Ir. Maria Inês: “papel da mulher na Igreja, estar presente onde a vida clama”
Padre Modino - CELAM
O processo de discernimento está avançando na Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, e pouco a pouco estão surgindo propostas concretas, fruto da reflexão nos pequenos grupos de discernimento. Isto foi divulgado na coletiva de imprensa, que nesta quarta-feira contou com a presença da irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, presidente dos religiosos brasileiros, da jovem dominicana Yamille Morillo, do jesuíta colombiano Alfredo Ferro, secretário executivo da CEAMA, e do cardeal Álvaro Ramazzini.
“Esta é uma oportunidade para retomar tudo o que os jovens experimentaram nos últimos anos e começar a tomar medidas concretas", disse a jovem Yamille. O padre Ferro considera esta Assembleia como um Kairós, um tempo de profunda conversão que exige uma Igreja em saída missionária, misericordiosa, mas sobretudo uma Igreja que escuta, particularmente aqueles que estão na periferia, uma Igreja ministerial, com uma nova ministerialidade, especialmente para as mulheres, sacerdotes casados e outros ministérios.
Segundo o jesuíta colombiano, devemos buscar uma Igreja que seja uma comunidade de comunidades, uma Igreja que inverta a pirâmide, como nos diz o Papa Francisco, que transforme suas estruturas e empreenda uma luta implacável contra o clericalismo. Uma Igreja capaz de inculturação e com uma liturgia que reflete a vida, uma liturgia sem pompa. Uma Igreja que se compromete com os cuidados da Casa Comum.
De sua realidade diária, o cardeal Ramazzini falou do problema do tráfico de drogas, da guerra dos cartéis, de seu trabalho transfronteiriço entre sua diocese de Huehuetenango e a de San Cristobal de las Casas, no México. Alguém que participou da Conferência de Santo Domingo, do Sínodo da América e Aparecida, diz ter visto o desenvolvimento de uma Igreja na América Latina e no Caribe que quer estar muito atenta aos sinais dos tempos e que quer responder a problemas muito concretos, diante de uma realidade que nos desafia.
Esta é uma experiência sem precedentes, segundo o cardeal guatemalteco, que tem suas raízes na presença do cardeal Bergoglio em Aparecida, onde ele foi coordenador da comissão de redação. Foi ali, segundo o cardeal Ramazzini, que nasceu a ideia de realizar uma assembleia eclesial com a participação de todos os membros do Povo de Deus, uma experiência sem precedentes, mas muito desafiadora, porque se trata de uma nova iniciativa.
Dois dos grandes desafios que os jovens enfrentam é recriar o acompanhamento com os jovens, segundo Yamille Morillo, para acompanhar com dignidade todos os jovens a partir de sua realidade de orientação sexual, cultura, crenças, “que a Igreja venha para caminhar conosco, a partir de nossas perspectivas”. É necessário "valorizar nosso compromisso, temos realizado muitas reuniões em todos os níveis para que nossas vozes sejam levadas em conta aqui, para que nosso protagonismo seja reconhecido em todos os processos da Igreja, também nesta Assembleia", insistiu a jovem dominicana.
Na América Latina, os jovens enfrentam problemas muito sérios, segundo o bispo de Huehuetenango, com uma crise muito profunda na família e uma violência institucionalizada, como consequência dos conflitos armados que ocorreram. Isto criou uma falta de respeito pela vida. A juventude das comunidades indígenas sofre com a falta de oportunidades, uma das causas da migração, o que leva ao desenraizamento, uma questão que também precisa ser analisada pastoralmente. O mesmo vale para o relativismo ético, que leva a um estilo de vida com valores éticos deixados de lado.
O protagonismo juvenil é visto como ponta de lança a ser considerada a partir desta Assembleia, segundo a Irmã Maria Inês. No Brasil também está presente aquilo que denuncia o cardeal. “Não podemos ficar só na escuta, tem que haver respostas, o que mais esperamos desta Assembleia Eclesial é que possamos nos unir em torno de respostas concretas”, insiste a religiosa brasileira. Junto com isso a importância de discernir, “estamos perdendo a juventude, o protagonismo da mulher e dos pobres”, insiste. Daí a necessidade de pistas pastorais concretas, “pois sem respostas os processos eclesiais vão se esvaziar rapidamente”. Também chamou a superar a chaga do clericalismo.
Na véspera do Dia internacional da Eliminação da Violência contra a mulher, - celebrado nesta quinta-feira - a presidente da vida religiosa no Brasil relatou o trabalho da Pastoral da Juventude nesse sentido e o empenho da Vida Religiosa para combater a violência, ainda mais considerando o crescimento do feminicídio no Brasil durante a pandemia. Uma vida religiosa profética, com opção preferencial pelos pobres, que não discute em torno à ordenação das mulheres, e sim a presença feminina nos processos decisórios. Ela afirmou que “a ordenação pode levar a mulher a se encerrar na sacristia”, mostrando sua preocupação com a formação dos futuros sacerdotes. Segundo a religiosa, “as mulheres são mais voltadas para a vida, o papel da mulher na Igreja é estar presente onde a vida mais clama”.
No mesmo campo das mulheres, Yamille denunciou a negação da participação das mulheres em cargos de liderança na Igreja. Nas paróquias e comunidades, o papel das mulheres é importante, elas são líderes, mas faltam espaços de liderança para as mulheres na Igreja, "nos é negado", insistiu ela. Este é um desafio iminente que está sendo discutido nesta Assembleia Eclesial, que exige ações concretas para reconhecer as posições de liderança das mulheres na Igreja e a necessidade de espaços seguros para as mulheres vítimas de violência. É por isso que ele pediu para quebrar paradigmas, para poder ter respostas.
Falando de migrantes, o cardeal Ramazzini denunciou as máfias, apelando para uma maior ação dos governos contra elas, porque o sofrimento do povo está em jogo. O bispo de Huehuetenango denunciou o fato de que "em nossos países não são gerados empregos ou eles são mal pagos, a reestruturação da economia é fundamental", criticando a política de migração do governo mexicano. Ele também denunciou a falta de comprometimento das organizações internacionais, que não demonstram que estão dando respostas aos problemas muito concretos que lhes são colocados e que não levam em conta as necessidades reais das pessoas.
Padre Ferro insistiu na necessidade do compromisso da Igreja com a situação atual, para levar em conta o que está acontecendo nos territórios, os gritos dos pobres, dos jovens, das mulheres, mostrando a necessidade de respostas pastorais concretas. Falando sobre a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), ele mostrou que grandes intuições para a Igreja estão surgindo da periferia. Seu secretário executivo descreveu alguns dos desafios enfrentados pela CEAMA, que quer delinear um plano pastoral como um todo, listando algumas das necessidades urgentes que ela enfrenta. Entre eles está o de promover o cuidado da casa comum e dos povos indígenas que sofrem, como está acontecendo atualmente com os Yanomami no Brasil.
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