Será apresentado livro sobre Edith Stein: diálogo judaico cristão
Ricardo Gomes – Jornalista
“Em Auschwitz, Edith Stein morre em comunhão com o povo judeu massacrado na ‘Shoah’, e, ao mesmo tempo, em comunhão com todo ser humano que com sua cruz padece no calvário da história por conta do fanatismo político e religioso. Padre Luís Carlos de Carvalho Silva- Missionário Redentorista.
Edith Stein nasceu em 1891 na Breslávia, na Polônia, e morreu como mártir no Campo de Concentração de Auschwitz, em 9 de agosto de 1942. Uma vida que revela ao mundo um caminho de conversão e de diálogo Inter-religioso. Em 1934, ingressou para o Carmelo alemão de Colônia, recebendo o nome de Teresa Benedita da Cruz. Em 1938, por questão de segurança, foi transferida para o Carmelo holandês de Echt. Em 6 de agosto de 1942 foi executada na câmara de gás no Campo de Concentração de Auschwitz. Em 11 de outubro 1998 o Papa São João Paulo II a canonizou.
“Da experiência do ateísmo, em sua juventude, se torna cristã por amor. A vida desta ilustre Filha de Israel é empática com todos os povos e, por isso, a sua história é um convite ao diálogo empático entre as pessoas, independentemente de sua tradição religiosa. Ao se tornar monja carmelita, Edith Stein (Teresa Benedita da Cruz) torna-se símbolo da profunda inter-relação do ser humano com o mistério insondável de Deus”, destaca padre Luís Carlos.
“Precisamos ver na vida da filósofa Edith Stein traços de uma pessoa que se destaca como precursora do diálogo inter-religioso, especificamente na convivência entre judeus e cristãos, tanto católicos como luteranos. Ver em Edith o fenômeno da ‘empatia’ unificando a tradição judaica e a cristã, sem minimizar e nem ‘mascarar’ os valores eternos das duas tradições religiosas. Em Stein vislumbra-se uma ‘ponte viva’ entre o judaísmo e o cristianismo vivenciados de forma coerente e amorosa. Em sua carta ao Papa Pio XI (1933) a filósofa se declara Filha da Igreja e pede que a mesma Igreja na pessoa do Sumo Pontífice se posicione na defesa do povo de Deus que estava sendo perseguido e assassinado pelo governo nazista”, comenta.
Além de filósofa, Stein atuou no campo político, pedagógico, social e teológico e dentro da perspectiva do diálogo que aproxima as religiões, com a finalidade de promover a paz e a concórdia no seio social, visto que as religiões podem formar o coração do ser humano. apresenta a base vivencial do povo de Israel que é a Aliança com o Onipotente e sua eleição, para ser luz das nações. Stein, à semelhança do povo bíblico, vive sua diáspora e nela peregrina em busca da “Verdade”, sendo fiel aos valores assimilados na religião de seus pais. A sua insistência, como filósofa, em encontrar a verdade a levou ao judeu Jesus de Nazaré, que no evangelho proclamou ser Caminho, Verdade e Vida. A filósofa se tornou discípula do Cristo e reencontrou o judaísmo.
“A controvérsia acerca da canonização de Edith Stein é esclarecida. Para os católicos, a santidade é a configuração da pessoa a Cristo, pois todos os batizados são chamados à santidade. A filósofa de Breslau foi reconhecida como pessoa virtuosa, propagadora do humanismo, mártir por ser judia e cristã e, por ter tido uma vida tão exemplar, foi declarada santa e digna de veneração pelos fiéis católicos no mundo todo. Já para os judeus, Stein cumpriu o mandamento de santificar o Nome de Deus durante a sua vida, por isso pode ser considerada Kadosh, e por ter sido mártir com seus irmãos de sangue na Shoah é reconhecida ainda como Kidush Hashem, ou seja, ela ao santificar o Nome de Deus também se santificou ao extremo da morte cruenta no Campo de Concentração”, revela padre Luís.
Desde a discórdias entre os dois povos ao longo da história e posteriormente apresenta a aproximação e empatia entre judeus e cristãos. A Igreja Católica, por meio do Concílio Vaticano II, inaugurou uma nova fase no relacionamento entre judeus e cristãos católicos, promovendo a concórdia e a aproximação entre os fiéis das duas tradições. As autoridades religiosas judaicas, também, acolheram a proposta do diálogo e, por sua vez, reconheceram os esforços de aproximação da Igreja Romana emitindo documentos que selam a paz entre seus fiéis. As duas tradições religiosas têm buscado ser sinal de fraternidade em meio às diversas realidades sociais do mundo, onde ainda existe violência e morte provocadas pela manipulação da religião em favor de certas ideologias.
Edith Stein: diálogo judaico cristão é o segundo livro de padre Luís Carlos de Carvalho. Em 2019 lançou Edith Stein: João da Cruz — Teologia e Sociedade. Publicada pela Artesã Editora, a obra apresenta a conjugação da teologia da filósofa e teóloga Edith Stein, de origem judia, edificada num momento crucial da sociedade europeia: o período Entreguerras e a dinâmica político-social que envolveram o Século de Ouro, o Século Sangrento e as primeiras décadas do século XXI. O lançamento está marcado para as 19h, no auditório padre Gabriel, no próprio Santuário.
Fotos: Jércia Gomes
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