Schevchuk: não nos calemos diante do pecado

"Todos aqueles que hoje estão calados, e não têm coragem de condenar a agressão russa contra a Ucrânia, que não têm coragem de simplesmente expressar sua posição, colaboram neste pecado (...). .Hoje os ucranianos apelam às consciências da humanidade moderna, à comunidade mundial, à comunidade inter-religiosa internacional, pedimos a todos solidariedade, oração, apoio à Ucrânia, e pedimos que não nos calemos diante do pecado."

Cristo ressuscitou, queridos irmãos e irmãs!

Hoje é domingo, 29 de maio de 2022, e a Ucrânia está vivenciando o 95º dia da guerra pesada e sangrenta. O povo defende sua pátria, o próprio Estado.

A Ucrânia resiste. A Ucrânia está lutando, e nós agradecemos às forças armadas ucranianas porque conseguimos sobreviver o último dia, a noite passada, e ver o sol brilhante desta manhã de domingo em Kiev.

Mais uma vez, como nos dias anteriores, a Ucrânia está em chamas, todo o leste da Ucrânia está em chamas. Combates ferozes de grande intensidade continuam na região de Luhansk. Apesar dos grandes esforços do inimigo, a bandeira ucraniana tremula orgulhosamente sobre a cidade de Severodonetsk.

O inimigo está concentrando forças poderosas nas regiões de Luhansk e Donetsk. Os ataques às cidades e vilarejos da Ucrânia estão ficando cada vez mais fortes.

Nossos militares estão defendendo corajosamente o sul da Ucrânia, apesar do inimigo continuar usando a aviação e bombardeando nossas cidades e vilarejos.

Ontem um poderoso bombardeio com mísseis atingiu a cidade de Kryvyj Rih e hoje estamos sofrendo por esta cidade. É uma grande cidade industrial pela qual hoje dirigimos nossas orações ao Senhor.

 

Hoje o inimigo continua a bombardear o território na fronteira norte de nossa pátria, nas regiões de Sumy e Kharkiv.

Pessoas morrem, jorra sangue humano, há um mar de lágrimas, mas graças à grande fé no Senhor, os ucranianos estão renovando suas forças, e com fé na Ressurreição estamos vencendo a morte.

Hoje gostaria de concluir nossas reflexões sobre aquela parte do catecismo de nossa Igreja que fala sobre os pecados dos outros. O último pecado desse tipo, quando a pessoa assume os crimes de seu próximo, é um tipo específico de comportamento humano chamado pecado quando nos calamos ao ver o pecado.

Sabemos que podemos pecar de duas maneiras: com ação e com a passividade. De fato, todas as nossas reflexões anteriores sobre os pecados dos outros foram discussões sobre certos comportamentos e certas ações que nos fizeram compartilhar do pecado e da morte, que se espalham pelo comportamento pecaminoso do nosso próximo.

Hoje, esse pecado que encerra a lista de perigos semelhantes é, de fato, a inatividade quando uma pessoa pensa que, não se opondo ao pecado, não lutando contra o pecado, simplesmente permanecendo em silêncio, evitará a responsabilidade. Mas, na realidade, não é esse o caso: quando ficamos quietos enquanto testemunhamos o pecado, o pecado é ampliado. Quando nos calamos enquanto testemunhamos o pecado, expressamos nosso consentimento. Existe essa expressão ucraniana: quem cala, consente. Quando permanecemos em silêncio, incitamos o pecador a continuar a cometer seus crimes. Ficar calado é, na verdade, criar um espaço adicional para a morte em nossa vida cotidiana como seres humanos.

Hoje, pela enésima vez, convido a todos a não ficarem calados quando testemunhamos o pecado. Nosso Senhor Jesus Cristo fala das ações do ser humano que podem ser ações de luz, mas também ações de trevas. Toda ação prejudicial e pecaminosa é, de fato, a ação das trevas. Quando desmascaramos o pecado, quando o tornamos visível, trazendo-o à luz, quando o revelamos, ele perde seu poder, decai, desaparece como desaparece a escuridão atravessada pela luz da verdade de Deus, da graça de Deus. Vemos que hoje o silêncio pode matar. Todos aqueles que hoje estão calados, e não têm coragem de condenar a agressão russa contra a Ucrânia, que não têm coragem de simplesmente expressar sua posição, colaboram neste pecado.

Mais uma vez, dirijo-me aos círculos intelectuais, diplomáticos, políticos e econômicos com o apelo à condenação da guerra russa e da agressão contra o povo ucraniano. Não devemos nos calar quando vemos mentiras, injustiças, pecados, porque o seu silêncio o encoraja, sustenta e favorece. Jesus diz a seus seguidores: “Se eu não tivesse vindo e não tivesse falado, eles não teriam culpa; mas agora eles não têm desculpa para o seu pecado”.

Hoje os ucranianos apelam às consciências da humanidade moderna, à comunidade mundial, à comunidade inter-religiosa internacional, pedimos a todos solidariedade, oração, apoio à Ucrânia, e pedimos que não nos calemos diante do pecado.

Deus, abençoe a Ucrânia. Deus, abençoe o exército ucraniano. Deus, enxugue as lágrimas de mães, pais e filhos ucranianos, causadas por esta guerra. Deus, traga para casa as crianças da Ucrânia que estão espalhadas pelo mundo. Deus, abençoe a Ucrânia com paz.

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês com Sua graça e amor pelos homens agora e para todo o sempre. Amém!

Cristo ressuscitou! Ele realmente ressuscitou!

Svyatoslav+
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
29.05.2022

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29 maio 2022, 21:42