Cardeal Sergio da Rocha: Percorrendo o caminho sinodal
Cardeal Dom Sergio da Rocha - Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Está em curso um acontecimento de especial importância eclesial, com repercussão além da Igreja Católica: o caminho rumo ao Sínodo dos Bispos. O Papa Francisco convocou toda a Igreja Católica a percorrer o caminho que culminará na XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, também denominada apenas como “Sínodo dos Bispos”, em outubro de 2023, tendo como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Em Roma, a abertura desse caminho ocorreu dia 10 de outubro; em todas as Dioceses, no dia 17 de outubro deste ano.
O tema da “sinodalidade” é de profunda atualidade, adquirindo especial importância desde o Vaticano II, principalmente no pontificado do Papa Francisco. Ele ofereceu uma reflexão teológica profunda e desafiadora sobre a sinodalidade da Igreja, em 17 de outubro de 2015, na comemoração dos 50 anos da instituição do Sínodo dos Bispos. De acordo com seu sentido etimológico, o termo grego “sínodo” significa “caminhar juntos”. A sinodalidade expressa a participação e a comunhão em vista da missão. A unidade, a variedade e a universalidade do Povo de Deus se manifestam no caminho sinodal.
Dentre as iniciativas tomadas por ele para tornar mais efetiva a sinodalidade, está a ampliação da consulta na fase preparatória da Assembleia Sinodal, como ocorre atualmente. Francisco ampliou o processo de escuta iniciado nos Sínodos anteriores, estabelecendo várias fases, com início nas dioceses, prosseguindo nos níveis nacional, através da CNBB, e continental, contando com o CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano). Contudo, o caminho sinodal não se restringe ao âmbito geográfico; revela-se ao mesmo tempo um itinerário espiritual que exige passos, como ocorre em todo caminhar.
Na homilia de abertura do Sínodo, o Papa Francisco ressaltou três verbos a serem conjugados no caminho sinodal: a) encontrar, pois necessitamos de “tempo para encontrar o Senhor e favorecer o encontro entre nós”; b) escutar, ressaltando que é preciso “escutar com o coração”, “não apenas com os ouvidos”; c) discernir os passos a serem dados.
O itinerário sinodal é um tempo especial de reflexão e vivência do tema proposto. Ele não se reduz à reflexão, mas consiste num exercício efetivo de sinodalidade. O caminho sinodal não pode restringir-se a produzir documentos ou a adotar novas palavras. A propósito, no Discurso para o Início do Percurso Sinodal, o Papa nos alerta para três riscos: 1º) formalismo; 2º) intelectualismo, pois não se pode “transformar o Sínodo numa espécie de grupo de estudo, com intervenções cultas, mas alheias aos problemas da Igreja e aos males do mundo”; 3º) imobilismo. É importante acompanhar atentamente este evento de extraordinária importância para a Igreja no mundo de hoje.
*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 24 de outubro de 2021.
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