Erbil: assassinada aos 20 anos por conversão ao cristianismo
No Dia Internacional da Mulher, chegou do Curdistão iraquiano a notícia do assassinato de uma jovem de cerca de 20 anos pelas mãos de um familiar. A motivação do crime foi sua conversão ao cristianismo, assumindo o nome de Maria.
O fato chama a atenção, pois a região curda recebeu milhares de cristãos e yazidis fugidos do autoproclamados Estado Islâmico e sempre se mostrou livre de bolsões de violência sectária, o que confirma que ainda há um longo caminho a ser percorrido no Iraque em relação à tolerância e o respeito, não obstante as sementes plantadas pelo Papa Francisco na visita ao país em março de 2021 e o incansável trabalho do patriarca da Igreja Caldeia, o cardeal Louis Raphael Sako.
A jovem, morta a facadas, chamava-se Eman Sami Maghdid, embora já há algum tempo usasse o nome de batismo de "Maria" também nas redes sociais, onde era muito popular e seguida. O assassinato remonta a 6 de março, mas só no Dia Internacional da Mulher surgiram mais pormenores que sugerem um “castigo” da família por ter ela abandonado o Islã, ter se emancipado do núcleo de origem e abraçado a religião cristã, tornando-se assim “culpável” de apostasia.
A jovem ficou conhecida por sua luta pelos direitos das mulheres, ativismo que - junto com a conversão ao cristianismo - teria determinado a "condenação" de familiares que falam tratar-se de "controvérsias" e "brigas" internas.
O crime ocorreu perto do aeroporto internacional de Erbil, não muito longe de Ankawa, o distrito predominantemente cristão de Erbil. Seu tio a teria matado, com a cumplicidade de seu irmão. A princípio surgiu a notícia da prisão dos dois supostos assassinos, depois a polícia falou de apenas uma prisão (o tio).
Uma fonte institucional da Agência AsiaNews, que pede anonimato por razões de segurança, explica que "depois de sua conversão ela escolheu ser chamada de Maria". Os familiares "dizem que o cristianismo não é a razão" por trás do assassinato, ligado, em vez disso, "ao fato de ela querer morar sozinha, de ter deixado depois de quatro anos um marido com o qual foi forçada a se casar aos 12 anos, querendo ser livre". Depois, "não queria usar o véu, não queria mais seguir as tradições islâmicas", o que levou seus parentes a matá-la. "Também o pai - continua a fonte - é tido como vendedor de frutas e legumes, quando na realidade desempenha o papel de Imame e é uma personalidade religiosa bem conhecida dentro da comunidade islâmica".
"Encontraram o corpo amarrado, jogado à beira da estrada, com numerosos golpes de faca". Maria era uma pessoa aberta, morava com uma amiga e fazia parte de uma comissão que lutava pelos direitos das mulheres árabes e iraquianas.
Ironicamente, a sua morte ocorreu precisamente nos dias em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, como prova de um percurso ainda longo e difícil em termos de direitos, respeito pela liberdade de escolha, também e sobretudo num contexto como o islâmico radical.
A isto, se soma a punição pela conversão: “Muitos muçulmanos nos últimos anos – confirma a fonte de AsiaNews – tornaram-se cristãos, mas a questão é silenciada para não alimentar confrontos e tensões. E de todo este acontecimento - conclui - resta a condenação de figuras governamentais cristãs, muçulmanas e curdas pelo assassinato".
Nos muitos vídeos no Tik Tok, onde tinha quase 50 mil seguidores, difundia mensagens de coragem, luta, emancipação, e não hesitava em se mostrar enquanto fumava, usava roupas "ocidentais" e acusava: "Ser diferente, no Curdistão, pode causar morte".
*Com Asianews
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