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Dom Gregório: “A minha quaresma começou no dia 15 de fevereiro”

Lembrando toda caminhada que fez pelos locais da tragédias, o bispo diocesano afirmou que colocou as cinzas nos pés quando pisou a lama junto com tantas outras pessoas.

Rogério Lima Tosta – Diocese de Petrópolis

O bispo da Diocese de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, OSB, celebrou a missa da quarta-feira de cinzas, na Catedral São Pedro de Alcântara, quando lembrou as vítimas da tragédia em Petrópolis, causada pelas chuvas do dia 15 de fevereiro. Durante a missa, rezou pelos mais de 230 petropolitanos mortos na tragédia e pelas vítimas que sobreviveram, lembrando também a tragédia da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O pároco da Catedral, Padre Adenilson Ferreira e o vigário paroquial, Padre Pedro Paulo, reitor da UCP concelebraram e a missa contou com a presença do diácono permanente, Marco Carvalho.

Em sua homilia, recordando o flagelo das chuvas em Petrópolis, que atingiu toda cidade, Dom Gregório Paixão afirmou que “Estou vivendo a quarta-feira de cinzas desde o dia 15 de fevereiro. Hoje é verdade, vou receber como vocês a cinza na testa. Para recordar a fragilidade da nossa existência. Para que nós percebamos que tudo aquilo que desejamos de triunfo é uma grande fantasia e que nós podemos construir uma grande mentira ao longo da nossa vida. Deus nos coloca a realidade e a realidade é bela, mas, a realidade pode ser profundamente crua”.

Lembrando toda caminhada que fez pelos locais da tragédias, o bispo diocesano afirmou que colocou as cinzas nos pés quando pisou a lama junto com tantas outras pessoas. “Quando disse que comecei minha quaresma no dia 15 de fevereiro, porque recebi, não cinzas na testa, mas, percebi que eu precisava receber cinzas nos pés, quando pisei a lama desta cidade junto com tantas outras pessoas. Fomos marcados definitivamente por um tempo que deve abrir nossos olhos e o nosso coração. E, aliás, aquilo que estamos vivendo diz perfeitamente o que é quaresma e todos nós, seja petropolitano ou não, precisa ter consciência desse sinal visível que nos foi dado, mesmo que seja uma calamidade”.

A fé no olhar e no rosto das pessoas, vítimas da tragédia, comoveu Dom Gregório Paixão, pois de ninguém, nem mesmo daqueles que perdeu tudo reclamar de Deus, mas, ao contrário, manifestaram um profundo amor. “Sim meus irmãos e minhas irmãs, eu vi a oração no rosto desse povo profundamente mal tratado. Convivendo com tantas pessoas nestas duas semanas, eu vi como esse povo tem fé. Em nenhum momento ouvi alguém que dissesse por que Deus fez isso? Por que Deus fez desmoronar sobre nós essa chuva? Por que Deus quis essas coisas? Muito pelo contrário, aqueles que foram mais massacrados, aqueles que perderam tudo não se esqueceram de dizer o tempo todo, Deus é bom, Deus sabe de tudo, nós vamos recomeçar, estou vivo, vou entregar os meus a Deus, pois pertencem a Deus, para Deus foram. Uma profunda vida de fé que se manifesta no coração dos mais simples quando eles percebem que perderam tudo, mas ficaram com o essencial que é Deus. Eles sabem que Deus não os desampara por aquilo que os homens fizeram com eles, quando possibilitaram que, por tantas dificuldades, subissem as encostas”.

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Se de um lado tem um povo que perdeu tudo, do outro tem um povo solidário. Um povo que não me esforços, como afirmou o bispo, para ajudar aqueles que mais necessitam. “Também a minha quaresma começou no dia 15 de fevereiro, porque vi a capacidade da caridade dos irmãos que se multiplicaram pelo bem dos outros. É verdade, uma enxurrada de água foi lançada sobre Petrópolis. Mas, uma enxurrada de solidariedade se manifestou nesta cidade. Eis a grande graça, o coração da gente  que é capaz de tirar de si para oferecer para aquele que mais necessita. E foi exatamente essa graça que nós vimos. Não faltou esmola, não faltou solidariedade, não faltou uma boa palavra, não faltou na vida dos homens e mulheres o desejo de colaborar, mesmo que fosse com mínimo, para que o irmão tivesse naturalmente aquilo do que é essencial”.

Os eventos mostraram e são sinal claro sobre a fragilidade do ser humano. Num segundo, em instantes uma vida se vai e por isso devemos sempre perguntar qual o sentido da nova vida. “Naquele ponto importante que eu disse, que é colocar um espelho diante de nós mesmos, que é um tempo de Quaresma, também nós podemos enxergar o que aconteceu. Afinal de contas, ali está a fragilidade da vida, basta uma chuva para nos levar mais de 230 pessoas, basta uma chuva para que nós estejamos com diversos corpos lá no IML, basta uma chuva, um instante e é nesse ponto que Jesus nos diz o essencial: estas preparados porque não sabeis nem o dia e nem a hora, portanto, precisamos perceber o quanto nós somos frágeis”.

Para o bispo diocesano é fundamental que todos percebam que fazemos parte de um mesmo corpo e que precisamos estar unidos. Ele lembra que a solidariedade é uma grande graça que vivemos nestes dias. “Essa calamidade deve abrir os nossos olhos para nos dizer: fazemos parte de um único corpo, somos filhos de um único pai, vivemos a mesma história, sorrimos juntos e devemos chorar juntos. Hoje temos, amanhã pode ser tirado tudo. Não por Deus, mas, pela natureza que nunca perdoa e essa é a graça que nós temos de saber que, unidos podemos superar toda a realidade, porque aquilo que aconteceu manifestou um verdadeiro tempo da Quaresma, pela solidariedade, pela oração, pelo testemunho e pelo desejo de tirar tudo de si para manifestar o melhor na vida daqueles que clamam pela nossa presença. Eis a graça que nós não podemos perder”.

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07 março 2022, 13:45