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Mural com imagem de padre Rutílio Grande Mural com imagem de padre Rutílio Grande 

Rutilio Grande, o postulador: seja modelo de reconciliação para El Salvador

O jesuíta padre Pascual Cebollada SJ, encarregado do processo de beatificação em Roma da causa do padre Rutilio, Nelson Lemus e Manuel Solórzano, foi a San Salvador representando a Companhia de Jesus na cerimônia de beatificação: "Os mártires, exemplo de evangelização na América Latina"

Manuel Cubías e Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

"Ele foi morto por ódio à fé porque defendia a justiça, o amor, a fraternidade em seu país em tempos muito difíceis. Fazia isso com a vida e com as palavras. Esperamos que ajude a reconciliação em El Salvador e também em outros lugares como modelo de justiça”.

São palavras apaixonadas com que o postulador da causa de beatificação, o padre jesuíta Pascual Cebollada SJ, recorda Rutilio Grande, o sacerdote da Companhia de Jesus assassinado em 1977 por ódio à fé por seu compromisso com os camponeses, os pobres e os fracos de seu país, que a Igreja proclama Beato em San Salvador.

Com ele, em uma cerimônia presidida pelo cardeal Gregorio Rosa Chávez neste sábado, 22 de janeiro, juntamente com 25 bispos e 600 sacerdotes, e para a qual são esperadas mais de 5 mil fiéis, serão elevados às honras dos altares Manuel Solórzano e Nelson Rutilio Lemus, os dois agricultores leigos - na época com 72 e 15, respectivamente - que naquela terrível tarde de 12 de março de 45 anos atrás viajavam junto com o “padre Tilo”, como era conhecido, no carro zafari com destino ao povoado de El Paisnal. Os disparos de metralhadora fizeram com que o carro capotasse: somente o padre Rutilio foi atingido por doze tiros.

Um processo ágil

 

As manchas de sangue num lenço de pano branco, com o nome do jesuíta bordado num canto, tornaram-se uma relíquia, levada na sexta-feira do Museu dos Mártires à Comissão que trata da beatificação. Diante daquele pano que o padre Grande carregava no bolso no momento do assassinato, os fiéis de El Salvador puderam rezar e agradecer ao novo beato, mesmo gesto do padre Cebollada, que por seis anos trabalhou na Causa: um trabalho que avançou "rapidamente", como explicou ao Vatican News.

O postulador, de fato, diz estar “surpreso e maravilhado com o pouco tempo que essa causa levou para chegar à beatificação”. “Segundo a minha documentação, tudo teve início em 2014, não obstante o pedido para a beatificação tenha sido apresentado oficialmente em 2015. Não fosse a pandemia, teria sido beatificado mesmo um ano antes. Seis anos por uma Causa é realmente pouco”.

Trabalho de pesquisa

 

Cebollada destaca a grande colaboração entre o Arcebispado de San Salvador e a Companhia de Jesus na América Central, "orgulhosa deste seu membro", para que o processo fosse realizado rapidamente, e que também recebeu a contribuição das pesquisas realizadas por Rodolfo Cardenal S.J. sobre a vida do Padre Rutilio, Nelson Lemus e Manuel Solórzano, presentes em várias publicações.

No que diz respeito à vida do padre Rutilio, foi de grande ajuda contar com o trabalho realizado para a causa de canonização de monsenhor Óscar Arnulfo Romero, arcebispo salvadorenho assassinado em 1980 pelos esquadrões da morte, e ligado ao padre Rutilio por uma profunda amizade.

Mais difícil, porém, encontrar informações sobre Lemus e Solórzano, o que, em alguns momentos, representou um entrave à causa. "Não se pode beatificar ou canonizar quem não sabe quem foi", explica o postulador. "Muitas informações foram coletadas de Roma e a própria Companhia de Jesus as investigou, ouvindo os depoimentos de familiares e conhecidos". Em “não mais” do que um mês foi coletado o material necessário para que a causa prosseguisse. "Não temos a quantidade de informações como para a vida de Rutilio, mas foram suficientes". Todo o material - "750 páginas, uma espécie de tese de doutorado" -, portanto composto por depoimentos orais e escritos, foi enviado à Congregação para as Causas dos Santos, que o estudou e julgou. Última etapa, a aprovação do Papa que, diz o postulador, “guarda em sua capela um escrito do padre Rutilio, na época em que era provincial em Buenos Aires”.

A relíquia, um vestígio da presença do mártir

 

Padre Cebollada participou na quinta-feira da apresentação e entrega da relíquia de Rutilio Grande que estará presente na cerimônia de beatificação deste sábado. A relíquia, diz ele, é "um vestígio da presença, da encarnação" do beato e a possibilidade de ser levada em peregrinação a diversos lugares do país pode ser uma forma de recordar o exemplo desses mártires, em particular para a evangelização dos leigos na América Latina. “Será também uma forma de recordar a celebração de hoje e dar graças a Deus”.

Os caminhos da santidade

 

Os quatro mártires - com eles também o franciscano Cosma Spessotto - são beatificados porque foram mortos "por ódio à fé", recorda por fim padre Cebollada. É esta uma expressão dura que, no entanto, "implica em si o amor de Deus e o amor ao próximo".

“No processo se estuda e investiga para mostrar que essas pessoas viveram uma vida boa. Não é necessário que tenham tido uma vida extraordinária, e não é uma questão de convenções ou uma questão política, mas religiosa. Neste caso, lembrando as investigações realizadas no passado, foi evidente que Rutilio, Nelson e Manuel viveram uma vida de repleta de virtudes. Virtudes que os levaram a estar prontos para morrer e perdoar aqueles que os mataram".

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22 janeiro 2022, 07:13