Falece aos 97 anos último monge de Tibhirine
Tiziana Campisi e Cyprien Viet - Cidade do Vaticano
Durante meses, após o assassinato de seus sete confrades sequestrados do mosteiro de Tibhirine, na Argélia, na noite de 26 para 27 de março de 1996, ele se perguntou por que, junto com o irmão Amédée, havia sido poupado. Ele encontrou a resposta logo depois, em uma carta recebida da Suíça, do Mosteiro de Fille-Dieu: “Há irmãos que foram chamados a testemunhar com o dom da vida, e outros a quem foi pedido testemunhar com a vida”.
Essas palavras o livraram de todas as perguntas que o perseguiam, confessou o próprio irmão Jean-Pierre Schumacher. O religioso faleceu no dia da Solenidade de Cristo Rei, pela manhã, após ter recebido a Unção dos Enfermos. «Unidos na oração, o Altíssimo nos conceda continuar a manter 'o espírito de Tibhirine', dando testemunho a esta comunidade exemplar», escrevem os trapistas Midelt que recolheram o legado dos seus irmãos que viveram na Argélia.
Da França para a Argélia
Na trappa marroquina, junto com o irmão Jean-Pierre, o irmão Amédée Noto, viveu os últimos anos de sua vida, também ele escapado do sequestro de 1996 e falecido em 27 de julho de 2008, na França, na Abadia de Aiguebelle, departamento de Drôme.
Nascido em 1924, o último sobrevivente daquela comunidade argelina nasceu na Lorena em 15 de fevereiro. Ele estava entre os jovens alsacianos e lorenses alistados à força no exército alemão e destinados ao front russo, mas depois de contrair tuberculose, evitou a partida e, terminada a guerra, voltou-se para a vida religiosa.
Formado pelos padres maristas e ordenado sacerdote em 1953, poucos anos depois ingressou no Mosteiro trapista de Timadeuc, na Bretanha. Em 1964 foi enviado, juntamente com outros dois monges, à Argélia, então independente há dois anos, para apoiar os confrades da comunidade de Tibhirine. Foi o cardeal Léon Étienne Duval, arcebispo de Argel, quem pediu uma maior presença dos religiosos. O irmão Jean-Pierre permaneceu no país por mais de 30 anos, dando testemunho do Evangelho em uma terra predominantemente muçulmana, dilacerada pela guerra civil dos anos 1990.
O "espírito de Tibhirine"
A comunidade trapista de Tibhirine, discreta e bem integrada na população local, que desejava apenas testemunhar a sua presença evangélica cultivando o diálogo e mantendo uma convivência pacífica, foi dizimada em 1996, quando 7 monges, dos 9 que ali residiam, incluindo os Prior - padre Christian de Chergé -, foram sequestrados e depois assassinados.
O anúncio de sua execução - sobre a qual ainda restam inúmeras interrogações – foi dado no dia 21 de maio por uma nota atribuída ao Grupo Armado Islâmico (GIA).
O Irmão Amédée e o Irmão Jean-Pierre continuaram a animar o 'espírito de Tibhirine' desde então, mesmo quando tiveram que deixar a Argélia e o Mosteiro de Nossa Senhora do Atlas foi transferido para Midelt, Marrocos, recebendo os peregrinos, acreditando firmemente no diálogo inter-religioso e no testemunho da esperança cristã em terras muçulmanas.
Os sete monges martirizados foram beatificados em 8 de dezembro de 2018 em Oran, junto com 12 outros mártires religiosos da guerra civil argelina. O irmão Jean-Pierre, então com 94 anos, pôde assistir à cerimônia.
No dia 31 de março de 2019, o Papa Francisco o abraçou com grande emoção na Catedral de Rabat durante o encontro com sacerdotes, religiosos, pessoas consagradas e o Conselho Ecumênico das Igrejas, durante sua visita ao Marrocos.
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