Sagrada Eucaristia: memorial do Sacrifício Redentor de Jesus Cristo
Padre Leonardo Agostini Fernandes – Arquidiocese do Rio de Janeiro
Um olhar atendo para o tema, devido à riqueza de seus elementos, permite direcionar a reflexão, a partir de quatro questões: O que é a Eucaristia? Como aconteceu? Por quem e como foi realizada? Com que finalidade? O percurso estará apoiado em fundamentos bíblicos, teológicos e pastorais.
Sem dúvida, uma Comemoração Eucarística Centenária (1922–2022) dirige todo o nosso ser para Jesus de Nazaré, confessado Cristo, Filho de Deus e Senhor do Universo. Uma dedução que se faz pelos relatos contidos nos evangelhos, que revelam e permitem compreender, através do ministério público de Jesus, a sua identidade, a sua missão e como ser seu discípulo. Nessa tríade, além do caminho metodológico e pedagógico usado por cada evangelista, encontra-se a lógica que revela a vontade salvífica de Deus para toda a Humanidade: “Eu não tenho prazer na morte de quem quer que seja, oráculo do Senhor YHWH. Convertei-vos e vivereis!” (Ez 18,32)... “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15)... Deus “quer que todo ser humano seja salvo e chegue ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).[1]
Esta vontade, o próprio Jesus a declarou ao fariseu Nicodemos na noite em que veio ao seu encontro: “Pois Deus tanto amou o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,16-17).
É, sob essa declaração, que se orienta a presente reflexão, pois, nessa fala de Jesus, se encontram todos os aspectos necessários para percebermos, assimilarmos e refletirmos sobre o ponto de partida, o desenvolvimento e as considerações finais sobre o tema.
1. A Eucaristia como memorial
Sabemos que na Última Ceia Jesus instituiu o dom da Eucaristia. Para concretizá-lo e perpetuá-lo na Igreja, deu-nos o inefável dom do sacerdócio ministerial. Um existe em função do outro e, portanto, um não existe sem o outro.
A tradição escrita mais antiga sobre a instituição da Eucaristia do Novo Testamento está em 1Cor 11,23-25, um texto que foi escrito durante a estadia de Paulo em Éfeso por volta dos anos 54-55dC. O apóstolo, fazendo memória do fato, a fim de exortar os fiéis de Corinto a vencerem as suas divisões internas pelo dom da Eucaristia[2], assim se expressou: “Com efeito, eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim”. Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim”.
Semelhante narrativa, mas com diferenças nos particulares, encontra-se nos relatos de Mt 26,26-29; Mc 14,22-35; Lc 22,14-20. O relato segundo Lucas é o mais próximo do que se encontra em 1Cor 11,23-25. Já o Quarto Evangelho não contém a narrativa da instituição da Eucaristia, mas é possível reconhecê-la nas palavras de Jesus que se seguem ao sinal da multiplicação dos pães em Jo 6,1-13.
Após recolher-se em uma montanha e vir ao encontro dos discípulos, caminhando sobre o mar (Jo 6,14-21), na sinagoga de Cafarnaum, Jesus proferiu um longo discurso (Jo 6,22-66), no qual declarou ser o pão da vida que, por vontade de Deus, desceu dos céus para dar vida ao mundo e saciar a fome, pois quem comer deste pão viverá para sempre (Jo 6,51). Além disso, Jo 13,1–17,26 narra o episódio do lava-pés, um discurso em tom de despedida, no qual falou muito sobre o Espírito Santo, e concluiu com uma oração ao Pai, suplicando por si e por seus discípulos que ficariam e deveriam atuar como testemunhas em um mundo hostil.
A partir dessas citações, percebe-se, claramente, a relação que Jesus estabeleceu entre a ação de graças – Eucaristia – e o seu sentido: fazei isto em memória de mim. Sabedor de que saíra do Pai e que ao Pai regressaria, após completar a sua missão, Jesus encontrou o modo eficaz de permanecer com os seus apóstolos e, por estes, com toda a Igreja. Na Última Ceia, a memória evocada no gesto realizado por Jesus, por certo, causou um grande estupor nos apóstolos que sabiam, perfeitamente, o valor e o significado do momento litúrgico que estavam celebrando: a memória do êxodo do Egito (Ex 12,1–13,16).
É o que atesta o CatIC 1340.1344:[3] “Ao celebrar a última Ceia com seus apóstolos durante a refeição pascal, Jesus deu seu sentido definitivo à páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus a seu Pai por sua Morte e sua Ressurreição, a Páscoa nova, é antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia que realiza a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino [...] Assim, de celebração em celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus "até que ele venha" (1Cor 11,26), o povo de Deus em peregrinação "avança pela porta estreita da cruz" em direção ao banquete celeste, quando todos os eleitos se sentarão à mesa do Reino”.
