A importância dos ministérios hoje e na Igreja antiga
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)
A realidade atual recebeu maior valorização por parte da Igreja, em relação aos ministérios dos leigos, das leigas e juntamente com isso os ministérios ordenados em vista da unidade e da sinodalidade. É importante perceber a origem da palavra ministério vindo do latim ministerium cujo significado é serviço, posição, função particular e comunitária[1]. Os ministérios são importantes porque se referem a Jesus Cristo, sacerdote, profeta e pastor. Eles estão ligados à Igreja, ao povo de Deus. É graça de o Senhor servir o povo que ele confiou aos seus ministros. Todos os ministérios possuem este fim no sentido de dar a vida como Cristo a deu por todos nós e pela humanidade. A autoridade é vista como serviço, superando a realidade do autoritarismo, do clericalismo, que a Igreja de Cristo e o Papa Francisco exortam em suas mensagens, em vista da conversão pessoal e comunitária. Nós estamos numa época de reflexão e atuação da sinodalidade porque a Igreja é chamada a um trabalho que seja mais em conjunto, na busca de numa caminhada de amor para com o povo e o louvor de Deus.
Os ministérios são valorizados pela sua procedência no batismo, crisma e a eucaristia, os sacramentos da iniciação à vida cristã. O alargamento dos ministérios é também uma realidade importante no mundo de hoje como o Papa Francisco deu aos catequistas, aos leitores, aos acólitos, às mulheres e aos homens nesta caminhada tão expressiva da Igreja. O Papa abriu mais ainda as portas para os ministérios concedidos para as pessoas batizadas. Uma Igreja ministerial é obra do Espírito Santo que suscita pessoas para o serviço do Reino de Deus, para a vida da Igreja e do mundo. O mês vocacional ajude a todos na vivência da vocação, como graça de Deus e responsabilidade humana. É importante dar uma visão à forma como os ministérios foram assumidos na Igreja antiga, vividos nas comunidades cristãs e no mundo.
O ministério dos apóstolos e dos profetas
O Livro da Didaqué, Doutrina dos doze apóstolos, século I, colocou ministérios presentes na Igreja primitiva, que era dos apóstolos e dos profetas, os quais os fiéis dariam atitudes conforme o princípio do evangelho. Todo o apóstolo recebia a acolhida como o Senhor. Entendia-se apóstolo como um serviço às pessoas no anúncio do evangelho. Ele não passaria mais de três dias na comunidade, porque seria um falso apóstolo. Ele estaria bem desprendido, levando apenas o pão até chegar a outro local. Em relação ao profeta não seria julgado, nem colocado à prova, pois ele falaria sob inspiração. No entanto o documento disse que nem todo aquele que falasse inspirado seria profeta, a não ser que vivesse como o Senhor, de modo que a comunidade reconheceria o falso e o verdadeiro profeta[2].
A escolha de bispos e de diáconos
O documento da Didaqué também falou da escolha da comunidade de bispos e de diáconos, para que fossem dignos do Senhor. Neste tempo da Igreja antiga, o povo ajudava na escolha de bispos, presbíteros e diáconos, ressaltando para que eles fossem homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados, porque eles exerceriam na comunidade, a mesma dignidade que tinham os profetas e os mestres[3].
A disputa para o episcopado
São Clemente Romano, bispo de Roma, papa século I, dirigiu-se à comunidade de Coríntios, na Grécia, a mesma que São Paulo dedicou-lhe duas cartas, afirmando que os apóstolos conheceram da parte do Senhor Jesus Cristo disputas por causa do episcopado. Alguns membros da comunidade queriam assumir esta missão. Desta forma por ocasião da morte dos apóstolos outros homens, disse São Clemente sucederam no ministério. Por justiça, estas pessoas não poderiam ser demitidas de suas funções, no caso o episcopado pela comunidade, pois eles se apresentaram de uma maneira irrepreensível e santa. As mesmas coisas foram ditas aos presbíteros, pois eles não temeriam que alguém os afastasse do lugar que lhes foi designado, como de fato ocorreu segundo São Clemente nos quais foram removidos das funções que exerciam de modo irrepreensível e honrado[4]. Na verdade demitiu a comunidade os seus ministros ordenados, como os bispos, os presbíteros e os diáconos. O motivo não foi claro, mas tudo indicou que era a disputa de poderes na comunidade cristã.
Cristo, o único Mestre
Santo Inácio de Antioquia, bispo, mártir, do século I ressaltou para todas as pessoas que tivessem algum ministério na vida eclesial, seguissem o único Mestre, Jesus Cristo, em vista da vivência do mandamento do amor. Aquele que possuísse a palavra de Jesus tinha condições de escutar também seu silêncio, a fim de ser perfeito, para realizar o que a pessoa disse. Nada estaria escondido para o Senhor, pois até os segredos das pessoas estão junto dele. Assim o bispo convidava-as para agir como se o Senhor morasse nelas, para serem de fato seus templos e o próprio Senhor dentro das pessoas, manifestando assim todo o amor humano para com o Senhor Deus[5].
