Mosteiro de São Bento em Campos dos Goytacazes tombado pelo Estado
Ricardo Gomes – Diocese de Campos
Agora é lei. O Mosteiro de São Bento em Campos dos Goytacazes foi tombado pelo INEPAC - Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro e em lei assinada pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro no dia 23 de novembro de 2021. Com essa lei o prédio e todo o conjunto arquitetônico formado pela Igreja, residência e cemitério passam a ser reconhecidos como patrimônio estadual.
A construção remonta à chegada dos monges beneditinos a Campos dos Goytacazes em 1648, com o início da presença monástica na cidade e região. O Mosteiro de São Bento é uma típica construção da arquitetura colonial religiosa com dois pavimentos de linhas sóbrias e imponentes.
Um patrimônio importante para a arquitetura religiosa campista e um marco na presença dos religiosos que deixaram um importante legado de fé e de cultura. Os monges beneditinos foram os pioneiros na construção da sociedade e dos aspectos culturais. Construção de igrejas, escolas e a formação religiosa dos campistas. O Bispo de Campos, dom Roberto Francisco Ferreria Paz destaca a importância histórica do prédio e da importância artística.
Dom Roberto diz que o Mosteiro pode ser um espaço para a implementação do turismo religioso e da promoção cultural religiosa e da preservação da memória histórica preservada em prol de uma história viva, história da evangelização da planície campista e a importância para o Estado do Rio de Janeiro.
“Primeiro é um destaque a importância histórica que tem esse prédio dos beneditinos de longa trajetória que mostra o início da evangelização e sua importância artística que de todo o depoimento há uma forma arquitetônica, mas o mais relevante é o financiamento para a conclusão da restauração. E neste momento o importante é a operacionalidade desta lei que determina o tombamento e a conclusão do processo de restauro, mobilizando recursos seria o centro da questão”, disse dom Roberto Francisco.
Além de trabalharem na implantação da fé católica, os religiosos deixaram grandes contribuições na educação e cultura. O primeiro monge, Frei Fernando de São Bento, foi importante no início da colonização da cidade, sendo administrador das terras de Salvador Correa.
Os monges ao longo dos séculos deram grandes contribuições à terra campista. O mosteiro foi construído no século XVII com rico acervo de arte sacra. Imagens e altares em madeira foram destruídos num incêndio em 1965. Segundo relatos as imagens de São Bento, Santa Escolástica e Nossa Senhora do Rosário eram em madeira.
“Nossa presença em Campos — quase 400 anos —, vai muito além de uma presença física. Com ela foi expandida a espiritualidade beneditina — o ora et labora/ reza e trabalha — e também a expansão da fé católica através da construção de igrejas, capelas, oratórios, tanto em Mussurepe quanto no Farol. A irradiação beneditina além da fé e da espiritualidade alcançou as pessoas em geral despertando um novo olhar para a educação, o trabalho agrícola, o cultivo da arte, as relações familiares, os valores humanos e morais — tudo isso a partir das relações estabelecidas com os monges residentes no referido mosteiro", disse dom Abade Filipe Silva.
O diácono Adelino Barcelos Filho ressalta que é importante a preservação do patrimônio por intermédio da aplicação de legislação específica, os bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população da Baixada Campista e regiões circunvizinhas, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados.
“Sabemos também, que tudo nessa vida passa, mas não podemos privar o direito das novas gerações em contemplar, conhecer os fundamentos de suas existências familiares e sociais e até o entendimento do que vivem, hoje. Pois, é inegável a contribuição dos monges beneditinos da Ordem de São Bento É gratificante constatar que existe esta preocupação social com os valores históricos, como construção de uma sociedade cidadã, liberta de ideologias nocivas, que atravancam o crescimento humano e cultural”, comenta.
Um sonho coletivo
A presença dos monges beneditinos é marcada pelo desenvolvimento da região nos aspectos culturais e religiosos. Uma presença transformadora e muito viva na memória coletiva. Dentre os religiosos alguns se destacaram pela missão de promover transformação na realidade social e cultural. As tradições festivas revelam a missão evangelizadora dos monges beneditinos no município de Campos dos Goytacazes.
As festas religiosas e as devoções aos santos de origem monástica: Santo Amaro e São Bento conquistaram toda a região e atraem fiéis. Santo Amaro se tornou um dos grandes centros de peregrinação e caminho de fé. Espaço de memória das famílias que conheceram os princípios da fé na mística monástica de São Bento. Recordações de um tempo que recorda o início da construção dos pilares de fé que construíram a presença da Diocese de Campos, no limiar do Centenário de criação que será celebrada no dia 4 de dezembro de 2022.
“Com muita alegria comemoramos a notícia acerca do tombamento histórico do Mosteiro de São Bento, localizado no coração da Baixada Campista, em Mussurepe. O Mosteiro é a marca mais evidente e concreta da presença beneditina nas terras dos Campos dos Goytacazes. Sua história se entrelaça com a história do grande Município de Campos e da própria antiga Capitania de São Tomé. Dos primeiros momentos da presença dos colonizadores na vasta Planície Goitacá, a Ordem de São Bento esteve presente a semear o Evangelho de Cristo no coração da nossa gente. Preservar esse monumento à religiosidade e à cultura da gente campista é como sempre foi, um dever de nossa sociedade, dos governantes e da própria Igreja, que teve nos Monges de São Bento os incansáveis missionários da Fé. Parabéns a todo o povo campista e à querida Ordem de São Bento. Ora et Labora,” revela o diácono Luiz Kleber Paravidino Júnior.
Reconstruir histórias: um espaço de preservação da memória
O Mosteiro de São Bento representa um espaço marcado por histórias. Famílias que foram formadas ao longo dos séculos e que guardam na memória coletiva momentos importantes. Casamentos, batizados e no momento da dor a presença dos monges beneditinos, verdadeiros desbravadores da fé e implementadores da cultura cristã.
Desde sua chegada a Campos, em 2013, logo após o falecimento de dom Beda Gonçalves o atual administrador, dom Bernardo Queiroz vem lutando para resgatar um pouco da originalidade. Em 1965 o mosteiro campista perdeu parte do conjunto artístico com um incêndio que consumiu as imagens de São Bento, Santa Escolástica e Nossa Senhora do Rosário, de madeira e os altares. Nesse tempo, dom Bernardo conseguiu resgatar o original com a colocação das imagens em resina.
“Falar do Mosteiro de São Bento em Campo dos Goytacazes, 372 anos é falar de uma longa história religiosa em Campos registrada no coração de todas as pessoas da Baixada Campista. Nestes séculos de história na história dos campistas”, revela dom Bernardo.
Um patrimônio arquitetônico
O arqueólogo Cláudio Prado de Melo ressalta a importância do tombamento e da preservação do Mosteiro campista. O Mosteiro de São Bento é uma típica construção da arquitetura colonial religiosa com dois pavimentos de linhas sóbrias e imponentes. É um prédio dotado de capela e convento contando ainda ao lado desta mesma capela com um cemitério. Em sua fachada principal podem ser vistas portas de madeira almofadada e janelas em madeira tipo guilhotina, com vergas em arco abatido contornadas por cimalha de argamassa. O frontão da capela tem volutas pouco trabalhadas e possui aos seus lados dois pináculos de argamassa. Possui somente uma torre sineira em formato quadrangular, porém com arestas quebradas por outras de muito menores dimensões insinuando uma planta levemente octogonal. A cobertura da torre em tronco de pirâmide de base quadrada tem dispostos em seus quatro cantos mais quatro pináculos, e demais arremates, todos sinalizando para interferência, muito provavelmente, do século XX.
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