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Dom Charles Scicluna Dom Charles Scicluna 

Arcebispo de Malta: a visita do Papa nos dará esperança!

O Arcebispo de Malta, Dom Charles Scicluna, faz um premente apelo por uma maior cooperação por parte da Europa, a fim de que o “mare nostrum”, que, muitas vezes, se tornou um cemitério, seja cenário de uma corresponsabilidade concreta. A um mês e meio da visita que Papa Francisco realizará à Ilha, o desejo é que o Pontífice possa dar a energia necessária para o pós-pandemia

Antonella Palermo - Vatican News

Terá lugar em Florença, de 23 a 27 de fevereiro próximos, um encontro intitulado "Mediterrâneo, Fronteira de Paz", promovido pela Conferência Episcopal Italiana. O evento, que contará com a participação de cerca de sessenta Bispos e muitos Prefeitos dos países banhados pelo Mar Mediterrâneo, dará continuidade ao realizado em Bari, em 2020, com uma série de reflexões eclesiais, mas também sobre a sociedade civil e o destino do “mare nostrum”.

Para a ocasião, a Rádio Vaticano entrevistou um dos participantes, o Arcebispo de Malta, Dom Charles Scicluna, que, por sua vez, será o anfitrião da visita que o Papa fará a Malta, de 3 a 4 de abril próximo:

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Dom Scicluna, no encontro de Florença, "Mediterrâneo, Fronteira de Paz", os participantes assinarão um documento final. O que o senhor gostaria que o documento tratasse?

Eu diria que o compromisso com o diálogo é o caminho que nos levará a um mar compartilhado, em harmonia e justiça. Nós, habitantes do Mediterrâneo, - Malta está ao centro físico, geopolítico e cultural deste Mar - gostaríamos que o que este mar, que, às vezes, se torna um cemitério, fosse um ambiente de esperança para o povo, mas também um cenário de solidariedade. Por isso, é preciso a corresponsabilidade de todos. Espero, sinceramente, que o “nosso mar” se torne uma semente, que produza frutos para o futuro; que esta semente seja lançada no rio Arno de Florença.

O senhor falou de solidariedade e, muitas vezes, afirmou que a civilização de um povo pode ser medida com base em uma solidariedade concreta. A solidariedade é uma das palavras-chave que nos levará, segundo o desejo do Papa Francisco, ao Jubileu de 2025. Como o senhor vê e descreve a solidariedade, hoje, no Mediterrâneo?

Podemos dizer que percebemos, hoje, certa crise de solidariedade. Ela não pode ser exigida apenas de indivíduos e países, se não houver um contexto mais amplo de solidariedade. Faço um exemplo concreto, que o Papa aprecia muito: Malta é uma ilha pequena e precisa praticar a solidariedade diante de situações de perigo e morte dos migrantes. Porém, precisa também da solidariedade da Europa para partilhar o peso do acolhimento e dar futuro aos irmãos migrantes. A solidariedade, que Malta é convidada a pôr em prática, como tantas outras cidades às margens do Mediterrâneo, deve ser sustentada também por outra solidariedade, bem maior, que, às vezes, falta.

Segundo a etimologia, a palavra Malta significa “porto seguro”. Ela está sendo isso hoje?

Malta é um porto seguro, não só por ser natural, mas também como cultura. Nos Atos dos Apóstolos, no capítulo 28, que fala do acolhimento de Paulo e de outros 275 náufragos, é usada a expressão "humanidade rara" para descrever os malteses. Hoje, esta filantropia está em crise, porque nos sentimos abandonados. É grande o nosso medo de assumir um fardo, que não podemos carregar sozinhos. Logo, não quero justificar este medo, mas compreender o contexto. Por isso, o apelo que o Papa fez por nós é realmente um bálsamo, mas esperemos que também haja revisões de normas etc. Recordo, por exemplo, o famoso Tratado de Dublin, segundo o qual o migrante deve permanecer no país, onde desembarcou pela primeira vez. Para Malta isso representa um fardo desproporcional. Logo, o motivo não é somente falta de humanidade.

A Viagem apostólica do Papa a Malta deveria ter sido realizada há dois anos, mas, por causa da pandemia, foi adiada. Como o povo maltês viveu este período pandêmico?

Viveu com grande sofrimento. Compartilhamos do sofrimento de todo o Mediterrâneo, que se complicou também pelos acontecimentos da vizinha Líbia. Arcamos com dificuldades econômicas devido aos que provinham da Sicília, à busca de trabalho e por turismo, que também entrou em crise, causando grande incômodo aos malteses. Foram anos de grande expectativa, marcados por dificuldades econômicas, mas também psicológicas. Nós, como em outras sociedades, temos um índice muito alto de problemas de saúde mental. Gostaríamos de sair deste pesadelo com a solidariedade de todos. Somos uma nação pequena, mas, segundo as previsões das nossas autoridades, o número de vacinação é muito alto, assim como o senso de corresponsabilidade. Esperemos que a visita do Papa possa constituir um momento de grande esperança para todos.

Como está a preparação para a chegada do Papa Francisco, no início do próximo mês de abril?

Como Bispos, somos interpelados, diariamente, por muitas pessoas que querem cumprimentar o Papa e participar das liturgias, que se realizarão no âmbito de um programa muito denso.

 

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19 fevereiro 2022, 09:37