Mosteiro de Fahr na Suíça: Jardim "Laudato sì" e um carro para vinte
Stefanie Stahlhofen – Vatican News
A noviça Judith Samson, que é também animadora "Laudato sì", explica nos microfones da Rádio Vaticano como as religiosas beneditinas do mosteiro procuram viver de forma sustentável. Cada um de nós também pode fazer a diferença.
Judith Samson, 43 anos, nascida em Münsterland, na Alemanha, é uma noviça no mosteiro de Fahr na Suíça há pouco mais de um ano. O mosteiro de religiosas beneditinas se localiza nas proximidades de Zurique. Ali, devido à pandemia, a jovem mulher teve de se submeter a uma quarentena e foi nesse período", explica ela na nossa entrevista, "que nasceu a ideia de transformar o popular jardim do mosteiro, aberto ao público gratuitamente, num Jardim 'Laudato sì'.
Jardim do prior, jardim didático, jardim “Laudato sì”
Judith Samson: O Papa Francisco publicou a Encíclica "Laudato sì" seis anos atrás, na qual convocou urgentemente cada um de nós a agir. O jardim é muito importante para os beneditinos aqui, bem como para os beneditinos em geral. Sempre foi importante: primeiro como jardim do prior, depois como jardim didático. Até 2013 havia uma escola de camponeses. Para Irmã Beatriz, a sustentabilidade sempre foi um fator muito importante, proteger as variedades e insetos, criar pastagens... Aqui estamos num oásis turístico no Vale do Limmat e as pessoas vêm em grande número, principalmente nos finais de semana. Há pessoas de todas as idades: casais, famílias e solteiros.
Quando comecei o meu noviciado, estávamos no meio da pandemia da Covid-19. Por isso, tive de fazer a quarentena e o meu quarto dava para o jardim. Vi a multidão de pessoas que ia lá e então pensei, ou melhor, o Espírito Santo falou em mim: este é o lugar perfeito para levar a mensagem do Papa Francisco às pessoas.
"Este é o lugar perfeito para levar a mensagem do Papa Francisco às pessoas".
Como você levou essa ideia adiante?
Judith Samson: Eu já era uma animadora "Laudato sì", ou seja, recebi uma formação do Movimento Católico Global pelo Clima que agora se chama Movimento Laudato sì. Eles oferecem uma formação profunda para dar um conhecimento mais profundo da encíclica a todos aqueles que querem se comprometer com a divulgação do texto, para que possam agir como multiplicadores em seu próprio ambiente e com os meios à sua disposição. Obviamente, estamos comprometidos com a oração, mas também com ações para o cuidado e a conservação da criação.
Voltar a ter contato com o Criador de uma forma concreta
Você teve uma ideia para uma ação concreta: transformar o jardim do Mosteiro de Fahr num Jardim 'Laudato sì'. Como você fez isso concretamente?
Judith Samson: Sugeri à Priora e à comunidade que colocássemos citações da encíclica em vários lugares do jardim, para que as pessoas tivessem a oportunidade não só de admirar a natureza, mas também de voltar a ter contato com o Criador. Todos acharam que era uma boa ideia, então começamos a implementá-la.
Havia uma poetisa conhecida em nosso convento, Silja Walter, que morava aqui com o nome de Irmã Maria Hedwig. Ela se inspirou muito na criação que a rodeava neste ambiente. Os seus versos e pensamentos se combinam incrivelmente com a "Laudato sì". Assim, a priora pensou que seria uma boa ideia ver se havia algumas citações de Silja Walter que correspondessem às do Papa Francisco. E assim surgiu a ideia de "colocar em diálogo" a encíclica do Papa Francisco com os versos de Silja Walter.
Você poderia nos dar um exemplo concreto desse diálogo entre a poetisa e a encíclica? Recorda algum verso ou um tema onde Silja Walter teve pensamentos semelhantes aos do Papa Francisco na 'Laudato sì'?
Judith Samson: Bem, naquela época, nos anos 70, a proteção ambiental e a preservação da criação já eram um tema importante. Ela escreveu muito sobre isso. Por exemplo, para "Fastenopfer", uma grande organização de ajuda internacional aqui na Suíça, que encarregou Silja Walter de escrever uma canção para promover o contato com igrejas e parceiros internacionais, também nos países em desenvolvimento, e ao mesmo tempo, promover a proteção da criação. Ela escreveu uma canção que dizia: "Gott gib, dass die Lauen, Lahmen, die wir doch Salz der Erde heißen, diese Welt dem Zerfall entreißen", ou seja, "Deus conceda a nós, que somos mornos e mancos, não obstante devemos ser o sal da terra, conseguir salvar este mundo da decadência". Isto, por exemplo, eu encontro muito em sintonia com a preocupação que está hoje no coração do Papa Francisco.
Quais são as reações dos visitantes, como o projeto é acolhido?
