Arquidiocese do Rio de Janeiro recebe a visita do núncio apostólico Dom Giambattista Diquattro
Carlos Moioli – Arquidiocese do Rio de Janeiro
“Seja bem-vindo, Excelência, ao Rio de Janeiro. O calor e a umidade fazem parte da nossa vida, mas em unidade com todo o povo de Deus agradecemos a sua presença tão esperada entre nós”, disse o arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta, ao acolher a visita do núncio apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, que permaneceu na cidade nos dias 26 e 27 de março.
“A primeira atitude do senhor núncio ao pisar as terras cariocas foi de celebrar a Eucaristia, iniciando sua visita em torno do altar do Senhor”, disse Dom Orani no início da missa que Dom Giambattista presidiu na Capela do Palácio Episcopal São Joaquim, na Glória, na manhã do dia 26 de março, com a presença dos bispos auxiliares do Rio de Janeiro e de bispos das dioceses fluminenses. A celebração foi transmitida para todo o país pelas RedeVida de Televisão, TV Nazaré, de Belém do Pará, Rádio Catedral e pelos demais meios e mídias da Arquidiocese do Rio.
Na homilia, Dom Giambattista manifestou alegria por celebrar a liturgia eucarística na arquidiocese, agradecendo pelo “carinho e comunhão que todos desejam demonstrar ao Santo Padre”. Também agradeceu a “calorosa acolhida e as manifestações de amizade fraterna”.
Na reflexão da parábola do fariseu e do publicano, o núncio observou que o Evangelho convida a todos a considerar que a “fé não é dom dos orgulhosos, mas dos humildes”. “A parábola é dita por Jesus precisamente para a correção e salvação daqueles que confiam em si mesmos, para ensinar que a sabedoria da vida leva a Deus”. Ao concluir, pediu a intercessão da Virgem Maria para que todos “possam viver na presença de Deus e no continuo reconhecimento da graça que nos ajuda a superar nossos pecados, para o nosso próprio bem e o da Igreja”.
No final da celebração, Dom Orani agradeceu mais uma vez a presença de Dom Giambattista na arquidiocese, lembrando que ele levou em frente a sua missão mesmo com as dificuldades da pandemia da Covid-19, sendo necessário participar de reuniões e eventos por meio de plataformas digitais.
“Com a diminuição dos casos pandêmicos, agora, o senhor terá a oportunidade de conhecer a vitalidade da Igreja no Brasil com toda a diversidade que existe. O Rio de Janeiro é um resumo dessa diversidade nacional, pois existem várias realidades numa mesma cidade, que tem uma linda tradição cultural e histórica, por ter sido a capital do país. Fala-se muito em Cidade Maravilhosa, com a beleza do mar, da floresta e do espaço urbano, mas a beleza também está no seu povo, que é acolhedor, que vive sua fé e que busca o Senhor”, disse o arcebispo.
Função de um núncio apostólico
É a primeira vez que Dom Giambattista esteve em visita ao Rio de Janeiro desde que assumiu a Nunciatura Apostólica no Brasil, com sede em Brasília. Ele foi nomeado pelo Papa Francisco no dia 29 de agosto de 2020, e chegou em Brasília no dia 7 de janeiro de 2021, dando início ao ofício de representante diplomático permanente da Santa Sé no Brasil, após a entrega da carta credencial ao presidente da República.
Segundo explicou monsenhor André Sampaio de Oliveira – formado pela Pontifícia Academia Eclesiástica, a Escola Diplomática da Santa Sé, mestre e doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma – a diplomacia da Santa Sé remonta a época do “doge de Veneza", e hoje mantém relações diplomáticas com cerca de 180 países. A função de um núncio apostólico - termo usado pela Igreja desde então -, tem uma dupla função em um país.
“O núncio é representante do Santo Padre em um país diante do governo e da Igreja. Ele é o porta voz, o embaixador, que vai tratar dos interesses da Santa Sé junto com representantes legais do país onde ele foi enviado. Por outro lado, a Santa Sé tem uma face eclesial, então a função do núncio é manter relações com a Conferência Episcopal, com os bispos, e demais organismos da Igreja local, para ter condições de informar a realidade de um país ao Santo Padre", disse monsenhor André Sampaio, destacando que o núncio também tem a função de promover pesquisas sobre as nomeações episcopais, os futuros pastores diocesanos.
Reunião com os bispos fluminenses
Após a celebração eucarística, Dom Giambattista se reuniu, na sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro, na Glória, com todos os bispos das dioceses das Províncias Eclesiásticas do Rio de Janeiro e de Niterói, que integram o Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Juntos com os bispos fluminenses estavam o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani, e o arcebispo de Niterói, Dom José Francisco Rezende Dias.
