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Cardeal Odilo Pedro Scherer arcebispo metropolitano de São Paulo Cardeal Odilo Pedro Scherer arcebispo metropolitano de São Paulo 

Cardeal Scherer: O Cristo ressuscitado caminha à frente dos seus

Precisamos redescobrir a Igreja como “povo que caminha em comunhão e na unidade”, que olha para a mesma direção, une esforços, socorre-se mutuamente, povo fraterno e solidário. Em outras palavras, redescobrir-nos como “Igreja sinodal”.

Cardeal Odilo Pedro Scherer arcebispo metropolitano de São Paulo

O sínodo da Igreja nos ajuda a redescobrir o que é a Igreja: antes de ser uma organização bem estruturada, com doutrinas e leis bem definidas, com ritos e liturgias próprios, com sinais bem identificadores, ou uma empresa com bens e benefícios econômicos, ela é a comunidade dos discípulos reunidos em nome de Jesus Cristo, enraizados na mesma fé, que buscam viver vida nova inspirada no Evangelho; vivem em comunhão, com laços espirituais muito profundos, tecidos pela graça e ação do Espírito Santo.

No poema da sequência pascal, da liturgia do Domingo da Páscoa, aparece a seguinte expressão: “o Cristo que leva aos céus caminha à frente dos seus!” Essa exclamação se refere à natureza da Igreja: comunidade daqueles que caminham com Cristo nesta vida rumo aos céus. Ele caminha com os discípulos e não os deixa sós e desorientados nos caminhos da vida, cheios de riscos, desvios e armadilhas. Ele os ensina, conforta, socorre e encoraja, sendo Ele próprio o caminho e a verdade a serem seguidos para alcançar a vida plena.

Precisamos redescobrir a Igreja como “povo que caminha em comunhão e na unidade”, que olha para a mesma direção, une esforços, socorre-se mutuamente, povo fraterno e solidário. Em outras palavras, redescobrir-nos como “Igreja sinodal”. Fazer sínodo significa fazer caminho juntos, manter a unidade e a comunhão, assumir juntos a missão dada por Jesus aos discípulos. A cultura atual leva ao individualismo e ao egocentrismo. Nada é mais contrário à Igreja que Jesus Cristo quis. A Igreja sinodal requer conversão pessoal e comunitária a Deus, por Cristo, na docilidade ao Espírito Santo.

O Papa Francisco, por isso mesmo, chama a nossa Igreja a se renovar na sinodalidade, o que significa, em outras palavras: superar a tentação do individualismo, do desinteresse de um pelo outro, até mesmo na Igreja, e do desinteresse pela missão recebida de Jesus. Ninguém na Igreja está autorizado a pensar que não tem nada a ver com a missão da Igreja, que é serviço e testemunho em favor do Evangelho.

Mas é preciso lembrar que a comunhão e a participação numa Igreja sinodal não acontecem, simplesmente, em força de esforços humanos. A Igreja não é uma simples organização social, uma ONG de gente de boa vontade. Ela está congregada na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A verdadeira unidade e comunhão acontecem na ordem da fé e do dom espiritual e só acontecem quando a Igreja cultiva a sua comunhão com Jesus Cristo, que “caminha à frente dos seus”, Senhor e guia da Igreja.

No dia 7 de maio, faremos, às 15h, na Catedral da Sé, a nova abertura da assembleia sinodal arquidiocesana, que precisou ser suspensa por dois anos, por causa da pandemia de COVID-19. Com a graça de Deus, faremos as sete sessões previstas para a assembleia, até o final deste ano, para elaborar as novas diretrizes pastorais para a nossa Arquidiocese. Será às vésperas do Domingo do Bom Pastor. Jesus é o bom Pastor, que entregou sua vida em resgate das ovelhas de seu rebanho, que somos todos nós.

A data não poderia ser mais sugestiva para a retomada do nosso sínodo. Jesus é o Pastor da Igreja: Ele a reúne em torno de si, conhece suas ovelhas e elas o identificam pela sua voz. Ele as chama e elas o seguem pelos caminhos do Evangelho. Ele vai à frente delas e as conduz em segurança para boas pastagens e águas refrescantes. Ele as defende de todo perigo, expondo sua própria vida para que as ovelhas estejam bem e em segurança. Ele se preocupa, especialmente, com as ovelhas mais fracas e vulneráveis, vai atrás da perdida, tem preocupação missionária também pelas ovelhas ainda dispersas e que não chegaram a conhecer sua voz e seu carinho por elas.

Que outra coisa deveria ser a nossa Igreja, senão o povo que Cristo reuniu, que conquistou com seu amor infinito e alimenta com amor não menor ao longo da vida? A Igreja não pode se tornar uma organização formal e fria, feita apenas de ideias, por mais bonitas que sejam, ou de lembranças do passado, sem vida fraterna, sem comunhão nem compromisso missionário. Na oração pelo sínodo universal, pede-se que não sejamos apenas uma Igreja “de muito passado, mas sem vida e pouco futuro”...

Que o Cristo ressuscitado caminhe à nossa frente e esteja em nosso meio na celebração da assembleia sinodal arquidiocesana. E nos conceda constantemente o Espírito de comunhão, conversão e renovação missionária”, para sermos verdadeiras “testemunhas de Deus na Cidade!”

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27 abril 2022, 14:13