Cristãos na Argélia redescobrem atualidade dos Padres da Igreja

“Quem não sabe de onde vem não sabe para onde vai”. Esta é a intuição que levou alguns cristãos da Diocese católica de Constantine, na Argélia, a iniciar um "itinerário em etapas", para redescobrir a riqueza e a atualidade dos acontecimentos e personagens que marcaram a história das comunidades cristãs dos primeiros séculos na Argélia e nos outros países do Magreb.

A iniciativa, articulada em quatro etapas, teve início em setembro de 2021 e terá continuidade nos próximos meses. Informações sobre as excursões já realizadas e sobre os futuros programas do percurso são apresentadas no site da diocese por Irmã Rosalie Sanon, das Irmãs da Anunciação de Bobo Dioulasso, em um breve relato que expressa de forma simples e eficaz o espírito da iniciativa e também a gratidão repleta de encanto partilhada pelos participantes diante da descoberta dos tesouros guardados pela memória do antigo cristianismo norte-africano.

O itinerário seguido pela comunidade católica da região, com a participação do bispo Nicolas Lhernould, permite realizar uma verdadeira viagem por sete séculos de história, à descoberta de Santos, Padres da Igreja, textos antigos, visitando também os sítios arqueológicos que foram testemunhas dessas grandes aventuras de fé.

Acontecimentos e situações - como as controvérsias envolvendo o arianismo e a heresia donatista - que contribuíram para definir a doutrina da Igreja e a própria natureza da experiência cristã, continuam a representar um ponto de referência paradigmático para todos os tempos, no que diz respeito às dinâmicas próprias e incomparáveis, por meio das quais o Evangelho é anunciado e a fé em Cristo é comunicada de pessoa a pessoa.

Guiados pelo bispo Nicolas, os participantes repassam acontecimentos históricos ligados aos reinos da Numídia e ao Império Romano, às paixões dos primeiros mártires, às controvérsias dos "lapsi", os batizados que, depois de terem negado a fé em tempos de perseguição, pediram para ser readmitidos na comunidade, deparando-se então com a recusa "rigorista" dos donatistas.

Uma viagem no tempo que leva os participantes a mergulhar na riqueza de culturas e povos (berberes, númidas, romanos, vândalos, bizantinos) e a repercorrer as histórias de personagens que marcaram a história daquelas terras, do soberano berbere Massinissa, primeiro Rei da Numídia unificada, aos Santos Mártires Tiago e Mariano, até Cipriano, Ottato e, obviamente, a Santo Agostinho de Hipona.

As excursões aos sítios arqueológicos de Tiddis e Timgad - informa o relatório elaborado pela Irmã Rosalie - foram coordenadas pelo padre Michel Guillaud, enquanto as visitas a Djemila e Sétif foram acompanhadas por palestras do bispo Lhernould, concentradas nos temas da oração dos primeiros cristãos, da celebração dos sacramentos nos primeiros séculos e da transmissão da fé no contexto político e cultural do Império Romano.

Nas várias etapas do caminho, foram continuamente evocados os nomes de Cipriano, Agostinho, de seus pais Patricius e Mônica, de Fulgêncio e outras grandes testemunhas do Oriente dos primeiros séculos cristãos, como Justino e Inácio de Antioquia.

Nomes que remetem a uma experiência de fé vivida em tempos de adversidade, em meio a diferentes culturas e povos. Uma aventura marcada pela riqueza de ritos, palavras e símbolos que podem alimentar a oração de quem tem o dom de partilhar hoje a mesma experiência.

Os próximos dois momentos do programa organizado pela Diocese de Constantine terão lugar na primavera: seguindo os passos de Santo Agostinho, os participantes da iniciativa visitarão Souk-Ahras, Madaure, Hipona e Guelma. Em seguida, na região de Tebessa, eles mergulharão nos acontecimentos das comunidades cristãs locais nas épocas marcadas pelo domínio vândalo e bizantino.

*Com Agência Fides