“Cada bispo se apresentou ao núncio e fez comentários gerais a respeito de seu episcopado e das características gerais das dioceses com seus desafios. Os bispos também puderam se dirigir ao núncio de maneira mais livre, fazendo perguntas e tirando dúvidas, no que o núncio respondeu prontamente", explicou o bispo auxiliar do Rio de Janeiro Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira.
Segundo o bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, que também esteve presente na reunião, o grupo dos bispos do Regional Leste 1 se alegrou no primeiro contato presencial com Dom Giambattista. Ele afirmou que é enriquecedor “estar juntos”, ainda mais com o “representante do Santo Padre”.
“Para bem cumprir sua missão, o núncio precisa conhecer a realidade da Igreja em que está servindo. Um dos melhores meios para esse conhecimento é, sem dúvida, a presença, o contato direto, com a escuta das situações. O núncio conhece a realidade por meio dos relatórios que lhe são enviados. Mas a leitura de relatórios, por melhor que seja, não isenta do contato pessoal”, disse o secretário-geral.
Para Dom Joel, a presença do núncio contempla a unidade com o Santo Padre, tanto da parte dele quanto por parte da Igreja local, porque ele é recebido como um representante do Papa.
“Acolher o núncio é acolher o Santo Padre que o enviou. Compartilhar com o núncio as alegrias e as preocupações de uma diocese é compartilhar com o Santo Padre, pois o núncio é a presença mais próxima do coração, dos olhos e ouvidos do Santo Padre, a quem, por função, o núncio apresenta as alegrias e preocupações que ouve”, disse o secretário-geral.
Dom Joel destacou que sempre houve proximidade dos núncios apostólicos no Brasil na história da Arquidiocese do Rio de Janeiro e, por extensão, das demais dioceses do Regional Leste 1.
“É uma história de proximidade. Por longo tempo, a nunciatura funcionou no Rio de Janeiro, que era, não nos esqueçamos, a capital do país. Anualmente, quando a presencialidade permitia, o núncio sempre participava do curso anual para os bispos, promovido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, disponibilizando-se a conversar com os bispos que solicitassem. Dom Giambattista já participou do curso, porém, em razão da pandemia, apenas de modo virtual”, concluiu Dom Joel.
Visitas
Na parte da tarde do dia 26 de março, acompanhado pelo Cardeal Tempesta e por monsenhor André Sampaio, Dom Giambattista visitou a sede de uma congregação e dois santuários arquidiocesanos.
A visita na Congregação das Religiosas de Nossa Senhora de Belém, no Pechincha, em Jacarepaguá, foi um gesto de carinho do núncio. Ele agradeceu à fundadora, Madre Maria Helena Cavalcanti, por contar com a presença de uma religiosa da congregação, irmã Graça Maria, que tem se dedicado, desde o início de sua missão, a colaborar com as necessidades da Nunciatura Apostólica, em Brasília.
Depois de passar pelo bairro de São Conrado para ver e conhecer a comunidade da Rocinha, Dom Giambattista visitou o Santuário Cristo Redentor, sendo recebido pelo reitor, padre Omar Raposo. O núncio teve a oportunidade de conhecer o monumento, uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, e contemplar, do alto do Corcovado, a Cidade Maravilhosa. Na Capela dedicada à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, situada na base do monumento, o núncio participou de um momento de oração e também ganhou presentes, entre eles, um livro comemorativo dos 90 anos de inauguração do monumento, uma casula e uma mitra com a imagem bordada do Cristo Redentor.
Já era noite quando Dom Giambattista chegou à Basílica Santuário Nossa Senhora da Penha, na zona norte da cidade, sendo recebido pelo reitor, padre Thiago Sardinha de Jesus, pelo vigário episcopal do Vicariato Leopoldina, padre Alberto Gonzaga de Almeida, e por diversos sacerdotes da região.
Após ser conduzido por um bondinho até o alto do penhasco da Penha, Dom Giambattista pôde conhecer a Igreja da Penha, com seus 365 degraus, uma das devoções mais antigas da cidade. Foi homenageado por um coral que apresentou músicas clássicas e sacras. Nesta basílica, o núncio foi informado que todos os sábados, desde a visita do Papa Francisco na cidade, em 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, se reza a Oração do Ângelus pelas necessidades do Santo Padre.
Missa na Catedral
Na manhã do domingo, dia 27 de março, Dom Giambattista presidiu na Catedral de São Sebastião, no Centro, a missa do quarto domingo da Quaresma, o Domingo “Laetare”, em latim, “alegra-te”. Foi o único compromisso do núncio na arquidiocese, depois seguiu viagem para a Arquidiocese de Vitória, no Espírito Santo.
Quando chegou, acompanhado de Dom Orani, Dom Giambattista foi acolhido na porta da Catedral pelos bispos, Cabido Metropolitano, sacerdotes e diáconos. Beijou a Cruz, aspergiu água benta a si mesmo e aos presentes e adentrou pela nave da Igreja mãe da arquidiocese, sendo aplaudido pelos seminaristas, consagrados e o povo de Deus, concluindo com um momento de oração na Capela do Santíssimo Sacramento.
