Reflexão para o 30º Domingo do Tempo Comum
Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News
O Evangelho extraído de Marcos 10, 46-52, nos apresenta uma cena corriqueira que nos passa desapercebida. Seguindo Jesus, fazendo parte de seu grupo, temos pessoas de bem, pessoas retas, honestas, que desejam fazer o bem e não deixar de escutar o Rabi de Nazaré. Acontece que, à margem do caminho, temos pessoas que gostariam de seguir o Senhor, mas são impossibilitadas por várias causas e, às vezes, como nos relata a perícope escolhida para hoje. São os próprios seguidores do Senhor que as impedem, como foi feito em relação às crianças, como lemos em Lucas 18, 15b. Lá a reprovação de Cristo em relação a essa atitude é claríssima: Lc 18, 16. Também, no Evangelho de hoje, a reprovação de Jesus ao gesto de “blindá-lo”, é muito forte no versículo 40 quando interrompe a caminhada e manda trazer o cego até ele e dá toda a atenção perguntando o que ele deseja e lhe restitui a visão. O ex-cego sai da marginalidade e se reintegra à multidão que acompanha Jesus. Este ao abrir os olhos do cego, fê-lo ver o caminho e ele o pode seguir.
Crer e Ver, as atitudes para seguir Jesus como o fizeram Maria (“Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam” – Lc 11,28); José e outros tantos que, verdadeiramente integraram o grupo dos seguidores do Senhor.
Passar da incompreensão dos mistérios da vida, de situações difíceis e dolorosas, para aceitá-las como situações de transfiguração, onde o Senhor me retira a venda dos olhos e passo a ver além, do imanente e penetro na realidade transformadora que traz vida, ressurreição, que explica o turvo, o nebuloso e o transforma em algo cristalino. Assim devo encarar circunstâncias em que olhando para minha vida e tendo dificuldade para acolher a situação difícil como se me apresenta, digo: “esse pacote veio no endereço errado!” E exatamente, será em aceitá-lo, em procurar desfazer os nós, em abri-lo, que encontrarei a libertação e a paz, por mais paradoxal que isso possa significar. Estou trabalhando com o Transcendente, e Ele me é incompreensível porque está acima de mim. O que diriam Maria de Nazaré, o justo José que foram escolhidos “a dedo” para serem a Mãe e o pai de Jesus de Nazaré?
Do mesmo modo que Maria e José abandonaram o projeto de uma vida simples, do modo como gostariam; Maria, mais tarde, na ida para Belém, não pode levar o enxovalzinho que fizera para Jesus e, nem José, o berço que suas mãos profissionais construíram para o Filho de Deus. Ambos, após o sim dado ao Senhor, aceitaram de bom grado as dificuldades da vida. Também Bartimeu, ao ouvir o chamado de Jesus, deixou seu lugar onde pedia esmola, abandonou o manto e “num pulo” foi até Jesus. E nós, como agimos? Abrimos mão de seguranças, comodidades e de psíquicas zonas de conforto para encontrar o que realmente desejamos ou fazemos como o “homem rico” de Mc 10, 22 que, apesar de amado pelo Senhor, foi embora pois possuía muitos bens. Ele preferiu o peso e as amarras das riquezas à liberdade dos filhos de Deus! Bartimeu não e intimidou com as vozes que anulavam sua iniciativa, que o confinavam a um conformismo estéril, mas gritava, e cada vez mais alto e com maior força, “Filho de Davi, tem piedade de mim!” E foi ouvido! Bartimeu depositou tudo o que possuía na fé em Jesus e na esperança de ser curado. Ele já acreditava no Senhor. Não se deixou intimidar e nem ser constrangido. Sabia o que queria. Para isso acontecer, além da força psíquica, necessitamos, sem dúvida da graça de Deus, de ter uma vivência espiritual que nos ajude a manter nossas convicções e a não abrirmos mãos de nossas convicções de um modo fácil.
A Carta aos Hebreus, 5, 1-6, segunda leitura da liturgia de hoje, nos apresenta o grande defensor da Humanidade, Jesus Cristo, o Sacerdote, Homem como nós, o grande mediador, tirado de nosso meio para nos servir nas coisas que são de Deus. O fato de ser homem, o torna compreensivo para conosco, misericordioso, pois experimentou nossa fragilidade e se como Verbo já havia aceito a solicitação do Pai para ser nosso mediador, muito mais agora, vivendo sua humanidade, será solidário para conosco. Ele, não só cura a cegueira de Bartimeu e o reintegra na sociedade, mas também cura a nossa, nos inserindo em seu Corpo Místico e nos capacitando a sermos seus seguidores, alcançando nossa salvação.
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