Cardeal Sergio da Rocha: Amor de Pai
Cardeal Sergio da Rocha - Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Apesar do forte apelo comercial que marca o dia dedicado aos pais, é importante aproveitar a ocasião para a reflexão e os gestos concretos de gratidão. Como vai o amor dos pais? Como vai o amor pelos pais? É certo que há pais com um jeito um pouco estranho de amar, conforme afirmam alguns filhos, especialmente adolescentes e jovens. Contudo, é igualmente certo que há filhos que também têm um jeito estranho de amar o próprio pai. O importante é refletir e aproveitar a ocasião para reconhecer e agradecer o amor dos pais e dos filhos, ainda que muitas vezes escondido ou frágil, e dispor-se a crescer.
É importante reconhecer e valorizar o papel do pai na família e expressar gratidão pelo amor demonstrado ao longo dos anos. É tempo de dar especial atenção e apoio aos pais idosos, aos pais enfermos, aos pais desempregados, aos pais que vivem na pobreza, aos pais que mais sofrem. O amor das mães costuma ser mais facilmente admitido, ainda que nem sempre seja devidamente reconhecido e retribuído. Contudo, o verbo amar também é conjugado pelos pais. Pai tem coração! Pai ama! Há muitos pais que demonstraram amar seus filhos sacrificando a sua vida, gastando o seu tempo e seus bens em favor deles. Antes que o filho pudesse manifestar amor ou gratidão, é o pai quem dele cuidava quando pequenino ou doente, juntamente com a mãe, passando noites sem dormir. Há inúmeros pais que deixam de comprar algo para si, para que os filhos tenham o necessário para viver. Há pais que deixam de comer, para que os filhos tenham o pão de cada dia. Há pais que enfrentam duras jornadas de trabalho para sustentar os seus filhos. Há pais que sofrem com a migração forçada para buscar melhores condições de vida para os filhos. Estes e tantos outros gestos podem ser recordados como sinais do amor de pai para filho ou filha, motivo de filial gratidão e louvor a Deus.
É tempo de retribuir o amor do pai com o amor de filho, oferecendo-lhe os presentes mais preciosos que não são adquiridos em lojas: o respeito, a compreensão, a proximidade filial, o abraço carinhoso, o apoio e, se necessário, também o perdão, pois quem ama perdoa. Em algumas situações, o perdão e a reconciliação podem ser muito necessários. Uma pessoa reconciliada com a sua família caminha rumo ao amadurecimento humano-afetivo e à verdadeira felicidade. Ao contrário, quem se recusa a perdoar e estabelecer relacionamentos fraternos tende a carregar no coração a amargura e a inquietação.
Como amar assim nem sempre é fácil e o nosso amor nunca é perfeito, necessitamos sempre do amor daquele que é o Pai de todos. O amor de Deus, que é Pai, sustenta os pais e os filhos na bela e permanente tarefa de amar. Amar como Deus Pai nos ama. Amar, contando com a força do amor do Pai, que torna possível e forte o amor de pai.
*Artigo publicado no jornal A Tarde, no dia 14 de agosto de 2022.
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