Na homilia, Dom Giambattista deu ênfase a leitura do Evangelho, a parábola do filho pródigo, destacando que a “criatura humana desperdiça sua substância em uma vida tumultuosa que ama as aparências e o espetáculo exterior, enquanto se esgota por dentro, pois cada um segue as coisas que passam e abandona Aquele que lhe é mais íntimo, alienando-se. Ele se perde, gasta tudo, sofre a fome, ou seja, a falta da palavra da verdade”.
Dom Giambattista observou que o filho pródigo, que é esperado pelo Pai é “todos nós, pecadores”, concluindo a homilia com uma oração: “Que a Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe, nos ajude a encontrar todos os dias o caminho para seu Filho Jesus Cristo, e que este tempo de Quaresma seja um Kairós, um momento de graça para dirigir nosso caminho para Deus nosso Pai, para viver a festa da graça e do amor de Deus”.
No final da celebração, Dom Orani entregou ao núncio uma síntese da fase do caminho sinodal elaborado pela arquidiocese, que culminará com o Sínodo dos Bispos sobre a “sinodalidade”, a ser realizado em outubro de 2023. Segundo o coordenador arquidiocesano de pastoral, cônego Claudio dos Santos, ao apresentar a síntese, disse: “queremos reafirmar a nossa fé e a nossa unidade ao Santo Padre por uma Igreja sinodal, de comunhão, participação e missão”. Cônego Cláudio, que também é pároco da Catedral, presenteou o núncio com azulejos, contendo pinturas dos principais pontos turísticos da cidade.
Antes da bênção, Dom Orani agradeceu a visita do núncio e disse: “Nossa arquidiocese procura ser uma presença nesta grande cidade com todos os seus desafios. São mais de 7 milhões de habitantes, sendo que 60% são católicos. Também levamos adiante, com muito carinho, o diálogo ecumênico, inter-religioso e cultural. Transmita ao Santo Padre, quando estiver com ele, nosso carinho, oração, comunhão e unidade. Sua oração e confirmação é importante, por isso, reze por nós”.
Nas palavras finais, Dom Giambattista manifestou alegria pela visita na arquidiocese: “Me alegro dizer que a visita ao Rio de Janeiro foi uma oportunidade extraordinária de conhecimento e de familiaridade com a Igreja, uma graça que me foi concedida da parte de Deus. Uma oportunidade para viver com mais entusiasmo, coragem e a força da graça de Deus o nosso sacerdócio para o bem da Igreja. Agradeço ao senhor cardeal, bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, leigos e leigas, pois foi uma bonita experiência de vida e de vida cristã”.
Dom Giambattista concluiu dizendo: “De coração, agradeço ao Senhor que tem manifestado a beleza da Igreja no Brasil e da Igreja do Rio de Janeiro. Agradeço a Dom Orani, aos bispos, a todos. Somos família de Deus. Meu compromisso é servir com alegria, com muitíssima alegria, a Igreja no Brasil, que é conduzida pelo Espírito Santo. Agradeço a Deus o amor que os bispos e o povo têm pela Igreja. Nós somos uma família, somos a Igreja do Brasil”.
Perfil
Dom Giambattista Diquattro nasceu em Bolonha, na região da Emília-Romagna, Itália, em 18 de março de 1954. É arcebispo, diplomata, teólogo e canonista. Foi ordenado sacerdote no dia 24 de agosto de 1981 pelas mãos do bispo de Ragusa, Dom Ângelo Rizzo.
Recebeu seu mestrado em Direito Civil na Universidade de Catânia, doutorado em Direito Canônico na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, e um novo mestrado, em teologia dogmática, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
Entrou para o Serviço Diplomático da Santa Sé em 1º de maio de 1985, e serviu em missões diplomáticas nas representações pontifícias na República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Chade, nas Nações Unidas em Nova York e, mais tarde, na Secretaria de Estado do Vaticano e na Nunciatura Apostólica na Itália.
Em 2 de abril de 2005, o Papa João Paulo II o nomeou arcebispo titular de Giru Mons e núncio apostólico no Panamá, recebendo a ordenação episcopal em 4 de junho do mesmo ano. Foi o último clérigo italiano a servir durante o pontificado de João Paulo II que recebeu a nomeação episcopal.
O Papa Bento XVI o nomeou núncio apostólico na Bolívia, em 21 de novembro de 2008. Em 21 de janeiro de 2017, o Papa Francisco o nomeou núncio apostólico na Índia e no Nepal, e por último, em 29 de agosto de 2020, núncio apostólico no Brasil, que sucedeu a Dom Giovanni d'Aniello transferido para a Rússia.
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