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Cardeal Nzapalainga em Rimini Cardeal Nzapalainga em Rimini 

Rimini: apelo do cardeal Nzapalainga: “não se esqueçam das guerras na África"

O Cardeal Dieudonné Nzapalainga, arcebispo de Bangui, na República Centro Africana, participou, nestes dias, do “Meeting de Rimini”: um encontro para a “Amizade entre os Povos”, fundado pelo Movimento “Comunhão e Libertação”, que se realiza na cidade italiana de Rimini, desde 1980.

Alessandro Guarasci - Cidade do Vaticano

O Cardeal-arcebispo de Bangui, Dom Dieudonné Nzapalainga, desempenhou um papel fundamental na pacificação da África Central, em 2019. Nas vestes de mediador, ainda hoje recorda o valor do diálogo para evitar os conflitos bélicos.

Ao apresentar seu livro "A minha luta pela paz", publicado pela Livraria Editora Vaticana (Lev), o Cardeal disse aos numerosos presentes em Rimini: "Para agir contra as guerras devemos trabalhar juntos. Quem detém o poder deve dialogar com o povo. As religiões na África demonstraram que sabem se unir contra as guerras". Na ocasião, “Vatican News” conversou com o Cardeal Dieudonné Nzapalainga.

Cardeal, aqui no Encontro de Rimini, o senhor falou sobre o valor do diálogo. Mas, hoje, quantos responsáveis pelas Instituições aceitam sentar à mesa para deter as guerras em andamento?

“O importante, hoje, é que quem detém o poder deve estar atento às exigências do povo. Quem falar de guerra deve olhar, antes de tudo, para a comunidade. Quando houver problemas, as soluções devem ser encontradas entre nós homens. Se alguém pensar que tem razão e o outro pensar que está errado, jamais poderá haver colaboração. É necessário colocar as coisas importantes em comum, compartilhando o fato de que todos nós somos seres humanos. Por isso, peço a quem detém o poder, que desça entre o povo, com humildade, e peça perdão aos mais necessitados. Este é o caminho da fraternidade e da boa convivência”.

O que as religiões e as confissões cristãs estão fazendo na África e, sobretudo, quais os resultados obtidos?

“As várias religiões na África encontraram-se para dizer aos jovens que a religião não divide, mas une. É o que estamos fazendo na África Central durante a guerra: católicos, protestantes e muçulmanos estão unidos. Segundo a etimologia, a palavra 'religião' vem do latim que significa 'religare', reunir. Podemos nos unir com palavras, mas também unir pessoas e, sobretudo, unir as pessoas a Deus. O papel da religião, no meu parecer, é ser ponte entre as pessoas e Deus”.

Cardeal Nzapalainga, fala-se muito sobre a guerra na Ucrânia, mas esquecemos dos numerosos conflitos na África...

“As guerras na África não têm nada a ver com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, porque as causas são diferentes. A única coisa certa, porém, é que guerra é guerra. Com uma guerra há sofrimentos, destruição e morte. É o que acontece na África, mas também na Ucrânia. Aqui, nasce a questão: ‘Nós somos ou queremos ser indiferentes diante desta situação?’ Somos cristãos e temos fé em nossos corações. Por isso, não podemos ficar inertes e indiferentes diante das situações de conflito. Devemos despertar-nos, mas não sozinhos, e sim com todos os que pertencem à comunidade. Ultimamente, as pessoas estão usando muito a palavra 'resiliência'. Para nós cristãos, resiliência nada mais é que a Fé, que nos faz despertar, trabalhar sozinhos e em comunidade”.

Em sua opinião, Cardeal, neste momento, a comunidade internacional está esquecendo a África?

“Aqui, no Encontro de Rimini, chamei a atenção dos presentes para as guerras na África, porque o continente africano faz parte do mundo. Hoje, através das conexões digitais, o mundo tornou-se uma aldeia global: o que acontece na Ucrânia também tem a ver com o que acontece na África, cuja consequência imediata está sendo a falta de trigo. Neste sentido, muitos países do norte da África dependem da Ucrânia e da Rússia: essas regiões africanas estão sofrendo pela escassez de trigo. Por isso, a comunidade internacional não deve esquecer a África; pelo contrário, deve integrá-la, porque faz parte das demais nações”.

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25 agosto 2022, 16:30