Sobre isso, também causa surpresa o fato de Jesus não só ter escolhido as espécies do pão e do vinho, alimentos considerados básicos e que faziam parte do ritual da ceia pascal judaica, mas de ressignificar o gesto. Assim, antecipou, com as palavras pronunciadas sobre essa dupla matéria, o que ocorreria com Ele na cruz fincada no Gólgota: Seu corpo macerado pelos maus-tratos e Seu sangue versado por suas santas chagas.
Então, antes de viver a experiência da Sua dolorosa entrega sacrifical sobre a cruz, desde o momento da sua prisão no Jardim das Oliveiras, passando por dois julgamentos, religioso no Sinédrio e civil diante de Pilatos, e condenado em ambos, Jesus quis antecipar, na Última Ceia, a Sua oblação de amor. No momento em que pronunciou as palavras, as mãos dos apóstolos se tornaram o altar do seu sacrifício redentor de toda a Humanidade.
2. Sacrifício Redentor
Antes de pensarmos nos aspectos de dor e sofrimento, que normalmente aparecem associados ao substantivo sacrifício, proponho a análise da sua formação que vem do latim, sacro officium, isto é, um ofício sagrado ou uma obra sagrada.
A razão, portanto, se encontra não somente na qualidade da ação, mas, em particular, no seu sujeito, pois quem a realizou foi a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo Encarnado, por obra e graça do Espírito Santo no seio virginal de Maria, e que recebeu o nome de Yehoshua‘, que significa “o Senhor salva” ou “o Senhor é salvação”.
Estes sentidos do nome Jesus aparecem nos relatos da infância. No primeiro, o anjo do Senhor havia revelado a São José em sonho: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,20-21). No segundo, o anjo Gabriel havia dito a Maria no ato da anunciação: “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho e o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre e o seu reinado não terá fim” (Lc 1,31-33).
Assim, ao unirmos as duas falas angélicas, podemos perceber que, em Jesus, salvação e reinado indicam realidades complementares. Jesus salva, reinando, e reina, salvando. Não sem propósito, concluímos o Ano Litúrgico com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Nas duas ações, salvar e reinar, aprendemos a mais importante lição da vida cristã: a obediência incondicional da fé em Deus, por Jesus Cristo na unção do Espírito Santo. É por meio dessa obediência que experimentamos a eficácia da declaração que fez aos judeus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32), e que o apóstolo Paulo reiterou ao dizer: “Foi para a liberdade que Cristo vos libertou” (Gl 5,1).
Esta é a lógica que se encontra subjacente ao Sacrifício Redentor realizado por Jesus, pois, por um lado, entregou a Sua vida pela nossa e aceitou sofrer em nosso lugar; por outro lado, o Seu gesto é redentor porque, com o Seu precioso sangue, derramado em sua flagelação e esgotado na cruz, pagou o preço do nosso resgate. É como afirmou o apóstolo Pedro: “Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com prata e com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, como de cordeiro sem defeitos e sem mancha, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós” (1Pd 1,18-20).
A redenção, dentro da tradição bíblica, é uma ação específica que cabe, igualmente, a uma pessoa específica denominada de gōʼēl. Sobre esta figura há muito a dizer, pois gōʼēl, em geral, se traduz por “resgatador”, “redentor”, “libertador”, “vingador” e tem a ver com “o responsável pela ação legal, antes (como função ou dever), durante ou depois do ato. Implica parentesco ou responsabilidade, solidariedade”.[4]
Para nós cristãos, Jesus de Nazaré é o nosso gōʼēl que, tendo recebido de Maria a nossa humanidade, assumiu a nossa natureza degradada, devido ao pecado dos nossos progenitores (Gn 3,1-7), e, igualmente, sobre si assumiu a responsabilidade fraterna.
Assim, nos resgatou, redimiu, libertou do nosso pecado e nos vingou, diante de Deus, nosso Pai, daquele que nos seduziu e induziu ao erro, à desobediência e fez reinar, em nossa natureza, a morte como consequência. Sobre isto afirma o autor do livro da Sabedoria: “Deus criou o ser humano para a incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria natureza; foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo: experimentam-na aqueles que lhe pertencem” (Sb 2,23-24).
