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Região amazôniaca apresenta desafios também para os evangelizadores Região amazôniaca apresenta desafios também para os evangelizadores 

Os riscos enfrentados pelos evangelizadores na Amazônia

Os desafios de evangelizar na Amazônia, nos relatos do bispo da Diocese de Rio Branco, Dom Joaquín Pertíñez Fernández OAR, e da leiga Jeane Cleia, missionária da Comunidade Católica Presença.

Marília de Paula Siqueira - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco em sua Encíclica "Querida Amazônia” nos afirma: “Eles têm direito ao anúncio do Evangelho, sobretudo àquele primeiro anúncio que se chama querigma e é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar duma forma ou doutra.”

Ao responder a este pedido missionário do Papa Francisco, aqueles que se dispõe a evangelizar na Amazônia - ou as entidades que realizam atividades nestas terras - se deparam com inúmeros riscos.

Em toda extensão de terras, águas e florestas na Amazônia existem grupos de evangelizadores. São sacerdotes, religiosos (as), leigos consagrados e tantos outros que se dedicam para que o anúncio do Reino seja difundido.

O Vatican News conversou com Dom Joaquín Pertíñez Fernández OAR, bispo da Diocese de Rio Branco - cujo inteiro território está na Amazônia -,  e com a responsável pela casa missionária da Comunidade Católica Presença, Jeane Cleia. A comunidade realiza ação evangelizadora na Ilha do Marajó – região Amazônica no estado do Pará -  há mais de 10 anos.

As distâncias pelos rios

 

Os missionários na Ilha do Marajó devem percorrer grandes distâncias aquáticas para que a evangelização aconteça. O meio de transporte mais rápido utilizado pelos missionários é a “Rabeta”, uma pequena canoa movida por motor de propulsão, conduzido manualmente, e com a ajuda de um bastão que determina as direções. Este meio de transporte, no entanto, não oferece muita segurança, expondo os missionários a acidentes e colisões.

 

A missionária Jeane relata que o outro meio de transporte usado para a evangelização são os barcos: “em alguns rios é possível ir de barco.  Nestes existe a proteção do corpo mas, muitas vezes são interceptados por piratas que aguardam a passagem dos barcos para assaltos. Os assaltos acontecem seja na calada da noite ou até mesmo durante o dia.”

“Ainda falando sobre barcos, muitas vezes são nossos lugares para o descanso da noite quando também podemos ser abordados por assaltantes ou demais pessoas com maldosas intenções”, acrescenta.

Os desafios acontecem durante as viagens e também quando se chega nas comunidades para a evangelização: “Grande parte destas comunidades não possui saneamento básico, portanto a água que se bebe é dos rios e nestas há o mínimo de tratamento. Ao ingerir essa água é grande a possibilidade de contrair doenças, como giardíase, que é uma infecção do aparelho digestivo causada pelo parasita Giardia lamblia, cuja transmissão é feita através do consumo de água contaminadas por fezes contendo cistos do parasita, sendo uma doença infecciosa que pode ser transmitida entre pessoas. A dificuldade de saúde por ingerir água se torna maior por não haver base de prontos atendimentos de saúde nos rios.”

“A grande maioria das evangelizações - conta a missionária -  acontece em lugares extremamente longe das cidades. Sendo assim  não é possível chegar com facilidade e poucas horas em terra firma, dificultando ainda mais o atendimento de saúde aos missionários e também as pessoas que moram nestes lugares”

Os riscos para sacerdotes, religiosas e consagrados

 

Com 23 anos de episcopado, Dom Joaquin já testemunhou os riscos de saúde física e psicológica de sacerdotes, religiosos e missionários que estão nesta região amazônica. Sobre isso, o bispo nos conta que “durante todos estes anos, foram muitos momentos de dificuldades, doenças, perigos, riscos de todo tipo, que enfrentamos para cumprir com nossa missão. Em tempos passados houve muitas ameaças e até mortes, pelo perigo que a Palavra de Deus levava para os interesses de fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e outros. Atualmente, temos mais tranquilidade na nossa região, mas a violência continua existindo em outros lugares da Amazônia.

