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Schevchuk: a raiva em nível coletivo pode se tornar a causa de uma guerra

"A raiva é muito perigosa e muitas vezes é a causa de assassinato e violência (...). Nos escritos dos primeiros cristãos, lemos a seguinte instrução: quando a ira ou a malícia se apoderar de você, saiba que ele, o anjo da malícia, já está em você. Mas graças à virtude da longanimidade, que também chamamos de mansidão, a pessoa se torna invulnerável à ira (...). Vemos que a razão de tanta raiva, tanta paixão não é outra senão a perda da esperança em Deus e na sua justiça."

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, hoje é quarta-feira, 13 de julho de 2022, e por 140 dias o povo ucraniano tem resistido e lutado contra uma invasão massiva de um exército russo assassino.

Hoje é o 140º dia de resistência; de resistência nacional ao agressor que penetrou em nossa terra. Nas últimas 24 horas, o solo ucraniano voltou a tremer, o sangue ucraniano voltou a ser derramado e as mães voltaram a chorar. Como nos dias anteriores, os combates mais intensos estão ocorrendo na fronteira das regiões de Luhansk e Donetsk. O inimigo ataca obstinadamente, mas sem sucesso, nossas cidades de Slavyansk, Bakhmut e o exército ucraniano mostra exemplos de coragem heroica contra um inimigo que é dezenas de vezes maior em número e armas.

Hoje e como todos os dias, queremos agradecer a Deus e às Forças Armadas Ucranianas por estarmos vivos, por termos sobrevivido até esta manhã e por vermos a luz do dia.

Também ontem à noite nossa cidade de Kharkiv foi abalada por mísseis e artilharia russos. Mais de 15 ataques de mísseis foram lançados contra esta cidade sofredora. Da mesma forma, nossa cidade de Nikolaev foi submetida a um ataque maciço de mísseis e houve mortes. Mas o que mais me causa dor é a pequena cidade de Chasiv Yar, que vocês já conhecem, no Oblast de Donetsk, porque operações de resgate vêm sendo realizadas nos últimos dias, depois que o inimigo bombardeou prédios de vários andares onde as pessoas dormiam tranquilamente à noite, e os corpos de mais de 40 civis mortos foram recuperados dos escombros.

 

Mas a Ucrânia está de pé, a Ucrânia luta, a Ucrânia reza e aprende a vencer.

Hoje voltamos a trilhar os caminhos da sabedoria cristã em busca dessa ciência espiritual sobre como vencer. E hoje quero refletir com vocês sobre uma paixão e um pecado que muitas vezes é um grande perigo para o povo ucraniano e para os ucranianos em particular durante esta guerra. Este perigo, este pecado é a raiva. E a virtude, oposta à raiva, com a qual podemos derrotar esse demônio, que captura nossos corações e almas, é a virtude da paciência.

Nos dias de hoje recebemos muitas perguntas sobre como superar o ódio ao inimigo que nos mata; como não ficar com raiva quando vemos todos os crimes que são cometidos em nossa terra. Mas a raiva de que estamos falando hoje não é apenas o sentimento ou a reação natural de rejeição do mal que está diante de nós. A raiva como paixão não é apenas um sentimento de raiva, mas o estado da pessoa que defende agressivamente sua existência, mas sem a esperança em Deus e fazendo mal aos outros.

Os santos padres falam de três tipos de raiva. Em primeiro lugar, a raiva que arde no coração de uma pessoa como um fogo constante que a devora por dentro. A primeira vítima dessa raiva é precisamente a própria pessoa com raiva. Então consideramos a raiva que se manifesta em nossas ações, palavras, ações e na falta de amor para com os outros.

São João Crisóstomo fala dessa raiva, bem como da ruptura das relações entre as pessoas quando diz: "Se você ofender, então você é derrotado, e você não é a pessoa que sabe vencer. É muito importante que a raiva não se apodere de você. Quando você fica em silêncio e deixa essa raiva entrar em você, você já é um escravo do seu inimigo."

O terceiro tipo é a raiva que uma pessoa pode carregar por muito tempo como um fardo e não pode se livrar dela. A raiva é muito perigosa e muitas vezes é a causa de assassinato e violência; e a raiva em nível coletivo pode se tornar a causa de uma guerra. Nos escritos dos primeiros cristãos, lemos a seguinte instrução: quando a ira ou a malícia se apoderar de você, saiba que ele, o anjo da malícia, já está em você. Mas graças à virtude da longanimidade, que também chamamos de mansidão, a pessoa se torna invulnerável à ira. Por quê? Porque ele sabe que está protegido por Deus. Já nos salmos lemos esses avisos, que são muito importantes para ouvir e colocar em prática hoje. O salmista diz: Não se zangue com os criminosos, não tenha inveja dos que praticam a iniquidade, mas confie no Senhor e faça boas obras, para que você viva na terra e esteja seguro. Esteja seguro no Senhor, e confie n’Ele.

Vemos que a razão de tanta raiva, tanta paixão não é outra senão a perda da esperança em Deus e na sua justiça. E São João Crisóstomo nos adverte: "Se tivermos paciência, seremos invencíveis e ninguém, do menor ao maior, poderá nos prejudicar".

Hoje eu gostaria de convidar todos a rezar para que possamos transformar nossa raiva, através de nossa mansidão e paciência, em virtude de coragem. Porque todos nós devemos ser corajosos diante de um agressor criminoso. Rezemos hoje pelo nosso exército, pelos nossos defensores, pelas meninas e meninos que defendem com o peito a nossa terra ucraniana. Protejamos nossos corações da raiva e do ódio, e nos enchamos com a virtude da longanimidade, para que possamos resistir ao mal por muito tempo, e o inimigo não possa encher nossos corações com o demônio da ira.

Oh Deus abençoe a Ucrânia! Oh Deus abençoe as crianças e mulheres ucranianas! Oh Deus abençoe o exército ucraniano! Ó Deus, esperamos em Ti e cremos que Tu és nossa proteção, nossa defesa e nossa ajuda.

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês por meio de Sua graça e amor pela humanidade, agora e para todo e sempre.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
13.07.2022

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13 julho 2022, 14:20