Padre Matheus: um missionário exemplo de humildade e caridade
Ricardo Biazotto
Matheus van Herkhuizen, nome missionário de Petrus Canisius van Herkhuizen, nasceu em Nijmegen, Países Baixos, em 05 de julho de 1915. Membro de uma família de grande devoção, Matheus ingressou na Congregação dos Agostinianos da Assunção no início da década de 1930, seguindo os passos de dois dos seus irmãos mais velhos, padre Canísio (1910-1972) e irmão Estevão (1912-1986).
Os três irmãos missionários tiveram importante atuação por todos os lugares por onde passaram. Padre Matheus, em especial, ordenou-se sacerdote em 1942 com o sonho de iniciar o trabalho missionário no então Congo Belga (atual República Democrática do Congo), onde seu irmão Estevão trabalhava desde a década anterior. Devido a Segunda Guerra Mundial, o recém ordenado sacerdote foi impedido de viajar, porém, durante os últimos anos do conflito, teve diversas ações, como a arrecadação de comida e a ajuda para soldados ingleses saírem dos Países Baixos.
Com o fim da guerra, o sacerdote trabalhou como pastor junto a militares repatriados em Valkenswaard nos primeiros meses de 1946, antes de ser enviado ao Brasil em maio do mesmo ano, iniciando sua missão na cidade de São José do Rio Preto, onde padre Canísio atuava como sacerdote desde o fim da década anterior. Durante a primeira estadia em terras brasileiras, que durou até 1953, padre Matheus foi responsável por recrutar jovens para o seminário mantido pelos assuncionistas em São José do Rio Preto. Além disso, também trabalhou nas cidades de São Paulo, Fernandópolis e Jales.
Depois de sete anos no Brasil, padre Matheus foi enviado para uma nova missão, dessa vez em terras africanas, realizando o antigo sonho de ser missionário ao lado do seu irmão Estevão.
A missão assuncionista em terras africanas
Os religiosos assuncionistas foram os primeiros missionários a chegarem em terras congolesas e Estevão van Herkhuizen, irmão de sangue e de fé do padre Matheus, teve um importante papel nessa missão realizada no território da diocese de Butembo-Beni, no nordeste da República Democrática do Congo.
Quando chegaram na região, os assuncionistas encontraram uma terra necessitando de muitos cuidados, por isso foram responsáveis por garantir a infraestrutura básica da região, ajudando na construção de estradas, escolas, igrejas e hospitais. Quando padre Matheus chegou na África, em 1953, encontrou uma comunidade ainda em formação, que necessitava do trabalho braçal dos sacerdotes e de sua preocupação com a fé da população.
Os registros em fotos e vídeos mostram padre Matheus atendendo confissões, cuidando de doentes e ajudando na construção de edifícios. Apesar das poucas informações sobre o período do sacerdote na África, os relatos destacam a personalidade de um homem zeloso que manifestava preocupação com a saúde física e espiritual do povo atendido pelos assuncionistas.
A atuação de Matheus van Herkhuizen e de outros religiosos no país africano se encerrou em 1960, em decorrência da guerra da independência do Congo, quando diversos missionários fugiram do local por conta da desordem causada pelo conflito.
A volta ao Brasil e a fama de santidade
Depois de passar alguns meses nos Países Baixos, ao lado da família, padre Matheus foi enviado mais uma vez ao Brasil e no início de 1962 iniciou o período mais intenso de seu trabalho missionário, na cidade paulista de Espírito Santo do Pinhal.
Durante os anos na cidade, o sacerdote foi vigário paroquial, tornando-se o braço direito do pároco Monsenhor José Balbino Fuccioli (1910-1980), responsável pela paróquia do Divino Espírito Santo e Nossa Senhora das Dores, única paróquia da cidade na época. Além disso, padre Matheus atuou como professor e ecônomo no seminário recém-inaugurado pelos assuncionistas em Pinhal, trabalhando também como Assistente Superior da congregação.
Apesar da barreira linguística que em muitos momentos poderia atrapalhar a comunicação entre o sacerdote e o povo, padre Matheus marcou a vida da população local por seu jeito caridoso e zeloso, sempre preocupado em ajudar as famílias enlutadas, os doentes acamados e os casais em crise. Com seu jeito carinhoso, marcou presença nos momentos difíceis enfrentados pelos fiéis, aparecendo para socorrer, orientar e confortar os mais necessitados. Outra preocupação do sacerdote era com a educação formal e cristã dos jovens, por isso batalhou para a formalização do ensino no seminário e participou ativamente do Movimento de Cursilhos de Cristandade, realizado pela primeira vez em Espírito Santo do Pinhal em 1968.
Pela importância de padre Matheus para o município, sua morte precoce em 15 de abril de 1973, um Domingo de Ramos, entristeceu toda a comunidade, que acordou com a notícia de que um infarto fulminante havia levado o sacerdote para os braços de Deus. Durante os dois dias do velório, milhares de pessoas passaram pela igreja matriz para se despedir, incluindo espíritas, protestantes e fiéis de outras religiões, que admiravam e conviveram em harmonia com o padre Matheus durante os anos de seu trabalho missionário em Pinhal.
A importância do sacerdote para a cidade, na época com cerca de 30 mil habitantes, ficou demonstrada pela procissão do traslado do corpo para o cemitério dos religiosos assuncionistas. A distância entre a igreja e o local em que o padre foi sepultado é de mais de dois quilômetros e os relatos da época afirmam que quando o corpo chegou ao cemitério, ainda havia pessoas saindo da praça da matriz.
Padre Matheus morreu como exemplo de humildade e fama de santidade, o que rapidamente deu origem a uma devoção popular que ficou conhecida em toda a região. A partir dessa devoção, surgiram diversos relatos de graças alcançadas por intercessão do sacerdote e com isso, mais de quarenta anos após a sua morte, iniciou-se o seu processo de beatificação em 2019.
O caminho aos altares
O título de Servo de Deus foi atribuído ao padre Matheus em fevereiro de 2019, com a promulgação do Nihil Obstat. Ainda no mesmo ano, o dia 07 de dezembro ficou marcado na memória da população de Espírito Santo do Pinhal: depois de 46 anos de devoção popular, a Igreja Católica instaurou o tribunal eclesiástico que deu início ao processo diocesano de beatificação e canonização do Servo de Deus.
Após a celebração eucarística, presidida por Dom Antônio Emídio Vilar, bispo da Diocese de São João da Boa Vista, o corpo de padre Matheus foi trasladado para a igreja de São João Batista, que está sob responsabilidade da Congregação dos Agostinianos da Assunção. A partir desta data, o novo local dos restos mortais começou a receber visitas diárias de fiéis, enquanto o antigo túmulo continua sendo um local de peregrinação para muitos católicos de Espírito Santo do Pinhal e região.
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