Ocorre neste texto uma identificação entre a serpente de Gn 3,1-7 com o diabo (Sb 1,24a; Ap 12,9; 20,2), que Jesus, em plena consciência, venceu nas tentações (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). Contudo, como metáfora, a serpente parece indicar a esperteza do ser humano, que pode ser tomada como positiva: “... sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mt 10,16), mas também pode ser usada indevidamente, contradizendo Deus e sua divina sabedoria. Isto representa o conflito e a tensão que acompanham o ser humano ao longo de toda a sua existência. Somente pela ação redentora do Cordeiro Pascal, que é o Bom Pastor, é possível sair desse dilema e experimentar a plenitude da vida (Jo 10,14).
3. Cordeiro Pascal
Jesus celebrou e instituiu a Eucaristia no contexto da ceia pascal judaica que havia unido dois rituais de passagem, o pastoril, representado na separação de um cordeiro de um ano e sem defeito (Ex 12,1-14; Lv 23,5-8; Dt 16,1-2.5-7), e o agrícola, representado nos sete dias em que se alimentavam de pães ázimos, isto é, sem fermento, lembrando a pressa com a qual deixaram o Egito (Ex 12,15-20; 13,5-10; Nm 28,16-25; Dt 16,3-4.8). Contudo, aos dois rituais é preciso anexar a ressignificação que Jesus deu em Jo 6,22-66 para o dom do maná (Ex 16; Nm 11,4-9), que alimentou o povo durante a sua peregrinação e estadia pelo deserto.
Ao nos concentrarmos, porém, no Cordeiro Pascal, notamos que a comunidade cristã primitiva compreendeu o gesto sacrifical de Jesus na cruz sob essa ótica. Dado singular é que ela aparece declarada duas vezes nos lábios de João Batista. A primeira em Jo 1,29: “No dia seguinte, ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. E a segunda em Jo 1,35-36: “No dia seguinte, João, de novo, se encontrava lá com dois de seus discípulos. Ao ver Jesus que passava, disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus”.
A aceitação e aproximação de Jesus em sua entrega na cruz, como vínculo pascal, surgem tanto pela celebração da Última Ceia como pela releitura que foi feita dos Cantos do Servo Sofredor presentes no livro do profeta Isaías (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-11; 52,13–53,12). Desses, a afirmação contida em Is 53,7 é muito significativa: “Foi maltratado, mas livremente se humilhou e não abriu a boca, como cordeiro foi conduzido ao matadouro. Como ovelha que permanece muda na presença dos tosquiadores ele não abriu a boca”.
A compreensão do gesto sacrifical de Jesus como Cordeiro Pascal resulta evidente na citação da proibição contida em Ex 12,46 e que se encontra em Jo 19,26: “... pois isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura: Nenhum osso lhe será quebrado”.
Com a sua pessoal entrega e deixando-se crucificar, Jesus aboliu, em sua divina Pessoa, todos os sacrifícios da antiga aliança e, em seu Corpo e Sangue, inaugurou e cumpriu a profecia de Jr 31,31-34 sobre a nova e eterna aliança. Por seu mandato, a nova aliança, no seu Corpo e Sangue, se perpetua sobre os nossos altares até a consumação dos tempos.
Essa compreensão aparece devidamente explicitada na Carta aos Hebreus quando afirma: “Tal é precisamente o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, elevado ao mais alto do que os céus. Ele não precisa, como os sumos sacerdotes, oferecer sacrifícios a cada dia, primeiramente por seus pecados, e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. A Lei, com efeito, estabeleceu sumos sacerdotes sujeitos à fraqueza. A palavra do juramento, porém, posterior à Lei, estabeleceu o Filho, tornado perfeito para sempre” (Hb 7,26-28).
Nota-se, claramente, que existe a intenção de ligar, em Jesus, três realidades. Ele é, ao mesmo tempo, Sumo Sacerdote, Vítima Sacrifical e Altar. Então, sobre os nossos altares, em cada celebração eucarística, experimentamos a ação eficaz do único sumo sacerdócio de Jesus exercido por ele mesmo, através dos ministros ordenados, que pronunciam as palavras e consagram as espécies do pão e do vinho: “Tomai e comei, é meu corpo”; “Tomai e bebei, é meu sangue”... “Fazei isto em memória de mim”.
4. Imolado sobre os nossos altares para a vida do mundo
Desde a instituição da Eucaristia por Nosso Senhor Jesus Cristo, na Última Ceia, até os dias atuais, o Santo Sacrifício Redentor não continua apenas sendo repetido sobre os nossos altares, mas é sempre atualizado. Isto quer dizer que, ao longo de quase dois milênios, uma única missa foi e é celebrada como memória do gesto redentor do nosso Salvador até que Ele venha (Parusia), razão pela qual respondemos após a doxologia: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.
