto permaneça legal). A própria maioria do governo introduziu uma nova lei sobre educação que entrou em vigor em 2013 e que prevê a hora opcional de religião nas escolas públicas.
Na perspectiva da defesa da identidade cristã da Hungria se insere, por um lado, o compromisso do episcopado húngaro com o diálogo ecumênico e, por outro, aquele para a reconciliação com as Igrejas dos países vizinhos, em particular a Eslováquia e a Romênia (onde ainda existem fortes minorias húngaras) para superar antigas tensões. Nessa mesma ótica se coloca depois o generoso trabalho em favor dos cristãos perseguidos em todo o mundo, principalmente no Oriente Médio. Numerosas as suas iniciativas em apoio às comunidades cristãs vítimas do conflito sírio. A estes somam-se as ajudas prestadas aos refugiados em campos de refugiados da região, sem distinção de credo.
Outras problemáticas no centro das preocupações pastorais da Igreja Húngara também a pobreza e a exclusão social. Em particular, neste contexto, é importante notar o importante compromisso em relação aos Rom, que representam quase 10% da população do país. Por muitos anos, a Igreja local tem estado na vanguarda de sua integração no tecido social e na sua educação. Além disso, ela realizou a primeira tradução completa da Bíblia e do Ordinário da Missa in lovari (romani), alíngua mais falada pelos Rom. No rico programa do Congresso Eucarístico Internacional realizado em Budapeste, foi incluída a celebração da primeira Missa "oficial" neste idioma.
Precisamente a solidariedade com os mais fracos e a amizade entre os povos estão entre os temas sobre os quais se articula o Congresso Eucarístico de Budapeste que tem como lema um verso de Salmo 87 "Todas as minhas fontes estão em ti", para enfatizar que o verdadeiro significado da Eucaristia é a abertura do coração e o acolhimento do outro.
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