Arcebispo de Guwahati: "A Índia deve agir com urgência na proteção da criação"
Dom John Moolachira
Por ocasião do Tempo da Criação - que por indicação do Papa Francisco é celebrada entre 1° de setembro, o Dia da Criação, e a festa de São Francisco de Assis, 4 de outubro - as dioceses do nordeste da Índia estão realizando uma Conferência Pastoral sobre o tema "Meio Ambiente e Cuidados com a Criação". Publicamos alguns trechos do discurso introdutório do arcebispo de Guwahati, Dom John Moolachira.
A realidade
"O livro do Gênesis fala do mundo criado por Deus dizendo: 'Deus plantou um jardim no Éden, no oriente, e aí colocou o homem que modelara”' Quando eu era um jovem sacerdote, costumava atravessar florestas fechadas para chegar a algumas das nossas paróquias e vilarejos. Agora, depois de 35/40 anos, quando percorro essas mesmas estradas, não há nenhum vestígio dessas florestas. Ali surgiram vários assentamentos. A madeira é cortada e vendida fora do país por pessoas inescrupulosas com a conivência ou negligência das autoridades governamentais. Como resultado, as encostas e planícies se tornaram áridas, os cursos de água secaram, as chuvas diminuíram e quando chove, o solo fértil é levado pelas enxurradas; o lixo está em toda parte e a vida na cidade não é higiênica; os poluentes das cidades dos vilarejos fluem livremente para os rios. Pesticidas e fertilizantes são amplamente utilizados e os cursos d'água se tornaram perigosos tanto para humanos quanto para animais.
A esperança
No entanto, nem tudo está perdido. Deus está chamando jovens e idosos, na Igreja e na sociedade civil para defender a causa da terra, mesmo se às vezes parece que seu grito tenha chegado tarde demais. Por exemplo, em 2 de novembro de 2021, a ambientalista Vinisha Uma Shankar, vencedora do prêmio Children's Climate Award 2021, fez um importante discurso nas Nações Unidas, na Conferência Internacional sobre Mudanças Climáticas. Temos também Rajendra Singh, o homem da água da Índia, Jadav Payeng, o homem que plantou uma floresta, Rakhibuddin Ahmed, o ambientalista de Assam. Eles nos dizem para amar e respeitar a natureza, economizar energia e água, plantar árvores e cultivar jardins, reduzir o desperdício, reutilizar e reciclar, ser voluntário para limpar e proteger o meio ambiente.
Nossa Casa Comum
A Terra, nossa casa comum, é formada por organismos vivos e não-vivos. Eles estão interligados. Nenhum ser vivo pode viver sem referência a organismos não vivos. A interação entre vida e não-vida torna a Terra equilibrada, saudável, cheia de recursos e bela. Quando não há equilíbrio, ocorrem desastres ambientais causados pela superprodução, consumo excessivo e poluição, resultando em doenças causadas pela poluição do ar e da água, aquecimento global, inundações, terremotos, tempestades, secas... A degradação ambiental dá origem a migrações, grandes favelas e um grande número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. As crianças sofrem mais do que os adultos por causa dos problemas ambientais. Estima-se que 1,5 milhões de crianças no mundo morrem a cada ano de doenças e deficiências causadas pela poluição ambiental, apesar de serem as menos responsáveis por ela.
A situação na Índia
A Índia conta com mecanismos e leis que podem salvar e proteger o meio ambiente, mas falta vontade de implementá-los. Falamos de direitos humanos, direitos das crianças, direitos das minorias e direitos ambientais. Há a Lei de Proteção à Vida Selvagem (1972), a Lei de Proteção Ambiental e o Ministério do Meio Ambiente. No nível judicial, temos o National Green Tribunal. Mas as questões ambientais são usadas pelos políticos e pelos ricos para obter ganhos políticos e monetários. Setenta por cento de nossas fontes de água estão contaminadas. No que diz respeito aos indicadores ambientais, a Índia ocupa a 169ª posição entre 180 nações.
O que a Igreja ensina?
O que a Igreja ensina? O Papa Francisco disse que o grito da terra é o grito dos pobres. Deus criou o homem como administrador da criação. O homem não é seu patrão, mas a recebeu como dom. Já o Papa João Paulo II lembrava que "a preocupação com a criação é uma parte essencial de nossa fé". O Estado da Cidade do Vaticano está dando o exemplo com seu compromisso de alcançar a neutralidade do ponto de vista das emissões de carbono. Nesta esteira, as igrejas e instituições católicas estão cuidando cada vez mais das áreas verdes, promovendo cultivações orgânicas e o uso de materiais renováveis e biodegradáveis. Alguns também começaram a utilizar pneus usados e outros materiais sustentáveis para construções, para que assim não causem danos ao meio ambiente. Nós chamamos a Terra de 'mãe'. Ela nos dá alimentos, água e ar fresco. Ela nos refresca e nos inspira à beleza estética. Quanto mais estamos em harmonia com a natureza, mais humanos nos tornamos.
(com Ásia News)
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