Jesus, sob as espécies do pão e do vinho consagrados, é o Cordeiro Pascal que alimenta a sua comunidade de fé até que Ele venha como justo juiz, não para condenar o mundo, mas para que, por ele, seja salvo (Jo 3,17). Por isso, a dignidade do gesto não se limita só ao ambiente em que acontece e aos ritos que são seguidos, mas, em particular às pessoas que dele tomam parte, todos os fiéis sob a presidência do sacerdote que age in persona Christi.
O que acontece sobre os nossos altares permite perceber a nítida relação que existe entre o gesto de Jesus na Última Ceia e o seu principal efeito: a vida comunicada ao mundo. Neste sentido, a celebração de Corpus Christi é para a Igreja e, nela, para cada fiel, a graça de viver a sua fé eucarística, isto é, a certeza da presença real de Jesus Cristo no pão e no vinho, consagrados em forma de adoração pública.
Sobre essa presença, atesta o CatIC 1374: “O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que ela seja "como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos". No santíssimo sacramento da Eucaristia estão "contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo". "Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem 'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se torna presente completo”.
Um testemunho de que a nossa transitoriedade nesta vida é sustentada pela presença e força sacramental do inefável amor de Deus que, em seu Unigênito Filho, se tornou o alimento que nos faz caminhar na vida nova da sua graça. É a vida renovada, capaz de levar aos ambientes eclesiais e sociais a Boa Nova da redenção e da ressurreição de nossas estruturas, que passam a ser orientadas pela obediência da fé por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unção do Espírito Santo para a glória de Deus Pai.
No mundo em que vivemos nos movemos e manifestamos quem somos por palavras e ações, como nos ensina o Papa Francisco na Laudato si’, é nossa “Casa Comum” e necessita experimentar os efeitos contínuos da ação eucarística que produzem em nós gestos concretos de fé, de esperança e de caridade socioeclesial.
É o que também nos ensina o CatIC 1333: “Encontram-se no cerne da celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tomam o Corpo e o Sangue de Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua fazendo, em sua memória, até a sua volta gloriosa, o que Ele fez na véspera de sua paixão: "Tomou o pão..." "Tomou o cálice cheio de vinho..." Ao se tomarem misteriosamente o Corpo e o Sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também a bondade da criação. Assim, no ofertório damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho (Sl 104 [103],13-15), fruto "do trabalho do homem", mas antes "fruto da terra" e "da videira", dons do Criador. A Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que "trouxe pão e vinho" (Gn 14,18), uma prefiguração de sua própria oferta”.
Portanto, não haja dicotomia entre o que falamos e vivemos em nossas comunidades de fé e na sociedade. Cada fiel, em virtude da unção batismal, é chamado ao testemunho que se torna cada vez mais forte e coerente graças à união com Deus, com os irmãos e com a natureza pela Sagrada Eucaristia que nos transforma e vivifica o mundo.
Considerações finais
Às vésperas da comemoração da Independência, na graça de estarmos transcorrendo uma semana dedicada à Sagrada Eucaristia, que nos dá identidade e nos indica a missão, possamos dizer a Deus o nosso SIM, como Maria.
Ao seguir o exemplo da Mãe do nosso Salvador, visto que o seu corpo foi o primeiro sacrário vivo, com ela aprendamos a fazer memória, isto é, a conservar e a meditar em nossos corações o que significa receber o Senhor Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia.
Que Maria nos ensine a oferecer nossos sacrifícios cotidianos em comunhão como Sacrifício Redentor de Cristo, nosso Cordeiro Pascal, imolado sobre os nossos altares para a vida do mundo.
Padre Leonardo Agostini Fernandes - Sacerdote do clero secular da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Capelão da Igreja do Divino Espírito Santo do Estácio de Sá/RJ
Docente do Departamento de Teologia da PUC-Rio
[1] As citações bíblicas foram extraídas da Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2003. Salvo em certos casos, pequenas alterações foram feitas em função de outras possibilidades de tradução. Os grifos em negritos e itálicos são pessoais para realçar certos pontos.
[2] Os escritos paulinos são os primeiros, do ponto de vista cronológico, no que se refere ao cânon do Novo Testamento. Pode-se perceber uma estreita relação entre o objetivo pretendido por Paulo e a ênfase na unidade que se encontra na oração sacerdotal de Jesus em Jo 17. Sem a comunhão e a vida na caridade, máximas expressões da Eucaristia, a unidade ficaria seriamente comprometida e até anulada.
[3]CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição revisada de acordo com o texto oficial em latim. São Paulo: Loyola, 1999.
[4] ALONSO SCHÖKEL, Luis. gōʼēl. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. São Paulo: Paulus,1997, p. 126.
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