Cardeal Zenari: o drama esquecido da Síria, mas as pessoas ainda sofrem
Eugenio Bonanata, Silvonei José – Vatican News
"A primeira coisa que eles me pedem é ajuda para emigrar". É com dor que o núncio apostólico na Síria, o cardeal Mario Zenari, fala do desejo que sobretudo os jovens sírios manifestam quando o encontram. "Não veem um futuro", explica o cardeal, evocando uma imagem tristemente reveladora da situação do país no momento: "no escuro, no frio e na fila em frente às padarias que vendem pão a preços regulados pelo Estado". As condições estão no limite da subsistência de uma grande parte da população.
As pessoas se endividam para emigrar
"É a catástrofe humanitária mais grave desde o fim da Segunda Guerra Mundial", diz o núncio, que observa que mais uma vez o tema foi destaque na mensagem do Papa Francisco Urbi et Orbi, no dia de Natal. Para muitas famílias sírias, a única solução no horizonte é partir. "Tantos recentemente partiram para a Europa e estão agora parados na Ucrânia", advertiu o cardeal. E não é tudo: "Soube de fontes diretas que as famílias pagam aos traficantes cerca de 20 mil dólares para chegar ao Velho Continente". Custos exorbitantes para o nível de vida nesta realidade. "As pessoas vendem o pouco que têm, endividam-se, e depois talvez serem forçadas a retornar”.
"A dor dos sírios passa despercebida"
Informações que recordam ao Ocidente o que leva os sírios a deixarem as suas terras e os seus afetos. No entanto, segundo o cardeal Zenari, o risco é que o mundo ignore a tragédia síria. Durante os últimos dois ou três anos", disse ele, "a Síria foi esquecida: as notícias sobre ela já não encontram espaço nos meios de comunicação social e por isso o grito de dor de tantos dos nossos irmãos e irmãs não é ouvido. O sofrimento é aliviado pela ajuda que chega constantemente ao povo, também através da Nunciatura.
Necessária a ajuda internacional
O cardeal Zenari expressou a sua gratidão aos muitos "bons samaritanos". Entre eles", acrescentou, "não há apenas as pessoas com posses, mas também os menos abastados. E comovo-me com a generosidade deles: são gotas de água ou torneiras no deserto. Estamos tentando aumentar essas torneiras, mas precisamos que a comunidade internacional abra um rio de ajudas para a Síria". O cardeal recorda que, segundo os peritos, são necessários pelo menos 400 mil milhões de dólares para iniciar a reconstrução, colocar a economia de novo no bom caminho e devolver a esperança à população.
O projeto "Hospitais abertos
Entretanto, é incansável o trabalho caritativo realizado pelos poucos cristãos que restaram no país. Um dos projetos ativos diz respeito ao setor da saúde quase completamente inexistente. Chama-se "hospitais abertos" e consiste em prestar assistência aos pobres em três estruturas católicas, duas em Damasco e uma em Aleppo. "Em quatro anos, 60 mil pessoas de qualquer pertença étnica ou religiosa foram curadas gratuitamente. Um projeto que também visa a reconstrução social. Muitas famílias muçulmanas", disse dom Zenari, "ficaram surpreendidas com a generosidade dos cristãos. E é assim que tentamos encorajar o diálogo e a convivência entre as religiões, o que é muito importante".
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