Busca

Fiel ucraniana com o crucifixo na Praça da Independência, em Kiev Fiel ucraniana com o crucifixo na Praça da Independência, em Kiev 

De Paris, as orações dos greco-católicos pela Ucrânia

"Cada vez que um regime russo, seja czarista, comunista ou putinista, toma uma parte da Ucrânia onde estamos instalados, nossa Igreja é destruída", observa Dom Borys Gudziak, da Igreja Greco-Católica ucraniana, ex-bispo de Paris, atualmente arcebispo de Filadélfia (Estados Unidos),

Na Catedral de Saint Volodymyr le Grand, em Paris, pinturas de mártires da Europa Oriental estão ao lado de fotos de vítimas da repressão do levante de 2014 na Ucrânia. E as orações são dirigidas aos soldados que defendem "a pátria" contra a invasão russa.

"Que o Senhor proteja (...) aqueles que sofreram as consequências da guerra", recita um sacerdote em francês durante a Missa. "Rezemos novamente para que Deus olhe por todos os soldados que cumprem seu dever de proteger e defender a pátria".

A súplica, destinada aos militares, corresponde "à realidade da guerra", quando "há feridos, mortos", observa o padre Ihor Rantsya, reitor da catedral, entrevistado pela AFP. "Durante a pandemia, rezamos por hospitais e pelos profissionais de saúde. Agora lemos esta passagem. A fé não é algo abstrato."

A realidade ucraniana é de fato onipresente na pequena igreja construída no século XVI, em um bairro no centro de Paris, onde as pregações são feitas na língua de Kiev. A bandeira nacional azul e amarela tremula ao lado de uma bandeira francesa. Em uma parede há uma pomba da paz desenhada. Os rostos de uma centena de "heróis", mortos em 2014 pelo então governo ucraniano pró-Rússia durante os protestos na Praça Maidan, no centro de Kiev, parecem olhar para o altar.

Fundada no final do século X, a Igreja Greco-Católica Ucraniana, com cinco milhões de fiéis, incluindo mais de 4 na Ucrânia, é definida por seu lado "pró-europeu", explica padre Ihor. Colocada sob a jurisdição de Roma desde 1596, está muito mais próxima do modelo de sociedade ocidental do que russa, acrescenta.

"Cada vez que um regime russo, seja czarista, comunista ou putinista, toma uma parte da Ucrânia onde (estamos) instalados, nossa Igreja é destruída", observa Dom Borys Gudziak, ex-bispo de Paris, agora arcebispo de Filadélfia (Estados Unidos), questionado após o reconhecimento pelo presidente Vladimir Putin da independência das regiões separatistas do leste da Ucrânia.

Cerca de 400.000 greco-católicos ucranianos foram deportados para a Sibéria após a Segunda Guerra Mundial. As igrejas ativas nos territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Luhansk foram fechadas após 2014, segundo o padre Ihor.

"Nossa Igreja conhece a história e conhece seus perigos", diz Dom Borys, citando o Holodomor, a grande fome orquestrada pelo regime soviético, que matou milhões de ucranianos na década de 1930. E elogia a liberdade de religião e expressão existente na Ucrânia e na Europa, enquanto o regime russo "reprime".

“O nível de estresse está aumentando” entre os paroquianos, “alguns dos quais estão se aproximando da depressão”, lamenta padre Ihor, 42 anos, que confidencia que ele mesmo tem dificuldade em desligar o telefone em busca de informações sobre seu país.

Os fiéis “perguntam-nos como reagir, como estar nesta situação de cristão, como amar os inimigos”, diz. "Como podemos amar Putin?".

Dom Borys confia assim “rezar” pelo presidente russo, “pela conversão de seu coração, porque o que ele está fazendo é devastador para seu povo, e ainda mais para a Ucrânia”. E o arcebispo de Filadélfia acrescenta “acreditar em milagres”, mesmo para um homem com as características de Putin.

*Com AFP

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

24 fevereiro 2022, 10:55