Arcebispo greco-católico de Kiev: é o Espírito Santo que nos mantém unidos

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Glória a Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo!

Hoje é domingo, 5 de junho de 2022, e a Ucrânia já vive o 102º dia desta grande guerra que a Rússia trouxe para as terras da Ucrânia, que o exército russo está travando no corpo do povo ucraniano.

Combates ferozes irrompem novamente na região de Luhansk, que está se tornando o epicentro de um grande confronto. O inimigo concentrou todas as suas forças mais fortes em invadir as cidades heroicas de Sievierodonetsk e Lysychansk, mas sem sucesso. Nossos defensores da Ucrânia, nosso exército, defendem bravamente a pátria. Da mesma forma, toda a linha de frente de norte a sul está em chamas.

O inimigo continua a bombardear as regiões de Mykolayiv, Odessa, Sumy e Chernihiv. Combates intensos estão ocorrendo na região de Kharkiv. Hoje cedo o inimigo disparou um míssil contra nossa cidade de Kiev, nossa capital, a capital de nossa pátria.

Mas a Ucrânia está de pé. A Ucrânia está lutando. A Ucrânia olha para a sabedoria de Deus, para o plano de Deus para o nosso povo, para o nosso povo de Deus, e encontra dentro de si a força interior para lutar contra o mal e proteger a sua pátria e o seu povo.

Hoje, neste domingo na Ucrânia, segundo o Calendário Juliano, comemoramos os Padres do Primeiro Concílio de Nicéia e vivemos o terceiro dia da Década Missionária; aguardamos a vinda do Espírito Santo, aa terceira pessoa de Deus para todos nós.

No texto do Evangelho de hoje ouvimos a oração sacerdotal de Jesus Cristo, que ele, nosso Sumo Sacerdote, dirigiu ao Pai na última ceia para rezar pelos seus discípulos. Nesta oração, Cristo primeiro revela a Seus discípulos que Ele e o Pai são um. Ele diz ao pai: “Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado (Jo 17,10). Na oração pelos seus discípulos, pede a unidade entre eles e diz: "Pai Santo, guarda-os em teu nome, que me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós!" (Jo 17,11b).

Esta oração sacerdotal é uma palavra especial de Deus para nós, mostrando-nos que o Espírito Santo é o espírito de unidade, o espírito de comunhão, o espírito que dá e cria a unidade entre os homens. É o Espírito Santo que transforma os corações fechados dos homens. Ele transforma qualquer outro tipo de associação de pessoas em uma comunidade e a torna uma. Ele faz dela a Igreja que tem "um só coração e uma só alma", como lemos sobre a primeira comunidade cristã em Jerusalém.

Desta forma, o Espírito Santo cura as feridas dos relacionamentos humanos. Sabemos que a cultura moderna, com seu individualismo extremo, muitas vezes separa as pessoas das outras e as leva à solidão. Mas o Espírito Santo supera essa solidão e introduz o crente na comunidade. Dizemos que ser cristão significa ser membro da comunidade, da Igreja como unidade criada pelo Espírito Santo.

Muitas vezes em nossa vida ouvimos as palavras “eu sou teu”, “você é meu”, e esse sentimento, experiência de pertencer a outra pessoa nos revela o segredo de nossa própria pessoa, nossa identidade. Principalmente quando perdemos tanto do que é nosso em tempos de guerra. Como milhões de pessoas perdem suas casas e tudo o que adquiriram ao longo de suas vidas, perdem seus parentes e vizinhos, o Espírito Santo nos revela neste momento a importância do ministério da Igreja de Cristo. Às vezes as pessoas só se consideram ucranianos, cristãos, membros da Igreja de Cristo quando estão no exterior ou quando emigram ou se tornam refugiados. Então é importante que as pessoas encontrem seu próprio povo, encontrem sua própria identidade.

Fiquei muito impressionado com as palavras de uma mulher, refugiada de Donbass, que me disse que se você procurar sua igreja em uma cidade estrangeira, encontrará seu próprio povo. E assim ela encontra tudo o que precisa para se salvar, sobreviver, encontrar-se nas trágicas circunstâncias da guerra. É o Espírito Santo que nos mantém unidos. O apóstolo Paulo diz: “Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele.” (1 Co 12:26)

Hoje quero agradecer a todas as pessoas de boa vontade que sentem a dor, o sofrimento, a dor da Ucrânia como se fossem suas, porque isso é um dom do Espírito Santo. Quero agradecer a todos aqueles que estão ajudando a Ucrânia como se a dor, o infortúnio e a guerra tivessem chegado à sua própria casa, ao seu próprio país.

Hoje quero prestar uma homenagem especial à Congregação para as Igrejas Orientais e ao seu Prefeito, cardeal Leonardo Sandri, que se encontra nestes dias na Romênia para visitar os refugiados ucranianos; ele cruzou a fronteira para a Ucrânia para expressar solidariedade cristã universal com as vítimas. 

Hoje, mais uma vez, desejo agradecer à Congregação para as Igrejas Orientais e ao seu Prefeito, Cardeal Leonardo Sandri, que se encontra atualmente na Romênia para visitar os refugiados ucranianos. Ele cruzou a fronteira ucraniana para mostrar solidariedade cristã universal com as vítimas da guerra.

Aquelas palavras sobre "seu próprio povo" hoje se cumprem no destino do povo ucraniano para quem a Igreja de Cristo é "seu povo", enquanto nossa Igreja, com seu lema pastoral, assume as seguintes palavras: "Eu, Igreja , estou sempre e em todo lugar contigo".

Deus, abençoe a Ucrânia. Deus, seja um conosco porque Tua Igreja é Teu corpo, e Tu és a Cabeça deste corpo. Tu sofres hoje através do sofrimento de teu povo. Deus, abençoe os filhos da Ucrânia onde quer que eles estejam. Deus, abençoe a Ucrânia com tua paz.

Envie sobre nós a graça do teu Espírito Santo.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
05.06.2022