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Mediterrâneo, fronteira de paz contra o "naufrágio de civilização"

Voltam a ressoar em Florença as palavras do Papa Francisco pronunciadas na Grécia em dezembro passado: "Não deixemos que o mare nostrum se transforme num desolador mare mortuum. Não permitamos que este «mar das memórias» se transforme no «mar do esquecimento». Por favor, irmãos e irmãs, paremos este naufrágio de civilização!”

Bianca Fraccalvieri - Florença

O Papa Francisco estará ausente fisicamente, mas não os seus esforços por uma migração digna, que inspiram o trabalho de inúmeros participantes do encontro “Mediterrâneo, Fronteira de Paz”.

De um lado, o poder político e, de outro, o poder eclesial. Bispos e prefeitos de sessenta cidades debatem inúmeros temas de atualidade, inclusive a guerra na Ucrânia, que foi duramente condenada por parte da Igreja.

A poluição das águas, a proteção ambiental, a campanha de vacinação foram alguns dos assuntos na agenda. Mas certamente um dos desafios mais urgentes é o da migração.

Em dezembro passado, visitando a ilha de Lesbos, na Grécia, o Papa havia lançado um forte apelo para deter o “naufrágio de civilização”:  

“O Mediterrâneo, que durante milênios uniu povos diferentes e terras distantes, está se tornando um cemitério frio sem lápides. Esta grande bacia hidrográfica, berço de tantas civilizações, agora parece um espelho de morte. Não deixemos que o mare nostrum se transforme num desolador mare mortuum, que este lugar de encontros se transforme no palco de confrontos. Não permitamos que este «mar das memórias» se transforme no «mar do esquecimento». Por favor, irmãos e irmãs, paremos este naufrágio de civilização!”

A visita do Pontífice a Florença incluía também um encontro com migrantes e refugiados. Um deles, Joseph Destiny, é um jovem nigeriano de 28 anos. Como todos, estava entusiasmado para encontrar o Santo Padre:

“Eu estou feliz, porque encontrando-o é como encontrar Deus diretamente. Fiz muito para estar em paz com este mundo.”

O testemunho de Joseph parece exagerado, mas ele tem motivos para afirmá-lo. Ao abandonar a Nigéria por motivos familiares, depois da morte do seu pai, o jovem fez justamente a rota que o levou aos "lager" da Líbia e, de lá, a travessia do Mediterrâneo numa embarcação até Lampedusa, sul da Itália. Foi obrigada a superar inúmeras dificuldades e provações até conseguir documentação e hoje trabalhar como agente da Caritas em Florença. É conhecendo a sua história que a frase "fiz muito para estar em paz com este mundo" faz sentido, assim como seu agradecimento ao Papa Francisco. Ao Pontífice, disse Joseph, o pedido seria de continuar a lutar por um mundo mais fraterno, onde deixar o próprio país seja uma escolha e não uma obrigação.

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26 fevereiro 2022, 12:00