Anos difíceis por conta da Pandemia

 

O bispo diocesano afirma que durante a Pandemia as dificuldades aumentaram: “Estes últimos anos foram muito difíceis por conta da pandemia, pelo isolamento, desânimo que se abateu entre alguns presbíteros, e também pelo próprio vírus que levou alguns deles à UTI. Graças a Deus que não tivemos que lamentar nenhuma vítima entre sacerdotes e religiosas.

E, logicamente, nossas distâncias dificultam muito o trabalho pastoral de todos os sacerdotes, pelo cansaço, falta de tempo para dedicar-se a outra atividade, a solidão de tantos dias, que se acaba pagando muito caro em muitos casos. Alguns abandonos do ministério são ocasionados principalmente pela solidão e por não saber administrar devidamente o tempo, vaziando-se completamente no serviço pastoral, sem reservar um tempo para si.”

Os riscos de contaminações, afundamentos, acidentes e outros

 

São reais estas situações, diz Dom Joaquin: “Na selva, e andando por rios e varadouros, sempre se está exposto a surpresas de qualquer tipo. Pode acontecer de tudo e sempre longe da cidade, dias ou horas, que, em caso de urgência, não tem para onde correr. Doenças tropicais são fáceis de adquirir, principalmente, para quem não está acostumado ao clima, águas e comidas da região.

Os perigos que podem ser os maiores, e que pode parecer uma contradição, sempre são produzidos pelos animais menores: os mosquitos, sobretudo. Eles, além de fazer um pouco a vida impossível, podem transmitir até alguma doença perigosa. E, ter que andar e viajar com qualquer meio de transporte, como voadeira, mulo, moto, carro traçado, avião, canoa... também podem acontecer acidentes, alagamentos ou simplesmente deixar-te sem poder andar durante três dias.

Alguma vez, andando de voadeira de noite, o motorista se enganou com o reflexo da lua, e subiu na praia do rio a toda velocidade. O bispo, que ia na frente, voou sem estar preparado e, além do susto, foi a pancada e o risco de cortar a cabeça com o alumínio da voadeira. Mas, sempre vamos confiantes de que a mão de Deus nos protege e acompanha... Se não fosse assim, ninguém estaria por lá. Só Deus e sua missão nos mantém vivos e com saúde!” nos relatou Dom Joaquín.

Visita Ad Limina 2022

 

O bispo da Diocese de Rio Branco também esteve com o Papa Francisco no último dia 20 de junho 2022, juntamente com os bispos dos Regionais Norte 1 e Noroeste. Sobre esta visita, nos relatou:

“O Papa Francisco, conhecendo seu grande carinho pela Amazônia, falou para os dois Regionais Norte I e Noroeste, de uma forma muito fraterna e humana. Deixou-nos muito a vontade para falar, desabafar, agradecer... Acredito que ele também se sentia muito bem, como irmão entre irmãos. E, depois de cada fala de um bispo, ele falava sempre incentivando, animando, sabendo e conhecendo as dificuldades e desafios que apresenta nossa realidade amazônica.

Falou várias vezes que devemos arriscar e ir sempre para frente, sem ter medo de nada... Destacaria sua grande sensibilidade para com os povos indígenas, os migrantes, os abandonados da Amazônia... Animou-nos para estar sempre do lado dos pobres e necessitados.”

O Sínodo sobre a sinodalidade da Igreja

 

Sobre o seu retorno à Diocese de Rio Branco, Dom Joaquín destaca dos caminhos do Sínodo: “Estamos vivendo este tempo de preparação para o Sínodo sobre a sinodalidade da Igreja. Estamos vivenciando aqui  já tudo isso, experimentando a unidade e comunhão com o Primado de Pedro e com toda a Igreja. Portanto, levaremos esse espírito para tentar viver cada dia mais em unidade e comunhão, com a hierarquia e o Povo de Deus de mãos dadas, todos unidos a caminho... Estes dias estão sendo muito importantes, pela convivência fraterna entre nós e também nas visitas aos diversos Dicastérios, sentindo o espírito de estar a serviço das Dioceses de todo o mundo e também com a Amazônia. Estamos sendo muito bem recebidos por todos.

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24 junho 2022, 14:04