Unidade com os ministros ordenados e com o povo de Deus
Santo Inácio afirmou a importância da unidade do povo de Deus com os seus ministros consagrados e estes por sua vez também com o povo a eles confiado. A obediência seria um ponto importante em relação ao bispo e ao presbitério, pelo fato de que as pessoas são chamadas a partir o mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempre[6]. As pessoas fizessem as coisas na concórdia de Deus, sob a presidência do bispo, que ocuparia o lugar de Deus, dos presbíteros que estariam unidos ao colégio dos apóstolos, dos diáconos nos quais foi confiado o serviço de Jesus Cristo. Todos vivessem bem, ministros e povo de Deus na unidade de sentimentos que vinha de Deus, pelo respeito e pelo amor mútuos[7].
Os conselhos de São Policarpo
São Policarpo, bispo e mártir do século II deu conselhos diversos para o povo de Deus que se de um lado eram importantes na sua época, de outro lado eles o são ainda hoje, na atualidade. Ele disse aos esposos sobre a necessidade de caminhar na fé que lhes foi dada, no amor, na educação dos filhos, no temor de Deus[8]. O bispo também deu conselhos às viúvas para que fossem sábias na fé do Senhor e intercedessem junto a Deus, sem cessar em favor de todos. Elas seriam o altar de Deus, sabendo que para Ele nada lhes escaparia de pensamentos, sentimentos e segredos do coração humano[9]. Ele teve presentes os diáconos, pois eles seriam servidores de Deus e de Cristo. Eles fossem misericordiosos, zelosos, andando segundo a verdade do Senhor, que se tornou servidor de todos[10]. O bispo falou aos jovens para que fossem irrepreensíveis em tudo, vivendo na paz e no amor[11]. Ele também teve uma palavra importante aos presbíteros para que fossem compassivos, misericordiosos para com todos. Eles trouxessem de volta os desgarrados, visitassem os doentes, não descuidassem da viúva, do órfão, e do pobre, mas fossem sempre solícitos no bem diante de Deus e dos seres humanos[12].
Dia do sol
São Justino de Roma, padre da Igreja do século II afirmou que no dia chamado do sol, portanto o domingo, celebrava-se uma reunião de todos os que moravam nas cidades ou nos campos, e lá os fiéis liam as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas. A liturgia contemplava o AT e o NT. O presidente da celebração eucarística, no caso o bispo, fazia uma exortação e convite para que os fiéis imitassem aqueles belos exemplos. Em seguida havia as preces, e depois se ofereciam pão, vinho e água e o presidente subia até Deus uma oração e o povo exclamava amém. Em seguida o presidente distribuía os alimentos consagrados pela ação de graças e o seu envio aos ausentes pelos diáconos. Fazia-se também a coleta e era entregue ao presidente que distribuía a órfãos, viúvas, aos forasteiros, e aqueles que passassem por necessidades. Tudo era realizado no dia do sol, primeiro dia da semana, lembrando a criação do Senhor e a ressurreição de Jesus Cristo, Salvador dentre os mortos[13].
Os dons dos discípulos do Senhor
Santo Ireneu, bispo de Lião, séculos II e III afirmou a importância dos dons dos discípulos do Senhor na Igreja e no mundo. No nome de Jesus Cristo, os seus seguidores agiam para o bem das outras pessoas, conforme o dom que cada um recebeu, pela expulsão de demônios nas pessoas, outros tinham oráculos proféticos, outros impunham as mãos sobre os doentes e lhes restituíam saúde, e ainda outros faziam coisas maravilhosas. O número de carismas era grande e em nome de Jesus Cristo se distribuíam todos os dias os dons em prol das pessoas, porque como de graça de Deus receberam, de graça distribuíram (Mt 10,8)[14].
Os ministérios são importantes na vida eclesial seja da atualidade, seja da Igreja antiga. Eles ganham o seu devido valor a partir do batismo, onde todos são o povo de Deus que assume uma vocação, um chamado do Senhor, uma missão para o bem de todos neste mundo para que um dia alcança-se a vida eterna, a casa do Pai. Tudo se expressa pelos dons do Espírito Santo que suscita graças para as pessoas servirem o povo de Deus e assim Deus Uno e Trino seja glorificado.
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[1] Cfr. Ministèro. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 957.
[2] Cfr. Didaqué, 11,3-8. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 355.
[3] Cfr. Idem, 15,1-2, In: Idem, pg. 358.
[4] Cfr. Clemente aos Coríntios, 1-6. In: Idem, pgs. 54-55.
[5] Cfr. Inácio aos Efésios, 15,1-3. In: Idem, pg. 87.
[6] Cfr. Idem, 20,2. In: Idem, pg. 89.
[7] Cfr. Inácio aos Magnésios, 6,1-2. In: Idem, pgs. 92-93.
[8] Cfr. Policarpo aos Filipenses, 4,2. In: Idem, pg. 141.
[9] Cfr. Idem, 4,3, pg. 141.
[10] Cfr. Idem, 5,2, pg. 142.
[11] Cfr. Idem, 5,3, pg. 142.
[12] Cfr. Idem, 6,1, pgs. 142-143.
[13] Cfr. I Apologia 67, 3-7. In: Justino de Roma. São Paulo, Paulus, 1995, pgs 83-84.
[14] Cfr. Ireneu de Lião, II, 32,4.São Paulo, Paulus, 1995, pg. 235.
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