Judith Samson: Ainda é um projeto muito novo. Inauguramos o jardim na sexta-feira antes do Pentecostes, durante a Semana "Laudato sì", que voluntariamente se encerrou com o evento de Pentecostes, para que o Espírito Santo pudesse continuar a trabalhar e a nos inspirar. Vimos até agora que as pessoas estão muito interessadas em ler as placas. Dos confrades de Einsiedeln – somos, afinal, o último mosteiro duplo restante – já houve um feedback positivo.
Você acabou de dizer que, com o fim do Ano "Laudato sì" e da Semana "Laudato sì", é claro que nem tudo acabou. Precisamos levar adiante a ideia do Papa Francisco desenvolvida na "Laudato sì" e devemos continuar implementando ativamente este escrito. Para este fim, o Vaticano lançou recentemente uma nova plataforma de ação na Internet. Você já tem ideias sobre como contribuir?
Judith Samson: Já estamos a caminho, por exemplo, comprometemo-nos com o grito da terra, ou com a proteção da biodiversidade. No jardim, plantamos conscientemente ervas autóctones e plantas úteis, como ervas medicinais. Não há plantas exóticas. Alugamos a nossa fazenda e estamos convertendo-a com os critérios de agricultura biológica. Imprimimos os textos do Jardim 'Laudato sì' em cartões postais, que vendemos em nossa loja do mosteiro. A maior parte dos recursos é destinada a apoiar um projeto de "Fastenopfer" para o reflorestamento de florestas de mangue nas Filipinas, que são particularmente importantes para o sustento das famílias de pescadores locais.
"Como religiosas beneditinas, geralmente temos um estilo de vida sustentável: as 20 religiosas do convento compartilham um carro”.
As 20 religiosas do convento compartilham um carro, reciclamos o máximo possível, fazemos a coleta seletiva do lixo, também fazemos muito "upcycling" (reaproveitamento de resíduos - ndr) com ideias criativas e geralmente tentamos reduzir nosso lixo o máximo possível. O leite, por exemplo, é entregue fresco por um fazendeiro da região. Também procuramos comer de acordo com a estação: praticamente comemos apenas frutas do nosso pomar e de vez em quando compramos algumas maçãs. Alguns dos vegetais que comemos também vêm da horta "Laudato sì", assim como as ervas aromáticas. Naturalmente, como beneditinas, a espiritualidade ecológica é um dos nossos temas centrais. Incluímos a proteção da criação já em 2020, por exemplo, no Tempo da Criação em outubro, na Liturgia das Horas e nas celebrações eucarísticas. A partir do final de junho haverá visitas guiadas ao Jardim "Laudato sì" sobre os temas de espiritualidade e criação, e estamos unidas à rede de comunidades contemplativas para o cuidado da criação.
O que as pessoas comuns podem fazer em sua vida cotidiana para viver de forma mais consciente e sustentável? Você tem algum conselho concreto?
Judith Samson: O que eu particularmente gosto na encíclica é o que o Papa diz, também em referência a Teresa de Lisieux, sobre os pequenos passos: cada um pode fazer algo em seu ambiente. Ele diz que devemos apenas estar atentos e ser abertos. Por exemplo, em nosso local de trabalho, em nossa família, com os nossos amigos. Reciclar alguma coisa, diminuir um pouco o aquecimento, por exemplo, vestindo-nos um pouco mais aquecidos, economizar conscientemente a água... Todas essas coisas ajudam. São coisas pequenas para nós, mas no geral fazem a diferença. Comprar de forma sustentável de produtores regionais, talvez no mercado, e um ou outro produto do comércio justo e solidário, de acordo com nossas possibilidades.
Acredito que muitas pequenas coisas criam uma mudança de consciência, que gradualmente se tornará cada vez mais automática. Se vivermos nossa vida com a mente alerta, veremos onde é possível fazer algo mais, sem nos colocarmos sob pressão. Na minha opinião, basta tomar consciência da situação, começando pelas pequenas coisas e depois permanecer abertos, porque as coisas que podemos fazer virão por si. Estou convencida disso.
Horário de abertura e visitas ao Jardim Laudato si' do Mosteiro de Fahr
O Jardim Laudato sì do Mosteiro de Fahr fica perto de Zurique. Está aberto ao público das 8h30 às 17h30. A entrada é gratuita. O Mosteiro de Fahr oferece visitas guiadas ao jardim com a irmã Beatrice Beerli e, a partir do final de junho, também visitas guiadas sobre espiritualidade e criação com a noviça Judith Samson.
Os ingressos com citações estão disponíveis para compra na loja do mosteiro. A soma arrecadada será doada a Fastenopfer para apoiar um projeto de reflorestamento de manguezais nas Filipinas.
Para mais informações, visite o site do Mosteiro de Fahr (em alemão) ou envie um e-mail a info@kloster-fahr.ch.
O vídeo do Jardim “Laudato sì” foi produzido por kath.ch
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