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Um profeta para a Amazônia

Sétima Romaria em celebração de Pe. Ezequiel Ramin

Pe. Dario Bossi

Logo após o Encontro de Santarém, que renovou vigorosamente o compromisso do Sínodo, a Igreja na Amazônia viveu outro momento de profunda intensidade: a memória viva do Servo de Deus padre Ezequiel Ramin, assassinato durante uma missão de paz.

Depois da fase mais aguda da pandemia de Covid-19, que não permitiu a agregação de muitas pessoas, a Diocese de Ji-Paraná voltou a reunir as comunidades do estado de Rondônia, para celebrar a vida, a resistência e a esperança do povo de Deus, em tempos bastante desafiadores no Brasil.

Vida, resistência e esperança foram as palavras chave do lema da 7ª Romaria de Pe. Ezequiel. O missionário comboniano foi morto há 37 anos, em Rondolândia, numa emboscada enquanto voltava de mais uma tentativa de pacificação de conflitos entre posseiros e latifundiários.

A opção de pe. Ezequiel e da Igreja diocesana de Ji-Parana, conduzida à época pelo saudoso dom Antônio Possamai, era muito parecida ao sonho de Papa Francisco, para que houvesse terra, teto e trabalho para todas as pessoas, especialmente os mais esquecidos, como as famílias camponesas e os povos indígenas.

A Romaria foi preparada por uma grande celebração na cidade de Cacoal, onde pe. Ezequiel vivia. Centenas de pessoas reuniram-se numa Eucaristia liturgicamente rica de símbolos e testemunhos, presidida por dom Norberto Foerster, bispo de Ji-Paraná, com a concelebração de dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho.

“Um amigo: Pe. Ezequiel era um amigo de Deus, como Abraão na leitura de Genesis, permitindo-se o atrevimento de negociar com o Senhor pela vida de todos, em Ninive. E um amigo do povo, como o amigo do Evangelho que incomoda o outro à noite, para que quem tem fome consiga um pão” – refletiu dom Norberto.

No dia seguinte, bem cedo, os dois bispos e muitos representantes das comunidades da Diocese deslocaram-se até Rondolândia, o lugar do assassinato do padre, acontecido em 24 de julho de 1985. Lá, se encontraram com pessoas que vinham de outras regiões da Amazônia e do Brasil, marcadas pelo exemplo de pe. Ezequiel e pela opção eclesial e evangélica que sua vida e sua morte destacam.

Junto aos gestos singelos e profundos de devoção popular, na capelinha dedicada ao Servo de Deus, havia testemunhos comoventes, como aquele de dona Geni, que doou uma parte da terra dela para um espaço permanente de acolhida dos romeiros e romeiras.

Ou de Carlos, indígena arara, presente com sua família à celebração: “Ele morreu por nós. Eu ainda tenho a sua figura bem aqui em meus olhos. Ele morreu porque queria nos proteger”.

Depois de quase três quilômetros de caminhada orante, alternando cantos, oração, escuta de textos do magistério da Igreja na Amazônia, as pessoas se reuniram num momento de partilha dos alimentos e também das sementes crioulas, na valorização da agroecologia, contra os agrotóxicos e os transgênicos. Finalmente, a Eucaristia ao aberto, debaixo das árvores, ao lado do lugar da emboscada. Dom Roque perguntou ao povo de Deus: “O que faria pe. Ezequiel na Igreja e na sociedade de hoje? O que significa hoje viver o perdão e a não violência, opção chave do padre e até de seus familiares, depois do assassinato? Qual é o meu, o vosso compromisso concreto, para que o exemplo de pe. Ezequiel continue vivendo através de nós?”.

A Igreja da Amazônia continua fazendo memória de seus mártires, cristãos que encarnaram até o fim, com a radicalidade do amor, a missão de Jesus e a busca do Reino de Deus.

Pe. Ezequiel é uma luz de esperança, resistência e vida para muitas pessoas que se sentem ameaçadas pela extrema violência em que se encontra o Brasil.

À intercessão dele encomendamos a caminhada das comunidades cristãs e de seus pastores, para que tudo tenha vida em abundância!

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26 julho 2022, 22:52