Schevchuk: a paz é impossível sem justiça e misericórdia

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Queridos irmãos e irmãs em Cristo!

Hoje é 20 de agosto de 2022 e o povo ucraniano está em uma batalha desigual pelo 178º dia e está defendendo sua terra, seu Estado, sua pátria.

Mais uma vez, o dia de ontem e ontem e a noite passada foram turbulentos, em particular no leste e sul da Ucrânia. Nossa Kharkiv está se recuperando de ataques maciços de foguetes que não param da noite para o dia. Ontem, foi anunciado um dia de luto pelas pessoas que morreram em um dormitório bombardeado. Até o momento, 15 corpos foram encontrados. Da mesma forma, novamente na noite passada, explosões poderosas abalaram Mykolayiv no sul de nossa pátria. O inimigo desferiu golpes poderosos em duas cidades da região de Dnipropetrovsk, Nikopol e Kryvyi Rih. Mas nossos defensores corajosamente defendem o território e em nenhum lugar da linha de frente, apesar dos intensos ataques, o inimigo pode avançar nem um centímetro. As maiores batalhas estão ocorrendo na região de Donetsk, na direção de Slovyansk e Bakhmut.

Mas a Ucrânia está de pé. A Ucrânia está lutando. A Ucrânia está rezando

Vocês e eu continuamos nossas reflexões sobre o que é a paz, como se deve entendê-la, o que precisa ser feito para vencer a guerra, como precisamos estabelecer a paz em terra ucraniana, mesmo quando hoje temos que defendê-la com armas em nosso mãos.

Ontem dissemos que a paz vem antes de tudo do Senhor Deus. Este é um sinal de Sua bênção. E aquele que planeja e realiza a guerra age de maneira sacrílega. Ele fala, nega e se rebela contra o próprio Deus, o Criador e Salvador.

Hoje, consideremos como este dom de Deus pode ser aceito por uma pessoa e incorporado em sua vida humana e, em particular, social. Dizemos que a paz é o objetivo da ordem social. Mas não há paz sem justiça. É por isso que o profeta Isaías diz que a paz é fruto da justiça. Não é simplesmente a ausência de guerra ou algum equilíbrio estável entre partes em guerra ou inimigas. A paz baseia-se na correta compreensão da pessoa humana e no respeito pelos direitos humanos. A paz é impossível sem justiça e misericórdia.

Para que possamos realmente libertar nossa pátria do inimigo e desfrutar da paz em terra ucraniana, devemos amar e respeitar uns aos outros. Porque a paz é muito mais do que a libertação dos territórios ocupados, e a vitória numa guerra contra o inimigo é muito mais do que a capacidade de controlar as fronteiras da nossa Pátria. A paz e a vitória da Ucrânia sobre o inimigo significam padrões moralmente mais elevados e melhores condições para a vida humana no território da nossa Pátria.

Por isso dizemos que a paz é fruto do amor. A verdadeira paz duradoura é o verdadeiro amor — amor que remove tudo o que impede a paz. É por isso que qualquer noção de forçar alguém à paz ou privar uma pessoa do direito de até mesmo declarar ou defender seus direitos humanos universais ou falar sobre qualquer dignidade soa tão ofensiva.

O nosso grande Kobzar disse uma vez sobre essa caricatura da paz: "tudo é silêncio em todas as línguas, porque há prosperidade". Assim falava de um Estado totalitário onde todos eram oprimidos e nem sequer tinham o direito de declarar sua dignidade humana, tinham que esquecê-la ou renunciar a ela. Para estabelecer verdadeiramente a paz na arena internacional, para eliminar a própria causa das guerras entre os povos e entre os Estados, é necessário respeitar os direitos de cada povo. É preciso, antes de tudo, respeitar cada nação. É necessário, antes de tudo, reconhecer o direito à existência e, portanto, à justiça social dentro de cada Estado. Além disso, a justiça internacional nas relações entre nações e povos é condição necessária para poder construir e estabelecer a paz no seio da humanidade moderna.

É por isso que hoje dizemos que a paz começa com a pacificação do coração humano. Antes de tudo, é necessário derrotar o mal, derrotar a guerra na própria vida, na própria pessoa, mudando a atitude em relação a outra pessoa. Portanto, a violência nunca é a resposta certa, principalmente quando se trata da própria causa do conflito e da guerra entre as nações.

A violência é um sinal de impotência. Vemos isso claramente quando se trata de relacionamentos entre pessoas em uma determinada sociedade. Da mesma forma, na arena internacional, quando algum ditador maluco não tem outros argumentos, nenhuma outra possibilidade de defender sua posição, porque sabe que não tem verdade por trás de si e não carrega justiça, então seu último argumento será a guerra e a violência. É por isso que é tão importante para todos nós afirmarmos a justiça e o amor, que por sua vez trarão paz aos nossos corações, às nossas famílias, à nossa sociedade e à humanidade sofredora contemporânea.

Hoje quero dirigir-me especialmente aos assistentes sociais, assistentes sociais do Estado, vários trabalhadores que trabalham no âmbito das atividades de várias organizações públicas ou outras instituições da sociedade civil. Agradeço-vos muito o vosso trabalho, porque sois construtores incansáveis ​​da paz, porque dais uma mão a todos aqueles que sofrem com a falta de justiça social.

Este ano, a Caritas Ucrânia, a maior instituição de ajuda da Ucrânia, nossa instituição da Igreja, comemora 30 anos de sua fundação. Desejo felicitar calorosamente os funcionários da Caritas Ucrânia e agradecer-lhes pelo seu trabalho titânico para superar a crise humanitária na Ucrânia causada por esta guerra injusta. Gostaria de agradecer a todos os nossos sacerdotes, monges e monjas que hoje trabalham precisamente nesta frente humanitária, para poder servir as pessoas onde há mais necessidade. Que o Senhor Deus recompense a todos vós cem vezes mais e conceda à nossa Pátria a justa e tão esperada paz de Deus, que vencerá a guerra.

Que a bênção do Senhor esteja sobre vocês através de Sua graça e amor pela humanidade,  agora e para todo e sempre, amém!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Svyatoslav+
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
20.08.2022