Padre Pedro: A vida e a fé nas montanhas do norte da Itália
Padre Pedro André, SDB – Vatican News
Durante o verão italiano a cidade de Roma costuma ter a temperatura média sempre em torno dos 30º C, o que não é anormal para quem nasceu num país tropical como o Brasil, onde o calor pode ser a constante durante todo o ano em muitas de suas regiões. No meu caso, por ter nascido na cidade mais alta do Brasil, a famosa Campos do Jordão, localizada no interior de São Paulo no alto da Serra da Mantiqueira, a 1700 metros de altura, onde se dorme com cobertor durante o ano todo, esse calor não é tão familiar assim.
Sou o Padre Pedro André, sou Salesiano de Dom Bosco, da Inspetoria de São Paulo, tenho 34 anos e há quase 7 anos sou sacerdote. Desde janeiro de 2021 sou estudante da Faculdade de Ciências da Comunicação Social da Pontifícia Universidade Salesiana de Roma, onde faço um percurso de estudos que inclui bacharelado e mestrado. Desde abril de 2022 sou colaborador do Vatican News e a convite do nosso responsável, Silvonei José, estou escrevendo sobre as experiências que vivo, em alguns períodos do ano, em duas paróquias no norte da Itália.
Em Roma vivem muitos padres provenientes do mundo todo. Eles são enviados, por seus bispos ou superiores, para estudar as mais variadas disciplinas nas Pontifícias Universidades. Nos períodos do Natal, da Semana Santa e no verão europeu, muitos desses padres são convidados a ajudarem nas paróquias da Itália e até em outros países europeus. Os convites são feitos aos superiores dos Colégios ou diretamente aos padres. No meu caso foi através de outro salesiano, o padre David Martinez, argentino, que estava concluindo seu período de estudos, e a pedido do pároco, que pediu a indicação de um outro sacerdote, me convidou para substituí-lo.
A propaganda do padre David foi muito boa, pois me disse que se tratava de uma cidade de montanha, a 1050 metros de altura, que fazia frio o ano todo, onde morava um povo muito bom e cujo nome era Campo! Pesquisei e descobri que Campo se tratava de uma fração de Tartano, numa região chamada Valtellina, localizada acima de Milão e quase na divisa com a Suíça. Aceitei o convite e fiz contato com o pároco, padre Sérgio Mazzina, um homem dedicado ao serviço do povo, amante da caminhada nas montanhas e, mesmo sendo italiano, nascido e criado as margens do Lago de Como, nunca foi a Roma.
No Natal de 2021 vivi o meu primeiro período nas paróquias de Campo e Tartano. Para chegar é necessário ir de trem de Roma a Milão, depois outro trem até Morbegno, em seguida ir de carro até Talamona, onde a Paróquia dispõe de um Fiat Panda 95 4x4 (equivalente ao Fiat Uno no Brasil), depois subir a serra congelada de curvas acentuadas até Campo, onde fica a casa paroquial. Toda a viagem dura em média 6 horas. Fui muito bem recebido nas duas comunidades. A insegurança com a língua italiana foi logo substituída por uma acolhida calorosa, de um povo de fé, que me ensinou muito com seu jeito de ser. A neve predominava por toda a paisagem. Foi um natal com visual dos filmes que se vê na TV. A rotina se caracterizava pela celebração de missas diárias nas duas paróquias e muitos atendimentos, sobretudo de confissões.
Na semana santa, em abril de 2022, vivi a segunda experiência. Nessa ocasião já era conhecido e já conhecia praticamente a todos, pois se tratam de duas cidades, distantes 5 quilômetros uma da outra, que tem cerca de 500 habitantes. Nessa ocasião produzi três vídeos: no primeiro mostrei alguns trechos da viagem e contei a história da “Ponte nel Cielo” (Ponte no Céu), uma ponte sustentada por cabos de aço, que foi construída pela comunidade de Campo, para atrair turistas e fazer com que os cidadãos não precisassem ir para a cidade grande em busca de oportunidades de emprego. No segundo vídeo contei a história de duas irmãs que tem 85 e 87 anos, Paolina e Maria, leigas consagradas que são sacristãs da Paróquia de Tartano e, mesmo morando no alto de uma montanha, com chuva, sol ou neve, descem e sobem todos os dias para preparar os materiais que são usados na Missa. No terceiro, partilhei como foi subir uma grande montanha chamada “Alpe Torrenzuolo”, junto com o Padre Sérgio, que com 72 anos dispõe de um fôlego invejável. Neste vídeo mostro um “Bivacco”, um abrigo de montanha, disponível gratuitamente para quem quiser usar, com a obrigação de deixar sempre melhor do que quando chegou.
Neste mês de agosto estou aqui pela terceira vez e, enquanto Roma literalmente queima com as altas temperaturas, aqui em Campo e Tartano o clima é ameno. Como estive no Brasil no mês de julho, distribuí para todos aquelas fitas coloridas com a inscrição “Lembrança de Nossa Senhora Aparecida”, que fez a alegria principalmente das crianças. No dia 15 de agosto presidi as missas da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Pelo que vivenciei essa solenidade para eles é celebrada como nós brasileiros celebramos o Natal. Na procissão, após a segunda Missa na Paróquia de Tartano, o belíssimo andor barroco era carregado enquanto os fiéis cantavam cantos em latim, como é o costume aqui, há muitos séculos, levando em conta que as duas paróquias foram fundadas nos séculos XV e XVI.
Para finalizar essa partilha, gostaria de contar como foi a Missa realizada no dia 16 de agosto. Há muitos anos, especialmente após 1987, quando um temporal provocou avalanches que ceifaram a vida de muitas pessoas nesta região, todos os anos, no dia 16 de agosto, as comunidades que estão localizadas nos lados opostos da montanha, se encontram a 2.100 metros de altura para celebrar a fraternidade entre eles. Tratam-se das comunidades de Tartano (Lombardia) e de Valleve e Foppolo (Bergamasca). Para chegar ao topo da montanha onde foi realizada a Missa, foi necessário seguir por uma trilha por uma hora e meia. Foi como subir uma escada que não tinha fim. O cansaço era recompensado por paisagens de tirar o fôlego. A missa foi presidida pelo Padre Tiziano, vigário da Paróquia de Val Brembana, concelebrada pelo Padre Sérgio e por mim. Um grupo em torno de 60 fieis, participou da celebração. Foram recordados os falecidos dos últimos 3 anos, levando em conta que desde o início da pandemia esse momento de fraternidade não acontecia. Após a Missa houve o almoço com polenta e churrasco.
A oportunidade de conviver de uma forma tão imersiva dentro de uma cultura ajuda na compreensão do quanto somos diferentes e iguais ao mesmo tempo. Diferentes porque a visão de mundo e a cultura são forjadas pela história local e regional. Iguais porque as necessidades humanas de atenção, cuidado e principalmente na parte espiritual, são as mesmas que pude vivenciar nas comunidades onde vivi no Brasil..
Eis os Links para alguns vídeos do Padre Pedro:
Uma ponte no céu: https://www.youtube.com/watch?v=j6pbKUEEjqs
Irmãs Coragem: https://www.youtube.com/watch?v=RmXCc7Pgr-o&t=1799s
Subindo as montanhas na Itália: https://www.youtube.com/watch?v=kpgwPc1Wd7s&t=1356s
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