Cardeal Scherer: Igreja sinodal, discípula e missionária
Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo
No sábado, 6 de agosto, realizamos a terceira sessão da assembleia sinodal arquidiocesana. O tema da reflexão – “Um olhar sobre a Igreja em São Paulo e no mundo” – foi apresentado pelo bispo de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, recordando que a Igreja precisa ter em Jesus Cristo e no Evangelho sua constante referência. A mudança de época pela qual passamos desencadeou mudanças profundas também na Igreja. Isso requer um discernimento atento sobre os “sinais dos tempos” ao nosso redor e um esforço para a constante conversão a Jesus Cristo e ao Evangelho.
Nossa assembleia sinodal confronta-se com esta pergunta: que devemos fazer para sermos uma Igreja discípula e missionária e para respondermos, de maneira adequada, aos desafios e circunstâncias do nosso tempo? Isso requer a conversão pastoral de estruturas e organizações pastorais, para não acabarmos na mera conservação de organizações e iniciativas, que já não produzem mais o fruto esperado nem são capazes de responder aos desafios do nosso tempo.
Como realizar o processo sinodal de comunhão, conversão e renovação missionária na pregação e formação do povo, na catequese, na ação missionária permanente, na liturgia, na caridade organizada, na pastoral das vocações, no cuidado da casa comum, na atenção à família, no mundo da cultura, da educação e assim por diante? Na assembleia sinodal, 25 comissões temáticas buscarão respostas para a questão: o que devemos fazer para promover o caminho de comunhão, conversão e renovação missionária em nossa Arquidiocese e para sermos “testemunhas de Deus na cidade”? As propostas elaboradas pelas comissões temáticas serão discutidas pela assembleia sinodal e, depois de amadurecidas, também serão votadas para a elaboração das diretrizes sinodais, a serem implementadas após a conclusão do sínodo arquidiocesano.
De 8 a 11 de agosto, o clero da arquidiocese de São Paulo realizará o seu curso anual de aprofundamento teológico e pastoral, em Itaici, como já vem acontecendo há 18 anos. O temário em estudo estará igualmente relacionado com o esforço sinodal de toda a Arquidiocese: que precisamos fazer para sermos uma Igreja que viva de forma renovada a comunhão, a participação e a missão? O Papa Francisco está nos conclamando a fazermos esse processo de revisão de vida eclesial, avaliação e discernimento, não por motivos humanos quaisquer, mas por fidelidade a Jesus Cristo e ao Espírito Santo, que é quem conduz a Igreja e lhe dá vitalidade e fruto. Como no início da vida da Igreja, precisamos levar a sério as advertências que foram feitas às sete igrejas da Ásia Menor, onde haviam entrado diversos problemas: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 3,22; cf. Ap 2-3).
Nada disso é absolutamente novo e ninguém pense que o Papa Francisco esteja mudando tudo na Igreja... É o próprio Jesus Cristo, no Evangelho, que pediu aos apóstolos que se mantivessem unidos com Ele e entre si. Nos textos apostólicos do Novo Testamento, o tema da unidade e da comunhão da Igreja é muito destacado. Na Igreja não cabem divisões ou, muito menos, guerras internas. A Igreja sempre sofreu com as divisões e os cismas, pequenos ou grandes, mas nunca os aprovou, porque são contrários à vontade expressa de Jesus e abrem feridas dolorosas no “corpo de Cristo”. Nos textos mais recentes do Magistério, a partir do Concílio Vaticano II, e mesmo antes dele, são inúmeros e fortes os apelos à comunhão e à unidade na Igreja.
A comunhão, a participação na vida e na missão eclesial não são obrigações impostas externamente, mas expressões da natureza mesma da Igreja e de nossa pertença a ela. Como cada membro no corpo realiza naturalmente a sua função, recebendo ajuda e vitalidade dos demais membros e dando sua parte à saúde e à vitalidade do corpo todo, assim também deve acontecer na Igreja. Cabe, então, a pergunta: que precisamos fazer para sermos uma Igreja sinodal, que viva a comunhão, a participação e a missão nos diversos âmbitos de sua vida, organização e ação? Como seremos uma paróquia, comunidade e arquidiocese mais sinodal? Como ser organizações eclesiais, quaisquer que sejam, verdadeiramente sinodais, em comunhão, participação e missão? Como desenvolver nossas ações de evangelização, catequese, formação, caridade e liturgia de maneira mais sinodal?
Tudo isso, certamente, não se fará por decreto, nem mudará de um dia para outro, mas requer um processo feito de pequenos passos, discernimento, conversão pessoal e comunitária, perseverança paciente e confiante. O certo é que não podemos nos resignar com o risco de nos tornarmos uma “igreja de museu, rica de passado e pobre de futuro” (Papa Francisco). A atenção e a docilidade às luzes e inspirações do Espírito Santo nos ajudarão a sermos a Igreja discípula e missionária, que ela é chamada a ser.
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