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Na Catedral de Matagalpa, banner com as imagens do Papa Francisco e de Dom Rolando Álvarez Na Catedral de Matagalpa, banner com as imagens do Papa Francisco e de Dom Rolando Álvarez 

O agradecimento dos bispos nicaraguenses pela solidariedade

A tentativa da Igreja Católica na Nicarágua de buscar uma solução pacífica para a crise que assola o país desde 2018 desencadeou uma série de medidas repressivas e intimidatórias do governo de Daniel Ortega. Em março foi expulso o Núncio Apostólico do país, em junho as Missionárias da Caridade, sacerdotes foram presos, e mais recentemente, o bispo de Matagalpa foi impedido de deixar a Cúria episcopal. Enviadas de várias partes, as mensagens de solidariedade foram retribuídas pela CEN.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Em mensagem enviada ao presidente do CELAM e arcebispo de Trujillo, Dom Miguel Cabreros Vidarte, os bispos nicaraguenses agradecem a demonstração de fraternidade e solidariedade recebida da entidade nestes momentos difíceis pelos quais atravessa a Igreja na Nicarágua, "em particular pelo nosso irmão Dom Rolando Álvarez".

Assinada pelo presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua, o bispo de Jinotenga, Dom Carlos Enrique Herrera, o texto recorda que "nossa Igreja por natureza 'proclama o Evangelho da paz'", ao mesmo tempo que pede ao Senhor "que renove a graça do seu Espírito Santo para nos manter firmes na Esperança e fiéis à missão" dele recebida.

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Nos últimos dias, além do CELAM, diversas Conferências Episcopais e organizações de várias partes do mundo expressaram sua solidariedade à Igreja na Nicarágua, diante dos atos intimidatórios e medidas repressivas do governo de Daniel Ortega. Em particular, após os acontecimentos envolvendo o bispo da Diocese de Matagalpa, Dom Rolando José Álvarez Lagos, impedido desde quinta-feira passada pela polícia de deixar a Cúria episcopal.

 

Nesta terça-feira, 9, o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH) expressou sua preocupação com a situação do bispo Rolando Álvarez, que é acusado pela Polícia Nacional de tentar organizar "grupos violentos". "Mais um dia de risco iminente para Monsenhor Rolando Álvarez e pessoas que o acompanham na cúria episcopal - diz o CENIDH em um comunicado -, mais um dia de perigo de perder a vida, a segurança, a liberdade e a integridade pessoal".

Dom Álvarez, que também é administrador apostólico da Diocese de Estelí (norte), faz parte de um grupo de pelo menos 12 pessoas, incluindo 5 sacerdotes, que estão cercadas pela polícia na Cúria episcopal. As ações contra ele começaram na quinta-feira passada, depois que um grupo de policiais impediu a celebração da Missa matinal na Catedral de Matagalpa. O bispo saiu para a rua com o Santíssimo Sacramento no alto, e depois deu as costas aos agentes, ajoelhando-se e clamando a Deus. O prelado é investigado por tentar “desestabilizar o Estado da Nicarágua e atacar as autoridades constitucionais”.

Mas este foi apenas mais um capítulo das tensões entre Igreja Católica o Governo sandinista, que começaram a se agravar quando a Igreja na Nicarágua buscou uma solução pacífica para a crise que o país vive desde abril de 2018.

Em 12 de março deste ano, a Sala de Imprensa da Santa Sé havia lamentado e manifestado “grande surpresa” ao saber da decisão do Governo da Nicarágua de retirar a aprovação (agrément) de Dom Waldemar Stanislaw Sommertag, núncio apostólico em Manágua desde 2018, exigindo que ele deixasse o país imediatamente após a notificação da medida.

 

Já em junho, o governo nicaraguense ordenou com um decreto o cancelamento da personalidade jurídica de 101 ONGs - incluindo a Associação Missionárias da Caridade, presente há 30 anos no país -, medida ratificada pelo Parlamento. Em 6 de julho, as religiosas foram acolhidas de braços abertos na vizinha Costa Rica, após serem escoltadas até a fronteira.

Ampliando essas medidas, ontem terça-feira, 9, a pedido do Executivo por meio do Ministério do Interior, a Assembleia Nacional (Parlamento) da Nicarágua, com uma maioria oficialista (75 deputados sandinistas e seus aliados), cancelou a personalidade jurídica de outras 100 ONGs, elevando o total para 1.268 organizações desse tipo banidas após a revolta popular de abril de 2018, descrita pelo governo como tentativa de golpe..

Na nova lista de ONGs afetadas estão associações que defendem mulheres, camponeses, ajuda aos pobres e doentes, diversidade sexual, produtores de café, protetores de animais, associações comunitárias, combatentes e colaboradores históricos sandinistas e um asilo para idosos.

De acordo com o Ministério do Interior, as novas 100 ONGs afetadas não cumpriram suas obrigações estabelecidas pela Lei de Regulação e Controle de Organizações Sem Fins Lucrativos e seu Regulamento, e a Lei Contra Lavagem de Dinheiro, Financiamento do Terrorismo e Financiamento do Terrorismo à proliferação de armas de destruição em massa. Entre outros, indicou o Ministério do Interior, essas entidades não prestam contas há mais de 5 e 25 anos, deixando de fornecer detalhes das doações, origem e beneficiário final dos recursos.

E é em meio a esta ambiente que se realiza desde 7 de agosto o Congresso Nacional Mariano, em andamento até 15 de agosto, Solenidade da Assunção da Virgem Maria.

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10 agosto 2022, 09:55